quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A Química Verde

A Química Verde 

  • Atualmente, a preocupação com o meio ambiente tem estado presente, constantemente, na vida de boa parte da população mundial. Catástrofes ambientais, naturais ou provocadas pelo homem tem sido destaque nos noticiários mundiais. O atual modelo de desenvolvimento econômico tem contribuído de forma efetiva para o agravamento dos problemas ambientais (MORADILLO & OKI, 2004). 
A questão ecológica mundial ou a preocupação com o meio ambiente surgiu no final da década de 1960 e tomou impulso na década de 1970, desde então tem sido constante a realização de encontros, debates e grandes conferências para a discussão sobre o meio ambiente, mudanças climáticas, poluição, geração de resíduos, ou seja, têm se buscado soluções e novos valores éticos para reger questões sociais, econômicas e ambientais das quais depende o desenvolvimento de vários países.
  • Inserido nos princípios de sustentabilidade está o desenvolvimento da Química com o objetivo de melhorar a qualidade de vida. Porém, o maior desafio é a continuidade dos avanços em pesquisas, diminuindo os danos ao meio ambiente (PRADO, 2003). 
Para Sanseverino (2000), terminologias como tecnologia limpa, processo limpo, síntese limpa e Química Verde, tem se tornado freqüente na literatura dos últimos anos e demonstram uma nova conduta química para o aprimoramento de processos com o objetivo de redução na geração de resíduos e efluentes tóxicos, bem como a menor produção de gases indesejáveis ao meio ambiente.
Para Prado (2003), a Química Verde tem a preocupação com o desenvolvimento de tecnologias e processos capazes de reduzir ou não gerar poluição, ou seja, reduzir o impacto que processos químicos provocam ao meio ambiente, gerando o desenvolvimento econômico e social de forma limpa e sustentável. 
  • O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo sobre a divulgação científica da Química Verde nos últimos dez anos (2000 a 2009) nas publicações da Revista Química Nova da Sociedade Brasileira de Química.
Histórico e Evolução da Química Verde:
  • Em 1991, a agência ambiental norte-americana EPA (“Environmental Protection Agency”), lançou o programa “Rotas Sintéticas Alternativas para Prevenção da Poluição”, onde propôs financiar projetos de pesquisa que tivessem como objetivo primordial a prevenção da poluição em suas rotas sintéticas, caracterizando desta maneira o surgimento da química verde (LENARDÃO, 2003). 
Em 1993, a Itália criou o Consórcio Universitário Química para o Ambiente (INCA) que visava reunir grupos acadêmicos envolvidos com química e meio ambiente a fim de desenvolver pesquisas na área de prevenção da poluição, por meio de pesquisas onde tentava se desenvolver reações, processos e produtos mais limpos.
  • Em 1995, o governo dos Estados Unidos institui um programa com o objetivo de premiar inovações tecnológicas aplicadas à indústria que pudessem reduzir a produção de resíduos em diferentes setores da produção industrial. O “The Presidencial Green Chemistry Challenge” ou apenas (“PGCC”), premia anualmente trabalhos em cinco categorias: acadêmico, pequenos negócios, rotas sintéticas alternativas, condições alternativas de reação e desenho de produtos químicos mais seguros (LENARDÃO, 2003). 
No ano de 1997 foi criado o “Green Chemistry Institute” (GCI), que atualmente atua em parceria com a Sociedade Americana de Química (“American Chemical Society, ACS”), ainda em 1997, em setembro, a IUPAC (“International Union for Pure and Applied Chemistry”), promove a primeira conferência internacional em “Green Chemistry”. Em Julho de 2001, em Veneza, aprova a criação do Sub-Comitê Interdivisional de “Green Chemistry” e em setembro do mesmo ano realiza o workshop sobre educação em química verde.
  • Durante os anos de 2000 e 2001, a IUPAC publicou inúmeros artigos dedicados à química verde, o que acabou por estimular que outros países como a Inglaterra, por meio da Sociedade Real de Química Britânica, lançasse um periódico bimestral que publica artigos que tratam sobre a utilização de processos e tecnologias limpas. Ainda no ano de 2001, ocorreu também na Universidade do Colorado (EUA) a conferência “CHEMRAWN XIV” (The Chemical Research Apllied to World Needs) e teve como tema principal a busca por produtos e processos benignos ao meio ambiente (LENARDÃO, 2003) 
No Brasil, os conceitos de química verde começam a ser difundidos pelo grupo de Síntese Orgânica Limpa do Instituto de Química e Geociências da Universidade Federal de Pelotas no Rio Grande do Sul, onde a criação de uma página na internet (www.ufpel.tche.br/iqg/wwverde) disponibiliza diversas informações sobre a química verde.
  • No início do ano de 2006, três docentes do Instituto de Química da USP (Prof. Dr. Reinaldo Camino Bazito, Prof. Dr. Renato Sanches Freire e o Prof. Dr. Leandro Helgueira Andrade) criaram a Escola de Química Verde. Em janeiro de 2007 a Universidade de São Paulo promove por meio do IQ-USP a primeira Escola de Verão em Química Verde, em novembro do mesmo ano ocorre o primeiro workshop brasileiro sobre Química Verde em Fortaleza (CE), onde foi anunciada a criação da Rede Brasileira de Química Verde, que tem por objetivo ser o elemento institucional de promoção das inovações tecnológicas para empresas nacionais com apoio da comunidade acadêmica e agências governamentais (CORRÊA & ZUIN, 2009).
Os Doze Princípios da Química Verde:
  • A Química Verde é regida por doze princípios definidos por inúmeros autores como estratégias que devem ser levadas em consideração para que se desenvolvam processos industriais sustentáveis.
Primeiro Princípio: 
Prevenção:
  • O Princípio da prevenção estabelece que é muito mais viável prevenir a formação de resíduos do que tratá-los, após a sua geração. Segundo o manual: “Implementação de um Programa de Prevenção à Poluição”:
A prevenção à poluição refere-se a qualquer prática, processo, técnica e tecnologia que visem à redução ou eliminação em volume, concentração e toxicidade dos poluentes na fonte geradora. Inclui também modificações nos equipamentos, processos ou procedimentos, reformulações ou replanejamento de produtos, substituição de matérias-primas e eliminação de substâncias tóxicas (CETESB, 2002, p. 03).
  • As medidas de prevenção à poluição podem oferecer tanto um ganho ecológico, quanto econômico para as empresas que as implantam. É mais barato realizar melhoras operacionais, como manutenção preventiva, controle de vazamentos e derramamentos, controle de estoque, substituição de produtos por outros menos tóxicos, substituição ou alteração de equipamentos por outros mais eficientes e menos poluentes do que remediar compostos tóxicos (CETESB, 2002).
Segundo Princípio: 
Economia de Átomos:
  • A economia de átomos é a maximização da incorporação dos átomos dos reagentes nos produtos. Uma reação química ideal deve ser não somente seletiva, mas primordialmente uma simples adição na qual qualquer outro reagente envolvido participa em quantidades catalíticas (DUPONT, 2000). Portanto, a reação ideal seria aquela em que toda a massa dos reagentes está contida no produto. Desta maneira, teríamos um aproveitamento das matérias-primas e, consequentemente, seriam gerados menos resíduos (TROST apud SILVA, 2005).
Porém, a maioria dos produtos químicos não podem ser obtidos por meio de reações que obedeçam ao princípio da economia atômica, pois existe uma grande dificuldade em se atingir rendimentos quantitativos nas reações, além disso gerar um número limitado de resíduos requer inúmeros estudos na área, além de alta tecnologia nos processos químicos.

Terceiro Princípio:
Reações com Compostos de Menor Toxidade:
  • As reações com compostos que apresentam menor toxicidade ou simplesmente a síntese segura estabelece que deva se desenvolver metodologias sintéticas que substituam compostos de alta toxicidade por compostos de menor toxicidade, fazendo com que desta forma sejam gerados subprodutos com pouco ou nenhum risco à saúde humana e de contaminação ao meio ambiente.
Quarto Principio: 
Desenvolvimento de Compostos Seguros:
  • O quarto princípio pode ser considerado complementar do terceiro, já que determina o desenvolvimento de novos produtos levando em conta a toxicidade dos reagentes envolvidos no processo e os possíveis danos ao ambiente provocados pelos produtos gerados (PRADO, 2003).
Quinto Princípio: 
Diminuição do uso de Solventes e Auxiliares:
  • Os solventes possuem um papel de grande importância na indústria e apresentam uma enorme variedade de aplicações, tais como: processos de extração, matérias primas de outros produtos, propelentes de aerossóis e indústrias de tintas e cosméticos (SANSEVERINO, 2000). Porém, os solventes e auxiliares representam os principais problemas da indústria química, relacionados à geração de resíduos, transporte, manuseio e descarte, pois apresentam aspectos que demandam cuidado específico e capital. O quinto princípio da Química Verde estabelece que a utilização de solventes e auxiliares deva ser evitada quando possível ou usadas inocuamente no processo (PRADO, 2003).
Sexto Princípio: 
Eficiência Energética:
  • Uma reação ideal, em termos de eficiência energética é aquela que ocorre sob pressão e temperatura ambientes, ou seja, diminuir a energia gasta durante um processo químico pode representar um ganho econômico e principalmente ambiental (CORRÊA & ZUIN, 2009). O sexto princípio da Química Verde aborda aspectos como a diminuição do consumo energético em processos químicos, desenvolvendo novas reações que possam ser efetuadas de maneira a minimizar o consumo de energia (LENARDÃO, 2003). Uma opção é substituir, por exemplo, o aquecimento convencional por fontes de energia alternativas, como as microondas e o ultrassom, diminuindo desta forma a utilização de combustíveis fósseis que são fontes não renováveis e que causam muito mais danos ao meio ambiente.
Sétimo Princípio:
Uso de Substâncias Renováveis:
  • O sétimo princípio alerta para a necessidade da utilização de matérias primas de fontes renováveis. Substâncias derivadas de plantas e outras fontes biológicas renováveis ou recicladas devem ser utilizadas, sempre que possível. Um exemplo bastante atual da utilização de matérias primas renováveis é a produção do biodiesel. O biocombustível é obtido através da alcoólise de óleos vegetais e pode ser considerado como um ganho ambiental, pois muitos geradores de energia atualmente movidos por combustíveis derivados do petróleo poderão ser substituídos por esse combustível verde (LENARDÃO, 2003).
Oitavo Princípio:
Evitar a Formação de Derivados:
  • A utilização de reagentes bloqueadores, de proteção ou desproteção, modificadores temporários e purificadores deverá ser minimizada ou evitada ao máximo durante os processos químicos, já que tais passos reacionais requerem uma quantidade muito grande de reagentes adicionais o que consequentemente ocasiona uma geração maior de subprodutos e derivados (CORRÊA & ZUIN, 2009).
Nono Princípio:
Catálise:
  • Reações catalíticas são superiores a reações estequiométricas. Os reagentes catalíticos, em geral, são altamente seletivos, eficazes e apresentam um grande ganho econômico e ambiental já que evitam a formação de grandes quantidades de resíduos, além de permitirem reutilização por várias vezes (LENARDÃO, 2003). A utilização de catalisadores apresenta um dos pilares da Química Verde, pois além de reduzir consideravelmente a quantidade de reagentes permite o uso de matérias primas renováveis, portanto menos agressivas ao meio ambiente.
Décimo Princípio:
Desenvolvimento de Compostos Degradáveis:
  • O décimo princípio trata do desenvolvimento de produtos químicos que deverão ser produzidos com o objetivo de serem facilmente degradados a produtos inócuos, logo após cumprirem a sua função (PRADO, 2003). Portanto, as indústrias devem priorizar o desenvolvimento de produtos biodegradáveis que sejam mais seguros, menos tóxicos, mais seletivos e eficientes, estes processos vêm sendo verificados constantemente na indústria de pesticidas, corantes, polímeros e surfactantes.
Décimo Primeiro Princípio:
Analise em Tempo Real
  • Para Prado (2003), as metodologias analíticas devem ser desenvolvidas para que permitam o monitoramento do processo em tempo real, para que assim possam controlar a formação de compostos tóxicos. Vale ressaltar dois aspectos importantes deste princípio que tratam do tempo necessário para que haja uma reação e o material necessário.
Os métodos de análise devem ser rápidos, robustos, precisos e baratos, além disso, no decorrer do processo químico devem ser aplicadas técnicas analíticas em que os reagentes são liberados na quantidade e tempo corretos, evitando desta maneira desperdício e o conseqüente prejuízo ambiental. (CORRÊA & ZUIN, 2009).

Décimo Segundo Princípio:
Química Segura para a Prevenção de Acidentes:
  • Para o desenvolvimento de processos seguros, deve se levar em consideração aspectos como a escolha da substância utilizada no processo de forma a minimizar os riscos de acidentes químicos, vazamentos, explosões e incêndios. Além disso, outros aspectos devem ser levados em consideração como: toxicidade explosividade, corrosividade e inflamabilidade de solventes e auxiliares (SANSEVERINO, 2000).

A Química Verde 
Metodologia:
  • O presente estudo objetivou a realização de uma pesquisa bibliográfica utilizando artigos publicados na área da Química Verde e aplicações entre anos de 2000 a 2009, na revista Química Nova, órgão oficial de divulgação da Sociedade Brasileira de Química. A pesquisa foi desenvolvida entre os meses de Outubro e Dezembro de 2009 em quatro etapas.
A primeira etapa faz referência à seleção da revista pesquisada. A revista Química Nova foi selecionada por ser uma revista bastante acessada, lida e muito utilizada para transmitir idéias, resultados de pesquisa, experiências de ensino e textos de difusão. Publicada pela primeira vez em 1978, a Química Nova firmou-se ao longo dos anos como uma das revistas científicas brasileiras mais importantes, extrapolando as fronteiras nacionais. A Química Nova publica artigos com resultados originais de pesquisa, trabalhos de revisão, de novos métodos ou técnicas, de educação, assuntos gerais e sobre história da Química (PARDINI et al., 2007). Os artigos utilizados estão disponíveis na biblioteca online do portal da Sociedade Brasileira de Química.
  • A segunda etapa consta da seleção dos artigos. Os artigos foram selecionados dentro da temática da Química Verde, nas publicações selecionadas constavam aplicações, adaptações de reações, propostas de metodologias verdes, aplicações de equipamentos e experimentos e pesquisas concluídas na área, ou seja, o conceito sustentável sugerido pela Química Verde era o foco principal. Além disso, foram levados em consideração os 12 Princípios da QV para a seleção dos mesmos.
A terceira etapa consta da análise dos artigos. Os artigos das dez edições da revista foram analisados utilizando três critérios: a divisão por área (Química Analítica, Química Orgânica, Físico-Química), o estudo por aplicação (Biocatálise, Solventes Alternativos, Energia Alternativa) e por número de publicações por ano, ou seja, a pesquisa desenvolvida é qualitativa e quantitativa. A quarta e última etapa no desenvolvimento da pesquisa, consta da construção de gráficos e tabelas para análise e discussão dos resultados.
  • A análise dos artigos da revista Química Nova mostrou que foram publicados entre os anos de 2000 a 2009 um total de 119 artigos que continham aplicações, propostas de metodologias, revisões de literatura e pesquisas concluídas na área da Química Verde.
Em relação às áreas de concentração das pesquisas, o estudo mostrou que as principais áreas de aplicação da Química Verde são a Química Orgânica com um percentual de 30,20% de artigos publicados, Química Analítica com 22,70% e Química Ambiental correspondendo a 16,80% de trabalhos publicados.
  • A explicação para a grande quantidade de publicações estarem concentradas na área de Química Orgânica está relacionada aos grandes avanços de pesquisas em síntese orgânica limpa, utilização de solventes alternativos em substituição aos tradicionais e a utilização de energia de ultrassom e microondas em reações de síntese.
Em relação às pesquisas em síntese orgânica limpa, Sanseverino (2000) afirma que para reduzir a quantidade de resíduos gerados em inúmeras reações são necessários seis princípios básicos que são: Evitar a geração, minimizar, reciclar, reutilizar, dar tratamento e dispor o resíduo de forma adequada, ou seja, realizar o que a Química Verde determina como prevenção à poluição.
  • Além disso, diminuir a utilização de solventes ou propor a utilização de solventes alternativos apresenta uma das aplicações mais importantes da Química Verde, juntamente com a utilização de energia de ultrassom e microondas em substituição das fontes de aquecimento tradicionais.
A Química Analítica tradicional demanda uma grande quantidade de energia e solventes utilizados em etapas de preparo de amostras, o que favorece a geração de efluentes tóxicos e prejudiciais ao meio ambiente. Portanto, a pesquisa desenvolvida confirma uma tendência de se realizar análises químicas em um tempo reduzido, com um número menor de reagentes sendo utilizados e uma demanda energética também menor, fato que justifica o índice considerável de publicações na área.
  • A Química Ambiental apresentou artigos relacionados à gestão e gerenciamento de resíduos, além de propostas de tratamento e degradação de efluentes. A Físico Química também apresentou porcentagens significativas em relação ao total de publicações, seguida da Química Verde que apresentou artigos relacionados aos princípios e histórico, Educação em Química, que trouxe propostas de aplicações da Química Verde em sala de aula, Biotecnologia e Química Inorgânica.
Em relação aos conteúdos abordados nos artigos, ou seja, as aplicações da Química Verde destacam-se a Biocatálise que apresenta um percentual de 13,45% e confirma uma tendência de desenvolvimento de pesquisas realizadas em vários ramos da química como afirmou Conti (2001). O estudo sobre o Biodiesel e suas aplicações também aparece em destaque no estudo apresentando um percentual de 9,20% seguido da utilização de microondas como fonte de energia alternativa com 8,40% do total de artigos.
  • Outra aplicação da Química Verde bastante explorada nas publicações da revista Química Nova é a criação e utilização de Biossensores, principalmente aplicada em processos analíticos que necessitam de precisão e rapidez nos resultados, além de ser uma estratégia eficiente e sustentável em comparação aos processos analíticos tradicionais. Os resultados da análise por aplicação encontram-se a seguir:
Aplicações da Química Verde Número de Publicações Percentual
  • Microondas 10 8,40%
  • Células à combustível 04 3,40%
  • Biodiesel 11 9,20%
  • Ultrassom 04 3,40%
  • Biocatálise/Biotransformação 16 13,45%
  • Gestão/Gerenciamento/Tratamento de Resíduos Químicos 19 16%
  • Biossensores 09 7,56%
  • Biopolímeros 05 4,20%
  • Princípios de Química Verde 07 5,83%
  • Fluidos Supercríticos 05 4,20%
  • Reações Orgânicas em Meio Aquosos 01 0,84%
  • Líquidos Iônicos 02 1,68%
  • Aplicação de Extratos Naturais em Processos Analíticos 03 2,50%
  • Biodegradação/Biorremediação 08 6,72%
  • Processos Oxidativos Avançados 04 3,40%
  • Química Analítica de Processos 01 0,84%
  • Enzimas em Síntese Orgânica 02 1,68%
  • Uso de Recursos Naturais e Biomassa 03 2,50%
  • Remediação de Poluentes utilizando
  • Processos e Materiais Alternativos
Durante a realização da pesquisa, pode-se notar que uma das áreas da Química Verde mais exploradas nos artigos é a Gestão, Gerenciamento e Tratamento de resíduos químicos industriais que apresentou um total de 19 artigos publicados o que representa 16% do total encontrado, porém, além de tratar e gerenciar a produção de resíduos, a Química Verde traz a proposta de evitar a formação de efluentes tóxicos e nocivos ao meio ambiente. Outra aplicação que precisa ser destacada é a Biorremediação/Biodegradação de poluentes que apresenta uma proposta de tratar os efluentes e os eliminar do meio ambiente utilizando enzimas produzidas por fungos e outros microorganismos.
  • Em relação ao número de publicações por ano, observa-se que de 2000 a 2003, o número de artigos variou entre 7 e 10, porém a partir de 2004 nota-se uma curva ascendente em relação à quantidade de trabalhos que são publicados.
O gráfico acima apenas confirma uma tendência natural que é de crescimento nas pesquisas na área da Química Verde. Os grandes problemas ambientais atuais como o aquecimento global e o consequente desequilíbrio climático têm sido assuntos recorrentes em jornais e sites de todo o planeta.
  • A cada dia que passa a natureza apresenta formas diferentes de atentar ao homem de seu desgaste, o que estimula os estudiosos a buscarem alternativas menos nocivas de manter o desenvolvimento econômico, respeitando os recursos naturais e tentando obter uma sustentabilidade nos processos industriais. Portanto, esta busca por processos e tecnologias limpas justifica o crescimento de pesquisas em Química Verde no decorrer dos anos.
Outras Considerações:
  • Com o propósito principal de demonstrar o crescimento da preocupação com o meio ambiente e possibilidades de mudança de mentalidade, tomando por base um estudo sobre o crescimento da divulgação científica da Química Verde em artigos da Revista Química Nova, pode-se concluir a partir da análise e discussão dos resultados que muito ainda precisa ser feito na área de pesquisa em questão, porém o que se observa é um crescimento constante no número de estudos sobre estratégias sustentáveis de desenvolver a pesquisa em todas as áreas da Química.
A geração de resíduos químicos, os constantes problemas ambientais, a questão dos combustíveis não-renováveis nos atentam a refletir sobre as novas possibilidades de produção limpa, redução da poluição, recuperação de áreas contaminadas utilizando processos que não agridam ao meio ambiente, tampouco que utilizem uma grande quantidade de energia. O desenvolvimento de novos produtos biodegradáveis, a utilização de solventes alternativos, a utilização de fontes de energia renovável também contribuem de forma positiva nessa nova postura global ancorada pela Química Verde.
  • Portanto, o desenvolvimento de metodologias e processos químicos que utilizam como base os princípios da Química Verde precisam ser continuados e estimulados por instituições de Pesquisa e Ensino e empresas interessadas em ampliar sua produção desenvolvendo novas técnicas, substituindo reagentes, reduzindo o consumo energético, diminuindo a geração de efluentes, eliminando solventes e, portanto, desenvolvendo produtos de forma menos agressiva e contribuindo de forma efetiva para a preservação do meio ambiente.
As Instituições de Ensino necessitam ser pioneiras na divulgação da Química Verde, pois a formação de profissionais cada vez mais conscientes dos problemas ambientais e das possíveis soluções, estimulará procedimentos mais limpos, uma menor geração de efluentes, um ganho energético e econômico, a criação de novas metodologias analíticas, a redução da utilização de solventes orgânicos, ou seja, ser adquirida uma postura de prevenção à poluição o que por sua vez gera procedimentos químicos seguros, limpos e em consonância com a preservação ambiental.

A Química Verde

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Produção Mais Limpa: Um passo para a Inovação

Produção Mais Limpa: Um Impulso Para a Inovação 

  • A intensificação da industrialização, juntamente com a explosão demográfica, a produção e o consumo em massa, a urbanização e a modernização agrícola são alguns aspectos da evolução histórica das sociedades humanas que geraram desenvolvimento econômico, mas que resultaram numa degradação ambiental sem precedentes.
Com o aumento das pressões governamentais e da sociedade, passou-se a exigir das empresas medidas de controle sobre os seus impactos ambientais. Houve uma grande evolução nas últimas décadas, o que fez com que as empresas implantassem sistemas de gestão ambiental em suas plantas e se adequassem às novas normas e legislações. 
  • Apesar destes avanços, a preocupação com o meio ambiente no meio empresarial é ainda, em muitos casos, vista como uma obrigação legal, um custo para a empresa. São poucas as empresas que percebem a preocupação com o meio ambiente como uma oportunidade de inovar, de reduzir custos e tornar a empresa mais competitiva.
Visando demonstrar que é possível proteger o meio ambiente e obter ganhos econômicos, a UNIDO/UNEP fomentaram o surgimento de Centros Nacionais de Produção Limpa em países em desenvolvimento, os quais têm a função de formar pessoas e de implantar o programa de Produção Mais Limpa (PML) nas empresas, em diversos setores de atuação, tais como indústrias, agricultura, serviços, etc. 
  • No Brasil, em julho de 1995, foi escolhido o SENAI-RS, para a criação do Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL), com sede em Porto Alegre. Este Centro passou a utilizar a metodologia Ecoprofit (Ecological Project For Integrated Environmental Technologies), desenvolvida na Áustria, que pelo controle do fluxo de material e energia, visa identificar os pontos geradores de desperdício para eliminá-los ou reduzi-los. A atuação está focada na prevenção da poluição.
O CNTL/SENAI-RS passou a divulgar o conceito de Produção Mais Limpa no meio empresarial e implantou o programa na empresa investigada, segundo a metodologia Ecoprofit. No item 4, deste artigo, é detalhada uma oportunidade de melhoria na cabine de pintura de uma empresa do setor metal-mecânico e as inovações sugeridas e implantadas pelos colaboradores da empresa. Estas inovações proporcionaram ganhos econômicos e ambientais.

Conceituando e Diferenciando a Produção Mais Limpa:
  • O leitor certamente já deve ter se confrontado com termos como “Produção Mais Limpa”, “Produção Limpa”, ”Prevenção a Poluição”, “Tecnologias Limpas”, “Tecnologias Mais Limpas”, “Tecnologias Fim de Tubo”, etc. 
Existe diferença entre estes termos? Qual o significado de cada um? Nesta seção serão apresentados alguns conceitos utilizados na literatura. Os autores fazem uma crítica e procuram esclarecer a “confusão” estabelecida com a utilização de termos que, conceitualmente são diferentes, mas que na prática, são empregados como sinônimos.
  • Produção mais limpa (Cleaner Production): conceito definido pela UNIDO/UNEP que estimula atitudes voluntárias por parte das indústrias, independente do alcance da legislação ambiental. Segundo a UNIDO/UNEP, Produção Mais Limpa (PML ou P+L) é a aplicação continuada de uma estratégia ambiental preventiva e integrada aos processos, produtos e serviços, a fim de aumentar a ecoeficiência e reduzir os riscos para o homem e para meio ambiente. Aplica-se a processos produtivos, a produtos e a serviços.
Prevenção da Poluição (Polution Prevention): outro conceito bastante semelhante a PML (termo mais comumente utilizado na Europa) é o da Prevenção da Poluição (termo mais comumente utilizado nos EUA), também conhecido como “PP” ou “P2”. No manual da Environmental Protection Agency - US (EPA - Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), intitulado Waste Minimization Opportunity Assesment Manual (1988), 
  • Prevenção à Poluição refere-se a qualquer prática, processo, técnica ou tecnologia que vise a redução ou eliminação em volume, concentração e/ou toxicidade dos resíduos na fonte geradora. É uma estratégia de uso de material, processos e gerenciamento que reduz ou elimina a criação de poluentes e resíduos na fonte – prioritário a reciclagem, tratamento ou disposição. 
É uma abordagem de gestão ambiental que enfatiza a eliminação e/ou redução de resíduos na fonte de geração, envolvendo o uso ótimo dos recursos naturais. A CETESB (1998) também elaborou um “Manual de Implementação de um Programa de Prevenção à Poluição”, no qual sugere ações que devem obedecer alguns passos que asseguram a prevenção da poluição.
  • Produção limpa (Clean Production): este conceito foi proposto pela organização ambientalista não-governamental Greenpeace, em 1990, para representar o sistema de produção industrial que levasse em conta a auto-sustentabilidade de fontes renováveis de matérias-primas; a redução do consumo de água e energia; a prevenção de geração de resíduos tóxicos e perigosos na fonte de produção; a reutilização e reaproveitamento de materiais por reciclagem de maneira atóxica e energia-eficiente (consumo energético eficiente e eficaz); a geração de produtos de vida útil longa, seguros e atóxicos, para o homem e o meio ambiente, cujos restos (inclusive as embalagens), tenham reaproveitamento atóxico e energia-eficiente; e a reciclagem (na planta industrial ou fora dela), de maneira atóxica e eficiente, como substitutivo para as opções de manejo ambiental representadas por incineração e despejos em aterros. Pode-se verificar que existem diferenças entre os conceitos de “Produção Mais Limpa” e “Produção Limpa” no que se refere à concepção de processos e produto,
Processo em Produção Mais Limpa Processo em Produção Limpa:
  • Redução da toxicidade das emissões e resíduos
  • Atóxico
  • Conservação de materiais, água e energia Energia-eficiente
  • Eliminação de materiais tóxicos e perigosos Materiais renováveis
  • Produto em Produção Mais Limpa Produto em Produção Limpa
  • Redução do impacto ambiental e para saúde humana durante a:
  • Extração
  • Manufatura
  • Consumo/uso
  • Disposição/descarte final
Deve apresentar características como:
  • Durável e reutilizável;
  • Fácil de desmontar e remontar;
  • Mínimo de embalagem;
  • Utilização de materiais reciclados e recicláveis
O leitor pode perceber que, ao contrário do que muitos imaginam, conceitualmente, a “Produção Limpa” é mais limpa do que a “Produção Mais Limpa”, ou seja, o conceito proposto pelo Greenpeace (Produção Limpa) é mais restritivo do que o conceito utilizado pela UNIDO/UNEP (Produção Mais Limpa). 
  • Enquanto a Produção Limpa propõe produtos atóxicos e o uso de fontes de energia renováveis, a Produção Mais Limpa estimula a redução da toxidade e o uso mais eficiente da energia. A UNIDO/UNEP compara situações e define como Produção Mais Limpa a que apresentar menor consumo de matéria-prima e energia. 
Na prática, a grande maioria das empresas implantam PML segundo o conceito da UNIDO/UNEP.
  • Tecnologias limpas (Clean Technologies): É o conceito utilizado para designar a tecnologia que não polui o meio ambiente. Geralmente é utilizada como sinônimo de Tecnologias Mais Limpas ou de Produção Mais Limpa.
  • Tecnologias Mais Limpas (Cleaner Tecnologies): Este conceito é definido como um conjunto de soluções que começam a ser estabelecidas e disseminadas, por sua ampla utilização, a fim de prevenir e resolver problemas ambientais (Christie, Rolfe e Legard, 1995). Elas seguem o princípio de proteger e ou conservar o meio ambiente, evitando o desperdício de recursos e a degradação ambiental, almejando o desenvolvimento sustentável. Fundamentalmente, as Tecnologias Mais Limpas dependem de novas maneiras de pensar e agir sobre os processos, produtos, serviços e formas gerenciais em uma abordagem mais holística.
  • Tecnologias Fim de Tubo (End-of-Pipe Technologies): são as tecnologias utilizadas para o tratamento, minimização e inertização de resíduos, efluentes e emissões. Estas tecnologias são muito utilizadas nas empresas. Caracterizam-se como Tecnologias Fim de Tubo os filtros de emissões atmosféricas, as estações de tratamento de efluentes líquido (ETE), as tecnologias de tratamento de resíduos sólidos. 
Diferentemente da Produção Mais Limpa, que atua na prevenção da poluição, as Tecnologias Fim de Tubo atuam visando remediar os efeitos da produção, ou seja, depois que a poluição foi gerada no processo produtivo.
  • Na opinião dos autores, a diferença entre “Tecnologia Limpa” e “Tecnologia Mais Limpa” é semelhante ao caso da PL e PML. Tecnologias Limpas são metas que devem ser perseguidas, mas difíceis de serem atingidas na prática, pois sempre haverá algum tipo de impacto ambiental, o que fará com esta tecnologia não seja totalmente limpa. Já as Tecnologias Mais Limpas são tecnologias que causam menor impacto do que outra(s) tecnologia(s) com a(s) qual(is) se está comparando.
O uso inadequado dos conceitos resulta, em parte, da abrangência dada a estes conceitos por determinados autores. Os autores deste artigo propõem o uso de termos que expressem o propósito direto do conceito. Seguindo este propósito, os conceitos seriam reduzidos a:
  • Produção Mais Limpa: Prevenção a Poluição: Técnicas utilizadas para prevenir a geração de resíduos, efluentes e emissões. Trata-se de uma comparação entre duas ou mais formas de produção. A implantação das técnicas de PML deve sensibilizar e mobilizar toda a empresa, e não apenas o setor de produção.
  • Produção Limpa: Sistema de produção que não causa impacto ambiental. Trata-se de uma meta a ser perseguida, mas que não será atingida na sua plenitude, pois sempre haverá algum tipo de impacto.
  • Tecnologia Mais Limpa: Tecnologias que causam menor impacto ambiental, quando comparada com outra(s) tecnologia(s).
  • Tecnologia Limpa: Tecnologia que não causa impacto ambiental. Da mesma forma que no caso da Produção Limpa, trata-se de uma meta a ser perseguida.
Tecnologia Fim de Tubo: São as tecnologias utilizadas para remediar os impactos ambientais decorrentes dos processos produtivos. Visam evitar que a poluição gerada seja diluída no meio ambiente.
  • Esta precisão nos conceitos, evita o uso inadequado dos mesmos, bem como evita a “promiscuidade” conceitual que ocorre entre estes, e também com outros conceitos como ecodesign, ecoeficiência, desenvolvimento sustentável, etc.
Vantagem competitiva e a economia das organizações:
  • A produção mais limpa, no sentido proposto pelos autores, pode alterar as ineficiências com processos internos, modificando sua posição competitiva.
Historicamente, as teorias de gestão ignoram as limitações do ambiente natural. A visão da firma sob a teoria dos recursos internos ou resource-based view é uma proposta para aliar três estratégias interconectadas: a prevenção da poluição, a liderança de um produto e o desenvolvimento sustentável. É com base nessas proposições que este artigo conduz a análise da produção mais limpa dentro da economia das organizações.
  • Nas últimas décadas, têm havido debates sobre a importância relativa das capacidades internas das empresas (Galbraith & Kazanjian; Peters & Waterman; Prahalad & Hamel, apud Hart, 1986) e os fatores ambientais para a sustentabilidade da vantagem competitiva, ou seja, a interação dos fatores internos e externos sendo cruciais para o sucesso competitivo. Por exemplo, para Porter (apud Hart 1986) são dois os aspectos mais importantes para a vantagem competitiva: a empresa ter baixos custos e um alto volume de vendas.
Outros pesquisadores (Robinson, Urban et al., Golder e Tellis apud Shankar et. al, 1998), já relacionam a vantagem competitiva às decisões em relação ao tempo de entrada no mercado (movimentos cedo ou tardio) e o nível de comprometimento (entrar no mercado em larga escala ou com inovações incrementais), gerando novos padrões de produtos ou obtendo preferências em relação às matérias-primas, capacidade de produção ou consumidores. Esses fatores podem habilitar uma empresa a focar-se fortemente e dominar um nicho particular no mercado, com baixos custos ou produtos diferenciados, ou ambos (Ghemawat, Porter apud Hart, 1986).
  • Porém, o mais importante é a competição para o futuro, enfatizada por Hamel e Prahalad (1989, 1994), na qual a empresa precisa se preocupar não somente com a lucratividade no presente e o crescimento em médio prazo, mas também com a sua posição no futuro e a vantagem competitiva. Essa visão exige uma estratégia explícita sobre como a firma irá competir quando a estratégia atual for copiada ou se tornar obsoleta. É um processo de inovação constante.
Sob este enfoque, a visão da teoria dos recursos internos acredita que a vantagem competitiva pode ser sustentada somente se as capacidades que criam as vantagens são apoiadas por recursos que não podem ser facilmente copiados pelos competidores. 
  • Em outras palavras, os recursos das firmas devem aumentar as “barreiras para imitação” (Rumelt, 1984). Além disso, os recursos são a base única de análise e incluem os aspectos físicos e financeiros tão bem como as habilidades dos empregados e dos processos organizacionais.
Para a produção mais limpa, talvez, o mais importante seja as habilidades básicas e o conhecimento tácito das empresas. São aspectos invisíveis baseados no learning-bydoing, vistos como difíceis de reproduzir, pautados na experiência acumulada das pessoas e seu refinamento com a prática, enfatizados na teoria dos recursos internos.
  • Conforme Hart (1986), fatores como crescimento populacional e aumento nas atividades de produção das empresas geram um excesso no uso dos recursos naturais e na degradação do meio ambiente (Commoner, Meadows & Randers, 
Schmidheiny apud Hart, 1986), os quais apresentam um desafio sem precedentes para os próximos anos: a mudança na natureza das atividades econômicas ou o perigo de riscos irreversíveis ao sistema ecológico do planeta. As empresas serão desafiadas, nas próximas décadas, a criar novos conceitos de estratégia e a base para obtenção da vantagem competitiva estará enraizada no aumento de um grupo de capacidades emergentes tais como redução de resíduos, design de produtos e cooperação tecnológica (Gladwin, 1992; Hart, 1994; Kleiner, 1991; Schmidheiny, 1992).
  • Para a teoria dos recursos internos tornar-se relevante, deverá haver a internalização desses desafios criados pelo ambiente natural, abraçando a idéia da racionalidade ambiental, orientando os recursos e as capacidades como uma fonte sustentável de vantagem competitiva.
Benefícios e barreiras para investir em produção mais limpa:
  • Como qualquer investimento, a decisão de investir em produção mais limpa depende da relação custo-benefício. Sem dúvida, ao comparar as mudanças que são geradas na estrutura dos custos totais, quando se decide investir em produção mais limpa, têm-se que, com o tempo, os custos diminuem significativamente, devido aos benefícios gerados a partir do aumento da eficiência dos processos e dos ganhos, no consumo de matérias-primas e energia e na diminuição de resíduos e emissões contaminantes.
Os programas de produção mais limpa se focalizam no potencial de ganhos diretos no mesmo processo de produção e de ganho indireto pela eliminação de custos associados com o tratamento e a disposição final de resíduos, desde a fonte, ao menor custo, e com períodos curtos de amortização dos investimentos.
  • Existe uma grande relutância para a prática de produção mais limpa. Os maiores obstáculos ocorrem em função da resistência à mudança; da concepção errônea (falta de informação sobre o programa e a importância dada ao meio ambiente); a não existência de políticas nacionais que dêem suporte às atividades de produção limpa; barreiras econômicas (alocação incorreta dos custos ambientais e investimentos) e barreiras técnicas (novas tecnologias).
Segundo a UNIDO/UNEP, as empresas ainda acreditam que sempre necessitariam de novas tecnologias para a implantação de produção mais limpa, quando na realidade, em aproximadamente 50% da poluição gerada em vários países, poderia ser evitada com a melhoria em práticas de operação e mudanças simples em processos.
  • Também já foi verificado que toda vez que houve uma legislação obrigando as empresas a mudarem seus processos de produção ou serviços, houve uma maior eficiência e menor custo de produção.

Produção Mais Limpa: Um Impulso Para a Inovação

O estudo de caso:
  • O estudo de caso abaixo descrito foi implantando em 1998, pelo CNTL, em uma empresa de grande porte que está imbuída da preocupação com o meio ambiente, que possui Sistema de Gerenciamento Ambiental – SGA, Sistema de Gestão da Qualidade e é certificada pelos critérios da ISO-9001 e ISO-14001, ambas realizadas pelo órgão internacional certificador BVQI (Bureau Veritas Quality International).
Com a implantação do SGA, a empresa avaliou várias atividades executadas por empregados e prestadores de serviços, identificando 1177 impactos ambientais adversos e benéficos, tanto em situações normais de processo como nas anormais e de risco, definindo objetivos, metas e programas para a gestão ambiental. Foram, ainda, desenvolvidos programas de educação ambiental envolvendo empregados, clientes e fornecedores, além de planos de ação em casos de emergência.
  • A produção mais limpa foi implantada em toda a empresa, tendo sido escolhido para o estudo de caso um dos setores considerado mais crítico, o setor de pintura, mais especificamente uma das cabines de pintura.
Nome do estudo de caso: 
  • Alteração na pressão de ar das pistolas de pintura da cabine,m implantado em junho de 1998.
Descrição do problema: 
  • Analisando o sistema e as regulagens utilizadas na cabine de pintura e comparando-os com as informações disponibilizadas pelo fabricante do equipamento, assim como pelo fabricante da tinta utilizada no processo de pintura, verificou-se que havia uma discrepância entre os dados teóricos e os que eram praticados pela empresa. 
O processo de pintura utilizava 70 psi de pressão nas pistolas e as indicações dos fabricantes eram de que, para o tipo de técnica de pintura utilizada, seria suficiente a pressão de 35 psi. Foram levantados os dados de consumo, por meio do balanço de massa e, após a adaptação à recomendação específica, levantou-se os dados de consumo, efetuando-se a comparação com os dados históricos de consumo em relação à produção, obtendo-se uma sensível redução no consumo de tinta e na geração de resíduo de tinta.

Plano de monitoramento:
  • A empresa utilizou como parâmetro a média de consumo de tintas, verificando uma vez por mês o processo, com o objetivo de medir a quantidade média de tinta consumida por produto na pintura à pistola, devido à redução de pressão.
Análise econômica: 
  • A análise da rentabilidade da opção de produção mais limpa normalmente é efetuada com base em três indicadores: período de recuperação do capital, valor presente líquido e taxa interna de retorno, os quais são amplamente utilizados para análise de viabilidade econômica de projetos. 
Não foi feita esta análise nos resultados alcançados com a implantação das medidas na cabine de pintura, uma vez que não houve investimentos que suscitassem a análise de recuperação de capital e nem a rentabilidade do projeto.

Conclusões do estudo de caso: 
  • Neste estudo de caso, a empresa teve benefício ambiental com a redução na emissão de solventes e tintas no ar, menor consumo de tinta por peça produzida e melhoria no ambiente de trabalho; benefício econômico, com a redução na compra total de matéria-prima (tintas e solventes) que era de R$ 186.888,00/ano e passou a ser de R$ 142.254,00/ano, resultando numa redução de 23%; benefício tecnológico, com a menor necessidade de manutenção do sistema e menor consumo de ar comprimido e benefício de saúde ocupacional, com a diminuição do contato dos empregados com os agentes químicos gerados pela exposição ao processo de pintura da cabine.
Além disso, o ganho obtido no benefício econômico foi gerado por uma medida de housekeeping, a qual não gerou investimentos, demonstrando que a produção mais limpa pode ser realizada de forma simples, sem a necessidade de tecnologias sofisticadas, exigindo, neste caso, somente a mudança de atitudes e a análise crítica do processo produtivo.

Outras Considerações:
  • A produção mais limpa, por ser uma técnica de aplicação contínua e por mobilizar toda a organização, requer uma mudança na cultura da organização onde está sendo implantada. Isto afeta diretamente, desde o empregado de menor hierarquia até o principal executivo da empresa, exigindo uma mudança na concepção de produção e de ambiente natural.
A produção mais limpa, geralmente, oferece redução nos custos e melhora a eficiência das operações, facilitando às organizações alcançar suas metas econômicas, ao mesmo tempo em que melhora o ambiente, gerando inovações e vantagens competitivas.
  • A redução do consumo de tinta na cabine de pintura é um exemplo de inovação nos procedimentos daquela operação que resultou em ganhos ambientais (redução de 0,56 litros/peça) e em ganhos econômicos (redução de R$ 44.634,00 por ano). 
A economia gerada nesta operação, somada às demais economias obtidas em outras operações, resultou numa redução de custos significativa, o que representou um ganho de competitividade para a empresa.
  • Porém, em função de ainda não existir uma consciência global de que os recursos naturais são finitos e pelo fato de não existir uma cultura pela busca de eficiência, as empresas não conseguem perceber o custo/benefício da Produção Mais Limpa. 
As experiências na implantação do programa no Brasil, assim como em outras partes do mundo, em diversos segmentos de atuação, tais como indústria de manufatura, de alimentos, agricultura, transporte, turismo e saúde, estão demonstrando que essa nova abordagem produz ganhos ambientais, promove inovações, reduz custos e gera vantagens competitivas para as empresas.
  • Assim, para as organizações que se propõem a competir no mercado e também a promover o desenvolvimento sustentável, a Produção Mais Limpa pode ser considerada como um impulso para a inovação e a obtenção de vantagens competitivas.

Produção Mais Limpa: Um Impulso Para a Inovação 

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SGA: A Metodologia Aplicada Pelo Grupo Fiat

Sistema De Gestão Ambiental: A Metodologia Aplicada Pelo Grupo Fiat
  • Cada vez mais a crescem a inter-relação do setor produtivo industrial e o meio ambiente surgindo à necessidade de incluir a gestão ambiental no planejamento global da organização.
O termo gestão ambiental é bastante abrangente, sendo usado para designar ações ambientais em determinados espaços geográficos, como por exemplo: gestão ambiental de bacias hidrográficas, de parques e reservas florestais, entre outras modalidades de gestão que incluam impactos ambientais. Nesse estudo privilegiara a gestão ambiental nas organizações.
  • Segundo Morandi e Gil (1999), o processo de gestão ambiental implica em um processo contínuo de análise formado de decisão, organização, controle das atividades de desenvolvimento, bem como avaliação dos resultados para melhorar a formulação de políticas e sua implementação para o futuro.
A preocupação com o meio ambiente nasce à medida que se percebe que os recursos são finitos e que seu uso indevido gera conseqüências incalculáveis à sociedade. Dentro dessa perspectiva, aparece o conceito de desenvolvimento sustentável.
  • Assim, para Cavalcanti (2002), a noção atual de desenvolvimento sustentável deixa claro que é necessário estar atento para que a taxa de crescimento da economia não seja conseguida com o alto preço da destruição do planeta. Vários desastres ambientais provocados por posturas inconsequentes das indústrias modificaram o meio ambiente alterando a relação do homem com a natureza, fazendo com que crescessem movimentos em busca de uma produção mais sustentável. 
Dessa forma, quando as condições ambientais se tornam inadequadas devido à poluição causada pelas atividades produtivas a sociedade civil exerce pressão sobre as organizações para que elas diminuam os efeitos ambientais de suas atividades estimulando a interferência legal do Estado para penalizá-las de acordo com o reflexo do desastre causado, interferindo também de forma preventiva para evitar possíveis desastres.
  • Algumas organizações preocupadas com tamanho desafio já assumiram o senso de responsabilidade preocupando-se com a proteção do meio ambiente. Essa preocupação vai além dos limites mínimos estabelecidos pela lei a fim de desenvolver eficientes práticas ambientais tornando a gestão ambiental uma variável estratégica na tomada de decisões da organização. Um dos maiores desafios nessa perspectiva é a transformação das forças de regem o mercado em forças geram a sustentabilidade à gestão do meio ambiente, com a ajuda de padrões de desempenho e no uso de instrumentos econômicos. Essa dificuldade se dá porque as regulamentações ambientais são tradicionalmente vistas, pelas organizações, como dispendiosas e desnecessárias à produtividade. 
De acordo com Porter (1999), a visão que prevalece ainda é: ecologia versus economia, ou seja, de um lado estão os benefícios sociais que se originam de rigorosos padrões ambientais, e de outro lado, estão os custos da indústria com prevenção e limpeza, custos estes que, neste enfoque, conduzem a altos preços e baixa competitividade.
  • Considerando o crescimento da sensibilização ambiental na sociedade e o aumento de legislação de proteção do meio ambiente, este estudo tem como problema de pesquisa discutir de que forma as práticas de gestão voltadas para o meio ambiente podem ser utilizadas para tornarem-se estratégicas e lucrativas para a organização?
Esse estudo busca mostrar a importância da gestão ambiental para a responsabilidade das organizações a fim de garantir sua sustentabilidade sem comprometer as gerações futuras. A correta administração de recursos e a consciência em preservar o meio ambiente são fatores importantes a serem considerados pelas organizações, mostrando a importância das ações, voltadas para o desenvolvimento sustentável, e como elas podem auxiliar a organização aumentando sua competitividade no mercado.
  • Esta preocupação vem sendo demonstrada pelo Grupo Fiat no Brasil que por meio de ações ambientais possui processos aperfeiçoados de gerenciamento de recursos e o desenvolvimento de pesquisas ambientais que conscientizam seus funcionários e proporciona qualidade nos processos e produtos gerando redução de custo, aumento da lucratividade e melhoria de sua imagem institucional.
Para alcançar os objetivos propostos, a pesquisa foi realizada de forma exploratória, analisando-se o desenvolvimento empresarial em relação à questão ambiental.
  • Primeiramente fez-se um levantamento bibliográfico e sua contextualização sobre os conceitos que envolvem o desenvolvimento da gestão ambiental e sua aplicação como prática estratégica na organização por meio da implantação do Sistema de Gestão
Ambiental. Realizou-se uma busca documental nos bancos de dados e publicações da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e no SEBRAE para obtenção de dados estatísticos e qualitativos referentes aos investimentos empresariais realizados na área ambiental. Foi pesquisada, ainda, uma extensa bibliografia com as principais normas e leis ambientais relacionadas às atividades produtivas, e os mais importantes instrumentos que as regulamentam, identificando sua evolução histórica e características atuais.
  • A segunda parte do estudo baseou-se em um estudo de caso qualitativo comparando o discurso conceitual elencados no primeiro momento e as práticas aplicadas a indústria automobilística de vanguarda aprofundando-se nos resultados por ela alcançados na implantação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
Responsabilidade Ambiental da Empresa:
  • À medida que aumentam as preocupações com o meio ambiente, as organizações preocupam-se com os impactos de suas atividades, produtos e serviços em busca de alcançar um desempenho organizacional consistente e com comprometimento ambiental.
A gestão ambiental empresarial passa pela obrigatoriedade de que sejam implantados sistemas organizacionais e de produção que valorizem os bens naturais, as fontes de matérias-prima, as potencialidades do quadro humano criativo, as comunidades locais e com isso devem iniciar um novo ciclo onde a cultura do descartável e do desperdício sejam coisas do passado. Atividades de reciclagem, incentivo à diminuição do consumo, controle de resíduo, capacitação permanentes dos quadros profissionais, em diferentes níveis e escalas de conhecimento, fomento ao trabalho em equipe e às ações criativas são desafios chave neste novo cenário (Donaire, 1999).
  • A consciência ambiental ocorrida a partir da década de 70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente como um dos princípios básicos da organização. O gasto com proteção e educação ambiental começa a ser visto pelas empresas não só como custos, mas como investimentos futuros e vantagem competitiva. A inclusão da gestão consciente do ambiente entre os objetivos da organização moderna amplia substancialmente todo o conceito de gestão.
Introduziram-se nas organizações programas de reciclagem, de redução de energia e outras inovações ecológicas. Essas práticas difundiram-se rapidamente, e desenvolveram sistemas abrangentes de administração de cunho ecológico. Os objetivos inerentes a um gerenciamento ambiental devem estar em consonância com o conjunto das atividades empresariais, portanto não podem ser vistos como elementos isolados. 
  • A organização passa a olhar de forma global as áreas que possui fazendo correlações entre as responsabilidades: ambiental, econômica e social. Assim, o objetivo maior da gestão ambiental é a busca permanente de melhoria da qualidade ambiental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho, essa busca é, portanto, um processo de aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global (Donaire, 1999).
Ao considerar a gestão ambiental no contexto empresarial, percebe-se de imediato que ela tem uma importância muito grande, inclusive estratégica. Isso ocorre porque, dependendo do grau de sensibilidade com o meio ambiente demonstrado e adotado pela alta administração, já pode perceber o potencial que existe para que uma gestão ambiental efetivamente possa ser implantada.
  • De qualquer modo, estando, muito ou pouco, vinculadas a questões ambientais, as empresas que já estão praticando a gestão ambiental ou aquelas que estão em fase de definição de diretrizes e políticas para iniciarem o seu gerenciamento ambiental devem ter em mente os princípios e os elementos de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e as principais atribuições que normalmente são exigidas para que seja possível levar uma boa gestão ambiental. (Callenbach, 1993).
Fundamentos do Sistema de Gestão Ambiental:
  • Pode-se dizer que as ações ambientais nas organizações têm assumido um papel cada vez mais integrado às diferentes funções administrativas, desde marketing, finanças, produção, qualidade, desenvolvimento de produtos até recursos humanos. Para entender isso, deve-se explorar melhor o que levam as empresas a preocuparem-se com a política ambiental.
Existem, normalmente, três razões para que as empresas queiram buscar um melhor desempenho ambiental: o primeiro é o regime de leis internacionais que está mudando em direção a exigências crescentes em relação à proteção ambiental; o segundo é o mercado que está se tornando cada vez mais exigente; e o terceiro, é o conhecimento, com crescentes descobertas e divulgação das causas e conseqüências dos danos ambientais (ROSEN, 2001). 
  • A busca de procedimentos gerenciais ambientalmente corretos, incluindo a adoção de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), é justificado principalmente pelos seguintes fatores:
  1. Os recursos naturais (matérias-primas) são limitados e estão sendo fortemente afetados pelos processos de utilização e degradação decorrentes de atividades produtivas, portanto estão cada vez mais escassos e mais caros.
  2. O crescimento da população, principalmente em grandes regiões metropolitanas e nos países menos desenvolvidos, exerce forte conseqüência negativa ao meio ambiente e faz repensar os impactos.
  3. A legislação ambiental exige cada vez mais cuidado com o meio ambiente.
  4. Pressões públicas locais, nacionais e mesmo internacional impõe cada vez mais responsabilidades ambientais nas organizações.
  5. Bancos, financiadores e seguradoras dão privilégios a empresas ambientalmente sadias ou exigem taxas financeiras mais elevadas de empresas poluidoras.
  6. A sociedade está cada vez mais exigente e crítica no que diz respeito a danos ambientais e à poluição causados pelas organizações.
  7. Organizações não-governamentais estão mais vigilantes, exigindo o cumprimento da legislação ambiental, a minimização de impactos e a reparação de danos ambientais.
  8. A imagem de empresas ambientalmente saudáveis é mais bem aceita por acionistas, consumidores, fornecedores e autoridades públicas.
  9. Acionistas conscientes da responsabilidade ambiental preferem investir em empresas lucrativas sim, mas que sejam ambientalmente responsáveis.
  10. Cada vez mais compradores, principalmente importadores, estão exigindo a certificação ambiental, nos moldes da ISO 14.001, ou certificados ambientais específicos como, para produtos têxteis, madeiras, cereais, frutas, etc. Tais exigências são voltadas para a concessão do “Selo Verde”, mediante a rotulagem ambiental.
Diante dos pontos destacados, mais do que nunca há motivos para as organizações implantarem um SGA, seja por motivo legal, social e até mesmo econômico. Deve-se salientar que a adoção de um SGA e, por conseguinte de uma política ambiental é de responsabilidade da organização e que após sua adoção, o cumprimento e a conformidade devem ser seguidos integralmente, pois eles tornam-se muito importantes para a estratégia organizacional. O ciclo do SGA segue a visão de uma organização que subscreve os seguintes princípios:

Princípio 1:
Uma organização deve focalizar aquilo que precisa ser feito - deve assegurar comprometimento ao SGA e definir sua política.
Princípio 2:
Uma organização deve formular um plano para cumprir com sua política ambiental.
Princípio 3:
Para uma efetiva implantação, uma organização deve desenvolver as capacidades e apoiar os mecanismos necessários para o alcance de suas políticas, objetivos e metas.
Princípio 4:
Uma organização deve medir, monitorar e avaliar seu desempenho ambiental.
Princípio 5:
  • Uma organização deve rever e continuamente aperfeiçoar seu sistema de gestão ambiental, com o objetivo de aprimorar seu desempenho ambiental geral.
Com isto, o SGA é mais observado como uma estrutura de organização, a ser continuamente monitorada e renovada, visando fornecer orientação efetiva para as atividades ambientais de uma organização, em resposta a fatores internos e externos em alteração. Todos os membros de uma organização devem assumir a responsabilidade pela melhoria ambiental.

Etapas de Implantação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA):
Avaliação Ambiental Inicial:
  • O processo de implementação de um sistema de gestão ambiental começa pela avaliação ambiental inicial. Na prática, esse procedimento pode ser realizado com recursos humanos internos ou externos, pois, quando a empresa já dispõe de pessoal habilitado às questões ambientais (por exemplo, técnicos da área de saúde e segurança do trabalho ou controle de riscos), essa tarefa poderá ser feita internamente. Por outro lado, não existindo tal possibilidade, a organização poderá recorrer aos serviços de consultores ambientais.
Essa avaliação inicial possibilita a formação de um diagnóstico da organização já que elas possuem uma série de problemas ambientais que vão desde suas fontes poluidoras, destino de resíduo e despejos perigosos, até o cumprimento da legislação ambiental. 
  • A verdade é que muitas vezes, as empresas mal conseguem perceber suas deficiências em termos de meio ambiente, pois vários aspectos contribuem para isso, como por exemplo: a falta de percepção ou conscientização ecológica de dirigentes e colaboradores, o uso de forma tradicional de produção, tratamento de efeitos poluidores no fim do processo industrial, redução de despesas, a qualquer custo, em detrimento do meio ambiente, falta de monitoramento ou fiscalização dos órgãos ambientais competentes.
Com isso, uma avaliação ambiental inicial permite às organizações conhecer seu perfil e desempenho ambiental, adquirir experiência na identificação e análise de problemas ambientais, identificarem pontos fracos que possibilitem obter benefícios ambientais e econômicos, muitas vezes óbvios, tornar mais eficientes à utilização de matérias-primas e insumos para servir de subsídios para fixar a política ambiental da organização. 
  • Dessa forma é necessário utilizar esse diagnóstico para pensar em um Sistema de Gestão Ambiental que seja implantando a fim de rever na organização seus impactos junto à natureza.
Implantação:
  • Para implantar um sistema de gestão ambiental a empresa tem que adotar várias medidas que são exigidas pela Norma ISO 14.001 e pela legislação ambiental.
Para o processo de implantação do SGA em uma empresa é necessário, de acordo com a NBR ISO 14.001 (1996) que a alta administração defina a política ambiental da organização e assegure seu comprometimento com a melhoria contínua, a prevenção da poluição, o atendimento à legislação e as normas ambientais aplicáveis e demais requisitos subscritos pela organização.
  • As principais etapas a serem seguidas na implantação de um sistema de gestão ambiental estão descritas a seguir, porém podem sofrer pequenas variações de uma empresa para outra.
Etapas e Ações Recomendadas:
  • Designar equipe e coordenador para gerenciar a implantação
  • Um representante da alta administração para liderar os trabalhos.
  • Iniciar treinamento interno de pessoal para gestão ambiental.
  • Estabelecer meios para a documentação do SGA.
  • Fazer auto-avaliação da organização
  • Fazer uma avaliação ambiental inicial.
  • Examinar a existência de um SGA.
  • Fazer uma avaliação de conformidade de toda a legislação ambiental pertinente.
  • Levantar exigências ambientais de clientes.
  • Definir a política ambiental Redigir a política ambiental da organização.
  • Redigir a documentação básica do SGA
  • Fazer um plano de implementação, por escrito, considerando:
  • Elaborar o plano de ação o que, onde, quando, como, responsável, recursos humanos e financeiros necessários.
  • Elaborar um manual de gestão ambiental
  • Revisar e incorporar procedimentos (manuais) isolados existentes.
  • Definir o fluxo de encaminhamento do manual.
  • Testar a eficiência do fluxo, inclusive o acesso.
  • Estabelecer prazos e formas de revisão.
  • Submeter à aprovação da comissão coordenadora.
  • Elaborar instruções operativas
  • Plano emergencial para áreas de risco.
  • Para processos operativos.
  • Revisão e análise
  • Auditoria interna.
  • Auditoria externa
  • Plano de ação de melhoria
  • Fazer avaliação de pontos fortes e fracos
  • Fazer avaliação ou reavaliação de desempenho ambiental.
  • Preparar plano e/ou procedimentos específicos para a melhoria contínua.
A organização deve fornecer estrutura para o estabelecimento e revisão dos objetivos e metas ambientais com relação à natureza, à escala e aos impactos ambientais de suas atividades, dos produtos e dos serviços oferecidos. Todo processo deve também ser documentado e comunicado a todos os colaboradores além de deixar disponível ao público.Segundo a norma, a empresa deve estabelecer e manter procedimentos para identificar os aspectos ambientais de suas atividades, serviços ou produtos, que possam por ela ser controlados e determinar aqueles que tenham e possam ter impactos significativos sobre o meio ambiente. Neste momento deve-se elaborar o Levantamento dos Aspectos e Impactos Ambientais (LAIA) que deve ser periodicamente analisado e atualizado.
  • A organização deve ainda estabelecer e manter programas para atingir seus objetivos e metas, incluindo a atribuição de responsabilidade em cada função e nível pertinente da organização com os meios e os prazos estipulados. As funções, as responsabilidades e as autoridades devem ser definidas com o intuito de facilitar a eficácia de gestão ambiental.
A NBR ISO 14.001 considera que a organização deve fornecer treinamento a todos os funcionários cujas tarefas possam criar um impacto significativo sobre o meio ambiente os conscientizado sobre a importância da conformidade com a política ambiental, dos impactos ambientais significativos (reais e potenciais), da preparação e atendimento às emergências e das conseqüências de procedimentos operacionais específicos.
  • A comunicação deve ser formalizada, com o objetivo de manter a integração interna em vários níveis e funções da organização, estabelecendo procedimento para controle de todos os documentos exigidos pela norma, para assegurar que os mesmos possam ser localizados, analisados, atualizados e revisados quando necessários e aprovados.
Segundo o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, a empresa para tratar dos impactos ambientais resultantes de suas atividades precisa cumprir rigorosamente os requisitos exigidos pela legislação nacional e também desenvolver programas internos de melhoramento ambiental. A empresa deve também produzir estudos de impacto ambiental segundo as exigências da legislação e focar a sua ação preventiva nos processos que oferecem danos potenciais à saúde e segurança de seus colaboradores.
  • Conforme a norma NBR ISO 14.001, “a organização deve considerar as diferentes operações e atividades que contribuem para seus impactos ambientais significativos, ao desenvolver ou modificar controles e procedimentos operacionais” como a pesquisa e desenvolvimento, projeto e engenharia, compras, laboratório, transporte, marketing e propaganda, entre outros.
Deve-se também identificar o potencial para atender a acidentes e situações de emergência, bem como prevenir e mitigar os impactos ambientais. O monitoramento e a medição devem ser estabelecidos em procedimento e periodicamente realizados para medir e monitorar as características principais de suas operações e atividades. O monitoramento é o acompanhamento contínuo do processo, tanto gerencial quanto técnico a fim de identificar as não conformidades.
  • As não conformidades são todos os aspectos, valores e situações que não se encontram de acordo com as leis, normas, procedimentos e regulamentos, por isso devem ser tratadas e investigadas, adotando medidas para diminuir quaisquer impactos, aplicando assim, as ações corretivas e preventivas.
Os registros são evidências objetivas da monitoração da implementação do sistema de gestão ambiental, estabelecendo e mantendo o procedimento para identificação, manutenção de registros ambientais, inclusive os registros de treinamento e os resultados de auditorias e análise críticas. A organização deve programar auditorias periódicas do sistema de gestão ambiental:
“A auditoria é um processo de verificação sistemática e documentada que objetiva obter e avaliar evidências para determinar se o sistema de gestão ambiental da organização está conforme aos critérios de auditoria do sistema, estabelecidos pela organização, e para a comunicação dos resultados desse processo de gestão” (Norma ISO 14.001, p. 4).
De acordo com a norma, a alta administração da organização deve analisar criticamente o sistema de gestão ambiental, para assegurar sua conveniência, adequação e eficácia contínua. Essa análise crítica deve ser documentada e sua freqüência é estabelecida pela organização. Deve incluir também análise de objetivos, metas, desempenho ambiental, constatações das auditorias do SGA, avaliação da adequação da política ambiental e da necessidade de alterações devido às mudanças na legislação, entre outras.

Operacionalização:

A operação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) necessita que na capacitação e mecanismos de apoio a política, os objetivos e as metas ambientais da organização sejam viáveis. É necessário que no contexto da melhoria contínua da qualidade ambiental, as exigências de capacitação e os mecanismos de apoio estejam sempre evoluindo, ou seja, aperfeiçoados ou adequados sempre que se fizer necessário. Segundo a NBR-ISO 14.001 a operação do SGA engloba os seguintes aspectos:
  • Estrutura e responsabilidade;
  • Treinamento, conscientização e competência;
  • Comunicação;
  • Documentação do SGA;
  • Controle de documentos;
  • Controle operacional;
  • Preparação e atendimento a emergências.
Quanto à estrutura e a responsabilidade para as questões ambientais deve-se destacar que dependerão do tamanho e do ramo de atividades da empresa. Não há necessidade de um departamento de meio ambiente se for uma pequena ou média empresa, basta apenas deixar uma pessoa ou uma equipe designada para este trabalho. A respeito da responsabilidade técnica e pessoal, a NBR-ISO 14.001 sugere uma estruturação.
  • Vale ressaltar que no caso de pequenas e médias empresas, a pessoa responsável é o proprietário. Esse quadro mostra que toda a organização está envolvida com a operacionalização dessa nova postura ambiental dentro da organização, onde a responsabilidade da atuação vai depender do nível hierárquico que o funcionário possui dentro da organização. 
Desta forma a organização busca um enfoque global junto às questões ambientais; mas para que isso se torne consistente é necessário que todos os funcionários recebam treinamento para a conscientização ambiental, motivação pessoal e comunicação organizacional. Como etapa para o processo de treinamento pode-se sugerir:
  • Identificação das necessidades de treinamento da organização;
  • Desenvolvimento de planos dirigidos de treinamento;
  • Verificação e avaliação da conformidade do programa de treinamento previsto com os requisitos legais ou organizacionais;
  • Treinamento de grupos específicos de dirigentes ou empregados;
  • Documentação do treinamento realizado;
  • Avaliação dos resultados do treinamento recebido.
À medida que os procedimentos de implantação forem feitos, deve-se fazer o treinamento e constantemente atualizado e reaplicado segundo um programa estabelecido. O Sistema de Gestão Ambiental é um processo lento e continuo onde desde o diagnostico / avaliação inicial até a operacionalização de fato, a organização deve-se preocupar na incorporação da gestão ambiental na sua estrutura, política e principalmente nas práticas diárias, considerando-a parte estratégica da organização quanto a sua sustentabilidade futura.

Certificação Ambiental no Mundo e no Brasil:
  • A evolução do ambientalismo empresarial fica bastante evidente quando se analisa o crescimento e a importância da certificação ISO 14.001 nos negócios. No ano de 1993, a ISO reuniu diversos profissionais e criou um comitê, intitulado Comitê Técnico TC 207 que teria como objetivo desenvolver normas (série 14000) nas áreas envolvidas com o meio ambiente. Os certificados de gestão ambiental da série ISO 14.001 atestam a responsabilidade ambiental no desenvolvimento das atividades de uma organização.
Para a obtenção e manutenção do certificado da norma ISO 14.001, a organização tem que se submeter a auditorias periódicas, realizadas por uma empresa certificadora, credenciada e reconhecida pelo INMETRO e outros organismos internacionais. Nas auditorias são verificados o cumprimento de requisitos como:
  • Cumprimento da legislação ambiental;
  • Diagnóstico atualizado dos aspectos e impactos ambientais de cada atividade; Procedimentos padrões e planos de ação para eliminar ou diminuir os impactos ambientais;
  • Pessoal devidamente treinado e qualificado.:
Entretanto, apesar do fato de que as empresas estejam procurando se adequarem, a degradação ao ambiente continua em ritmo crescente.Apenas um número pequeno de empresas busca a sustentabilidade e as melhorias conseguidas são iniciantes diante da demanda crescente por produtos e serviços, originadas do desenvolvimento econômico. Considerando as organizações que possuem certificados no mundo tem-se uma grande desigualdade entre os continentes.
  • De acordo com esse gráfico, é possível perceber que a Europa é o continente que possui mais organizações certificadas com 49% das mesmas, enquanto a Ásia possui 37% e a América do Sul alcança apenas 2%. Esse retrato mostra que a Europa e a Ásia possuem um avanço quanto ao discurso e a prática da gestão ambiental nas suas organizações, já a América do Sul tem muito a crescer em relação à certificação ambiental, porém de acordo com relatórios da própria ISO o número total de certificações pela ISO 14.001 aumentou em mais de 11 vezes entre os anos de 1998 e 2003, passando de 178 para 2034 empresas, nos países da América Latina, registrando uma tendência oito vezes maior que a taxa de crescimento mundial.
O Brasil vem em primeiro lugar entre os países avaliados, com o aumento de 88 empresas certificadas em 1998 para 1008 até dezembro de 2003, apresentando um crescimento de 1145%. No mesmo período, a ISO 14001 foi concedida a um total de 7887 empresas em todo o mundo, no ano de 1998, passando para 66.070 em 2003, com um acréscimo de 838%. Considerando as organizações certificadas no Brasil de acordo com os estados:
  • O Estado de São Paulo possui 44% das certificações ISO 14.001 no Brasil, em segundo lugar vem o Rio de Janeiro com 9,6%. Sendo que a maioria dos estados brasileiros não está citada no gráfico. Isso demonstra a maior concentração de empresas certificas nos estados das regiões sudeste e sul do país. Isso é claramente justificado devido a maior concentração de organizações nesses estados e com isso sofrerem maiores pressões legais e sociais quanto à necessidade de incorporarem políticas ambientais e com isso buscarem a certificação para legitimarem seus Sistemas de Gestão Ambiental.
Assim, pode-se considerar que a partir da década de oitenta, devido ao grande número de transformações ocorridas no âmbito social, político, econômico e tecnológico, as organizações foram obrigaram a adotar também estratégias e métodos para monitorar, medir, avaliar e prestar contas sobre as questões ambientais. 
  • Foram criadas as normas, certificações, balanços ambientais e os respectivos sistemas gerenciais necessários à sua implantação (ANDRADE, 2001). No entanto, não é suficiente apenas ter a norma, é preciso desenvolver relacionamentos ambientalmente adequados com os stakeholders para que a preservação ambiental resulte em práticas reais e efetivas.
Dessa forma ao considerar as montadoras de automóveis, percebe-se que se têm exigido o cumprimento de uma série de requisitos da qualidade ambiental, devido à importância dos fatores competitivos ao longo da cadeia de suprimentos, e isto inclui a obtenção do certificado ISO 14.001, significando que a pressão dos clientes nesse setor é muito grande para adesão da Certificação Ambiental.

Sistema De Gestão Ambiental: A Metodologia Aplicada Pelo Grupo Fiat

Estudo de Caso - Grupo Fiat do Brasil:
  • Instalada desde 1976 em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, a montadora FIAT, em 2006 produziu oito milhões e trezentos mil automóveis, obtendo um faturamento bruto aproximadamente de US$8 bilhões, voltou sua atenção para a preservação do meio ambiente a partir do início da década de 90. A preocupação ampliou-se da produção para aspectos como mercado e impactos sociais e ambientais.
Desde 1990, a Fiat investiu cerca de US$ 90 milhões em tecnologia e projetos para a preservação e melhoria do meio ambiente. A crescente preocupação com o meio ambiente é resultado de uma profunda reflexão da sociedade mundial onde busca possuir um eficiente sistema de gestão ambiental que proporcione conscientização entre seus colaboradores e o uso de tecnologias mais adequadas para o controle de poluição e gestão dos impactos ambientais.
  • Além disso, as diretrizes e padrões legais de emissão de poluentes, estabelecidos pelo PROCONVE - Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores -, que é gerenciado pelo IBAMA, são seguidos à risca pela Fiat, utilizando modernas tecnologias de otimização de motores, diminuindo as emissões e tornando seus veículos ainda mais econômicos. É devido a essa consciência de preservação do meio ambiente que a Fiat é a primeira montadora no Brasil, a receber o certificado ISO 14.001.
Princípios e Diretrizes da Política Ambiental:

Considerando que a conservação do meio ambiente é essencial para a qualidade de vida e para o desenvolvimento sustentável, a Fiat Automóveis segue a seguinte política:
  • Manter um Sistema de Gestão Ambiental para assegurar o atendimento aos requisitos legais e outros requisitos em seus processos, produtos e serviços.
  • Promover a utilização otimizada de recursos energéticos.
  • Gerenciar os resíduos industriais, minimizando a sua geração e otimizando a reciclagem dos mesmos.
  • Buscar a melhoria contínua do desempenho ambiental de suas atividades, visando sempre à prevenção da poluição e aplicando tecnologia economicamente viável.
  • Produzir veículos condizentes com a legislação ambiental vigente.
  • Promover a conscientização e o envolvimento dos seus colaboradores, contratados e subcontratados que trabalham em suas instalações para que atuem de forma ambientalmente correta.
Em busca de alcançar esses princípios e diretrizes, o Grupo FIAT possui alguns programas ambientais onde a partir deles a organização implantou seu Sistema de Gestão Ambiental, incorporando esses programas ao planejamento estratégico da mesma. Serão apresentados sete programas que demonstram as interfaces da organização com o meio ambiente:

Ilha Ecológica:
  • Grande parte do trabalho ambiental da montadora está concentrado na Ilha Ecológica - um espaço dentro da fábrica de automóveis em Betim, onde os resíduos industriais são separados por categoria, armazenados e transformados em novas matérias-primas por meio de processos de reciclagem. Este processo é feito por empresas de reciclagem ou de tratamento, que tenham suas atividades licenciadas pelos órgãos ambientais competentes.
As vantagens do projeto:
  • Desde 1994, a Ilha Ecológica já permitiu a reciclagem de aproximadamente 18 mil toneladas de papel e papelão;
  • São mais de 360 mil árvores poupadas a partir da reciclagem de papel;
  • 6.150 toneladas de plásticos diversos e 1.700 toneladas de isopor foram recolhidas e encaminhadas para reciclagem. Essas quantidades são equivalentes à utilização de 78 toneladas de petróleo como matéria-prima.
O programa seletivo da montadora é baseado nos cinco "S" representados pelos "sensos" da conceituação de origem japonesa: organização, participação, simplificação, limpeza e conservação. A Fiat inovou ao acrescentar três "R": redução na geração de resíduos; reutilização dos resíduos ao máximo; e reciclagem, com a utilização de matéria-prima para a fabricação de outros produtos.
  • A Fiat promove a reciclagem de isopor, óleos, borras de tinta, papéis, plásticos, chapas de aço, limalhas de ferro, madeiras, entre outros materiais totalizando 17 mil toneladas de resíduos sólidos por mês, que são transformados em matéria-prima nos diversos segmentos da indústria de transformação - isopor é transformado em caneta, salto de sapato, carretéis etc. A Ilha Ecológica possibilita um índice de reciclagem de 90% do que é gerado nos processos de produção.
É importante lembrar que neste processo de reciclagem a coleta seletiva desempenha um papel fundamental. Por isso todos os trabalhadores da fábrica estão habituados a separar o lixo para a reciclagem.

Estação de Tratamento de Água:
  • A fábrica da Fiat Automóveis possui nove estações de tratamento dos efluentes líquidos, provenientes dos serviços higiênicos e dos processos produtivos da fábrica. Para isso é dotada de sistemas de esgotos separados: sólidos, líquidos e gasosos.
Com isso, a Fiat consegue uma recirculação de 92% de toda água utilizada em seus processos. Desde a implantação deste complexo em 2001, o tratamento de efluentes já economizou nove bilhões de litros de água, o suficiente para abastecer uma cidade com cerca de 120 mil habitantes por um ano.
A tecnologia utilizada, inédita no Brasil, garante que as regras ambientais sejam seguidas à risca. O processo não emprega produtos químicos, uma vez que a purificação da água é realizada por colônia de bactérias. Após o pré-tratamento nas unidades industriais, os efluentes industriais resultantes dos processos produtivos (lavagem de carrocerias dos setores de pintura e peças mecânicas) são enviados à estação de tratamento, onde são submetidos à homogeneização, recebendo injeções de ar ambiente num processo denominado oxigenação.
  • Após esta etapa, os efluentes são enviados, por meio de centenas de bicos de distribuição, a reatores de leito fluido, onde colônias de bactérias desenvolvem-se na areia. Estimuladas por uma grande concentração de oxigênio, as bactérias digerem a matéria orgânica presentes nos efluentes, primeira etapa de purificação biológica das águas industriais. Para garantir a purificação total da água, o sistema de tratamento da Fiat é composto por mais quatro filtros.
Deles são retiradas eventuais partículas sólidas. A areia é substituída por carvão ativado como base para a reprodução das bactérias. Os resíduos sólidos retirados nos diversos de filtração e retenção são posteriormente encaminhados a um aterro existente na área externa da fábrica. As vantagens destes investimentos é que a Fiat: minimiza seus custos para investir em outros projetos. Além disso, a COPASA, Concessionária de Água de Minas Gerais, disponibiliza esta água para comunidades e empresas, que não precisam investir na construção de estruturas de tratamento de água.

Estação de Tratamento de Poluentes:
  • A Fiat é a primeira montadora do Brasil a eliminar totalmente as emissões de solventes oriundos dos fornos de secagem da pintura. Para isso a empresa investiu 11,5 milhões de dólares em equipamentos, para monitorar continuamente as emissões mais representativas de seu processo e assegurar-se de que elas atendam os limites da legislação.
Uma indústria automobilística produz gases nas etapas de secagem da pintura. Aqui esses gases são coletados e purificados, por meio de incineração, por pós-combustores importados de última geração evitando a liberação de poluentes. Após esse processo o ar que retorna à atmosfera encontra-se completamente livre dos solventes e gases poluentes.

Programa de Controle da Poluição do Ar: 
Por Veículos Automotores (PROCONVE):
  • A Fiat utiliza modernas tecnologias de otimização de motores, o que diminui as emissões de poluentes. As diretrizes e padrões legais de emissão de poluentes estabelecidos pelo PROCONVE, que é gerenciado pelo IBAMA, são seguidos à risca pela Fiat, tendo como meta a redução da contaminação atmosférica, a empresa realiza um exigente acompanhamento de sua linha de produção.
Programa FARE – Fiat Auto Recycling
  • Os modelos Fiat têm sido produzidos com crescentes índices de materiais reciclados. O Grupo Fiat desenvolveu o programa Fare – Fiat Auto Recycling, já aplicado na sede dom grupo na Itália. A fábrica de Betim aboliu os gases CFC e o chumbo na confecção de carroceria. Toda a linha Palio foi projetada para ser montada e desmontada, enquanto as peças plásticas com peso superior a 300 gramas são marcadas para facilitar a separação de plásticos reaproveitáveis dos não-reaproveitáveis no desmanche, facilitando a reciclagem.
Projeto Estacionamento Ecológico:
  • Esse projeto foi inicialmente realizado na Itália e devido seu sucesso foi trazido para o Brasil. O programa atende por nome de “Estacionamento Ecológico” e prevê o aluguel de automóveis elétricos com livre acesso a áreas restritas a veículos movidos por combustíveis poluentes. O objetivo é reduzir o número de automóveis nas zonas consideradas críticas sob o ponto de vista de poluição atmosférica sem afetar o livre acesso da população.
Investimentos no Controle Ambiental:
  • A Fiat Automóveis foi à primeira montadora brasileira de automóveis e veículos comerciais leves a obter o certificado de qualidade ambiental ISO 14.001. Para obter a certificação ISO 14.001, a Fiat teve de implantar o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que, em uma primeira etapa, detectou a necessidade de aperfeiçoamento e treinamento em diversos setores, com isso o SGA investiu 54 mil horas de treinamento a funcionários e terceirizados, que formaram grupos multiplicadores na comunidade.
Para conscientizar os fornecedores foi desenvolvido um trabalho de motivação junto aos fornecedores, através de visitas e solicitação para que se adequassem às novas regras. Para reforçar esse trabalho, os processos de compra da montadora exigem desde licenciamento ambiental até inspeções nas empresas que estão se cadastrando como fornecedoras.

Resultado do SGA no Grupo FIAT:
  • Com a implementação do Sistema de Gestão Ambiental, o Grupo FIAT alcançou excelentes resultados financeiros, já que ouve uma transformação organizacional. A empresa tem ações de sensibilização junto aos funcionários, visando à redução do desperdício em todas as áreas da empresa, desde os processos produtivos de gestão da água, ar comprimido, energia elétrica, vapor e combustíveis até a mudança dos hábitos pessoais dos colaboradores.
O resultado positivo do SGA fica evidente quando se compara a situação do Grupo Fiat antes e depois da implantação:

Antes e Depois:
  • Consumo de Energia Elétrica 795kWh/ veículo 430 kWh/ veículo
  • Consumo de Água 7,0 m3/ veículo 4,0 m3/ veículo
  • Recirculação de Água 60% 92%
  • Geração de Resíduos 400 kg/ veículo 250 kg/ veículo
  • Reciclagem de resíduos 70% 90%
  • Lixo doméstico 500 t/ mês 96 t/ mês
O consumo de energia elétrica e água reduziram aproximadamente 46% e 43%, ou seja, em ambos os casos, houve uma economia de gasto em quase metade do que se era consumido, sendo que além de ter reduzido o consumo de água 92% dela é reutilizada na organização.
  • Outro dado interessante é que ao considerar a geração de resíduos teve a redução de 150 kg por carro produzido, além disso, sobre esses resíduos ainda 90% são reciclados. O lixo doméstico reduziu 80% o que demonstra que a mobilização e conscientização dos funcionários.
Todas essas melhorias proporcionadas pelo SGA proporcionaram o reconhecimento e a certificação ambiental, concedido pela Bureau Veritas Quality (BVQ), da Inglaterra, que passou a incluir a montadora no seleto grupo de 30 empresas automobilística a exibir a ISO 14.001 acompanhado da certificação 9002 de qualidade.

Outras Considerações:
  • Muitas questões éticas podem envolver o comportamento das empresas quanto ao seu impacto junto ao meio ambiente. Parece que as organizações estão percebendo que agir com responsabilidade ambiental é vantajoso para a própria empresa, isso ocorre porque a mudança de enfoque em relação à responsabilidade ambiental pode gerar lucro para a empresa, e proporcionar melhorias sociais e fortalecimento da imagem organizacional.
O que move os interesses dos acionistas é o lucro, portanto as empresas sempre preocuparam mais com a gestão dos aspectos econômicos e financeiros. A idéia de responsabilidade ambiental está ligada a sustentabilidade, na qual se percebe que os problemas ambientais interferem nos impactos dos negócios e quando isso afeta o lucro a questão é repensada e com isso as organizações começam a implantar ações ambientais.
  • Além disso, cada vez mais o mercado exige as certificações e a responsabilidade ambiental tanto no mercado nacional quanto internacional. Para tanto, é necessário repensar essas questões e mensurar o resultado das ações das empresas e conseqüentemente garantir uma gestão ambiental eficiente.
A avaliação ambiental deve ser a base inicial que permita saber onde e em que estado a organização se encontra em relação às questões ambientais, chegou à hora da empresa saber o que ela quer alcançar. Nesse sentido, a organização discute, define e fixa o seu comprometimento e a respectiva política ambiental.
  • O maior objetivo é obter um compromisso e uma política ambiental definida para a organização. É necessário, que a política ambiental da organização esteja espalhada por toda a empresa, ou seja, em todas as áreas administrativas e operativas, devendo estar incorporada em todos os níveis hierárquicos.
A organização deve escolher as áreas certas a serem focalizadas com relação ao cumprimento da legislação e das normas ambientais vigentes específicas no que se refere aos problemas e riscos ambientais potenciais da empresa. Deve, também, ter o cuidado de não tratar com termos vagos afirmando, por exemplo: comprometemos-nos a cumprir a legislação ambiental. É óbvio que qualquer empresa, com ou sem política ambiental declarada, deve obedecer à legislação vigente.
  • É de vital importância para a organização, o compromisso em aceitar e cumprir as normas e leis que existem, pois em termos de gestão ambiental a adoção de um SGA é voluntária, portanto nenhuma empresa é obrigada a adotar uma política ambiental ou procedimentos ambientais espontâneos, salvo em casos de requisitos exigidos por lei, como, por exemplo: licenciamento ambiental, controle de emissões, tratamento de resíduos, etc.
O estudo de caso apresentado mostra que ao implementar o SGA, o Grupo FIAT deu o primeiro passo na busca do desenvolvimento sustentável e da excelência ambiental, tomando as medidas necessárias em relação às questões comerciais, financeiras e jurídicas, que podem influenciar a participação da empresa no mercado comprometendo seu crescimento e até mesmo sua sobrevivência, permitindo a concessão da certificação ISO 14.001 demonstrando o sucesso da de práticas ambientais e tornando-se uma vantagem competitiva no mercado automobilístico no Brasil.
  • Podemos concluir que tanto do ponto de vista dos consumidores quanto da empresa, o processo de formação de estratégias ambientais consistentes evolui a cada dia, sendo necessário um constante aprendizado organizacional. Assim, um dos maiores desafios associados deste processo é a mudança organizacional que deixará a organização mais capacitada quanto a implementação de estratégias ambientais. 
A difícil relação entre o meio ambiente e o mundo dos negócios requer boas técnicas administrativas e habilidade organizacional para que as empresas alcancem o conhecimento necessário para transformar suas estratégias ambientais em vantagens competitivas e financeiras, como foi observado e realizado pelo Gripo Fiat.
  • Considerando que o objetivo maior da gestão ambiental empresarial deve ser a busca permanente de melhoria da qualidade ambiental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho de qualquer organização pública ou privada. A busca permanente da qualidade ambiental é, portanto, um processo de aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global de acordo com a política ambiental estabelecida pela organização.

Sistema De Gestão Ambiental: A Metodologia Aplicada Pelo Grupo Fiat