quarta-feira, 2 de abril de 2014

Combustíveis: A química que move o mundo

Primeiro, na década de 1970, foram os ambientalistas na vanguarda, pedindo 
que o mundo parasse de consumir combustíveis fósseis, gora é as vez do FMI

  • Este título nos faz pensar: será que é isto mesmo? O que são combustíveis? Por que tantas notícias relacionadas a este tema, nos últimos anos? O que a química tem a ver com isto exatamente? 
Vejamos algumas definições apresentadas nos dicionários para a palavra COMBUSTÍVEL, para entendermos a sua importância e, consequentemente, como estas substâncias afetam a nossa vida. 
  • Adj. 2 gen. Que arde: o mesmo que combustivo; s.m. lenha ou outro material para queimar; - mineral: carvão fóssil ou produto dele derivado 
  • Adj. 2 gén., que arde; que tem a propriedade de se consumir pelo fogo; s. m., qualquer material capaz de produzir grandes quantidades de calor, tanto por combustão como por fissão nuclear; 
  • Qualquer substância que reage com o oxigênio (ou outro comburente) de forma violenta ou de forma a produzir calor, chamas e gases. Supõe a liberação de uma energia de sua forma potencial a uma forma utilizável. Em geral, trata-se de algo susceptível de combustão mas há exceções; 
  • Qualquer corpo cuja combinação química com outro seja exotérmica. Entretanto, as condições de baixo preço, a existência na natureza ou o processo de fabricação em grande quantidade limitam o número de combustíveis usados.
Observamos que as definições vão ficando mais complexas, já incorporando algumas características destas espécies, como a capacidade de reação com oxigênio, a característica de ser exotérmica (mas lembre-se que nem toda reação exotérmica é de combustão) etc. Assim, podemos perceber a relação entre a química e os combustíveis. De modo geral, podemos destacar dois grupos/tipos de combustíveis:
  • Os combustíveis fósseis; 
  • Os combustíveis renováveis.
  • Qual(is) seria(m) a(s) diferença(s) entre eles: 
Basicamente, podemos dizer que os combustíveis fósseis são aqueles que se originaram de animais, vegetais e microorganismos fossilizados há milhares de anos e que sofreram transformações complexas.
  • Acredita-se que o petróleo, por exemplo, tenha se originado de microorganismos aquáticos/marinhos e o carvão mineral, de antigas plantas. Podemos ver na tabela, algumas características de alguns combustíveis. 
Poderíamos pensar que é muito mais fácil (rápido) produzir um combustível renovável. Por que, então, tanto investimento na área de prospecção de petróleo, por exemplo? Na verdade, a questão não é tão simples assim. Aspectos econômicos, disponibilidade de recursos, tecnologia, rapidez de produção, eficiência energética devem ser levados em consideração. 
  • Numa perspectiva histórica, todo o conhecimento e tecnologia que temos hoje não estavam disponíveis desde os primórdios da civilização, logo, as ferramentas e os recursos são aqueles que se encontram disponíveis em uma dada época. Vejamos um pouco da história da utilização dos combustíveis para entendermos o momento atual. O que tem buscado o ser humano, em termos de tecnologia? Podemos dizer que ele busca inovações que tornem a sua vida mais fácil. Com o desenvolvimento tecnológico, temos acesso a instrumentos que realmente nos ajudam em várias situações. 
É possível nos imaginarmos, hoje, sem meios de transporte, sem meios de comunicação, ou ainda, sem fogão e geladeira para o preparo e conservação dos alimentos? Coisas tão comuns para aqueles que nasceram a partir de meados do século XX, certo? 
  • Todos esses recursos dependem de energia para funcionar e produzir, assim como nosso organismo precisa de energia extraída dos alimentos para se manter funcionando normalmente. Logo, a produção de energia deve crescer de forma rápida de modo a acompanhar o avanço tecnológico e consumo dos bens por eles gerados. O avanço tecnológico começou a partir do momento em que o ser humano passou a dominar a energia, ou seja, a produzi-la e aproveitá-la de alguma forma. 
O homem primitivo começou a utilizar a energia térmica e luminosa do fogo. Em um primeiro momento, ele apenas se apropriava do fogo já existente (por exemplo, o proveniente de combustão natural ou provocado por tempestade elétrica) e o mantinha alimentando a fogueira com gravetos e outros tipos de substâncias que queimavam e que estavam ao seu alcance; com isso, foi descobrindo o que pegava fogo ou não, selecionando o que chamamos, hoje, de combustíveis. Dominar o fogo significava se fortalecer frente a diversas situações que o ambiente os expunha. 
O fogo serve para iluminação, para aquecer, espantar animais, além de significar supremacia em relação a outros grupos. Depois de um tempo, o ser humano passou também a produzir o fogo e, cada vez mais, pôde tirar proveito dele. 
  • O fogo foi tão significativo para a sociedade que a mitologia grega o tratava como propriedade dos deuses. Nela, diz-se que o titã Prometeu roubou o fogo sagrado de Zeus e o ofereceu aos humanos e que, por isso, sofreu na carne a ira divina. Foi condenado a viver acorrentado em um rochedo e tinha seu fígado devorado de tempos em tempos por um abutre, pois uma vez comido pela ave, este se regenerava para lhe servir de alimento de novo. 
A descoberta do fogo é considerada a maior que o homem já fez porque sem ela muitos materiais não seriam transformados nem descobertos. O domínio do fogo provocou uma verdadeira revolução na vida dos homens. Ele foi o precursor da produção e da utilização de energia a partir da queima de combustíveis, que cada vez mais foi sendo aproveitada. O fogo sempre chamou muito a atenção do homem primitivo que não era capaz de desvendar o processo pelo qual folhas e madeiras queimavam. 
  • De modo geral, a descoberta de novas fontes de energia sempre foi de interesse humano, pois permitiu que o trabalho pesado, que era inicialmente realizado à custa da energia muscular humana ou animal, fosse substituído por energia proveniente da combustão (calor e trabalho). 
O combustível usado como principal fonte de energia foi sendo substituído ao longo do tempo: inicialmente era a madeira, depois carvão vegetal e mineral até chegar aos derivados do petróleo. Atualmente, há uma grande preocupação na busca, utilização eficiente e no aprimoramento de processos de obtenção de fontes energéticas alternativas como nuclear, eólica, solar, entre outras. Como são gerados os combustíveis que utilizamos? Vejamos, a seguir, este e outros pontos específicos sobre alguns combustíveis que, sem dúvida, são fontes de energia que movem o mundo. 

O Petróleo:
  • O petróleo é alvo de muitos interesses econômicos, já que o ser humano ainda é muito dependente deste recurso para geração de energia. Muitos conflitos entre nações foram gerados devido ao interesse pelo petróleo, pois ele é de fundamental importância para economia e desenvolvimento dos países. 
As maiores reservas petrolíferas do mundo estão no Oriente Médio e os países com maiores reservas são a Arábia Saudita, o Canadá, o Irã, o Iraque, o Kwait, os Emirados Árabes, a Venezuela e a Rússia, nesta ordem.
  • No Brasil, desde a metade do século XIX, desbravadores procuravam matéria-prima para a fabricação de combustíveis a serem utilizados na iluminação de cidades. Em alguns lugares afastados de grandes centros, os moradores utilizavam uma lama negra para queimá-las em fogareiros e lamparinas, mostrando que a riqueza petrolífera poderia estar mais próxima do que o imaginado. 
A primeira investida real na obtenção de petróleo, no Brasil, foi feita entre 1892 e 1897, quando um fazendeiro chamado Eugênio Ferreira de Camargo obteve concessão na região de Bofete, em São Paulo, e trouxe dos Estados Unidos uma sonda e uma equipe para perfurar o que é considerado o primeiro poço de petróleo do país. Um poço de 488 metros de profundidade foi perfurado; dali foi retirado somente água sulfurosa e dois barris de petróleo. Apesar desse resultado limitado, a partir daí, o Brasil passou a considerar interessante a busca por petróleo.
  • Em 1907, foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (SGMB), muito importante para a realização de pesquisas na área. Em 1919, iniciaram-se sondagens financiadas com recursos oficiais e até 1930, a SGMB havia perfurado 51 poços com resultados não satisfatórios no que diz respeito a extração do mineral, porém, de grande importância para o acúmulo de informações sobre a geologia do país. 
Em 1930, o engenheiro Manoel Inácio Bastos começou a investigar uma lama preta, na região de Lobato, na Bahia, que os moradores do local usavam para iluminar suas casas em substituição ao querosene. Apesar do empenho de Bastos em levar amostras ao então presidente Getúlio Vargas e este em encaminhá-las ao SGMB, somente em 1939 foi descoberto petróleo em um poço de 210 metros na mesma região.
  • No ano de 1933, foi criado o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM) e em 1938, instituiu-se o Conselho Nacional do Petróleo (CNP). Com ele, surgiu a primeira legislação que nacionalizou a exploração de petróleo e gás. Em 1941, surge o campo de Candeias, o primeiro campo petrolífero viável economicamente no Brasil e que opera até hoje. 
Em 3 de outubro de 1953, foi fundada a PETROBRAS (PETRÓLEO BRASILEIRO S/A) através da lei 2004 do presidente Getúlio Vargas. Desde então, a Petrobras investe em pesquisas e em tecnologia para a exploração do petróleo no Brasil.
  • As perfurações petrolíferas do país vêm avançando desde então, buscando-se o mineral em cada vez mais lugares, em regiões cada vez mais difíceis e profundas. Isto tornou a PETROBRAS referência em extração em águas profundas, com extrações cada vez maiores, levando o país a auto-suficiência em petróleo. 
O petróleo é usado como fonte para obtenção de diversos produtos de interesse comercial e não apenas como combustível. Mas se falamos no início que os combustíveis são a química que move o mundo, como podemos relacioná-lo à química? Em outras palavras, será que é possível saber, quimicamente, o que é o petróleo?
  • Para sabermos o que é o petróleo é melhor entendermos primeiro onde ele se encontra e como ele foi formado. O petróleo é encontrado nas camadas inferiores do solo, tanto no mar quanto na terra. Devido ao seu processo de formação, geralmente encontra-se associado ao gás natural e a uma certa quantidade de água salgada, proveniente do antigos mares. 
Um dos marcos na exploração de petróleo no Brasil foi a descoberta de jazidas na camada pré-sal, em 2008, na qual as reservas localizam-se a uma profundidade entre sete e oito mil metros abaixo do leito do mar.
  • Restos de animais e vegetais depositados há milhares de anos no fundo do mar foram cobertos lentamente por sedimentos, formando as rochas sedimentares (calcário e arenito). Em função das condições de temperatura e pressão do local, seus componentes foram se transformando – através de sequências de reações complexas – em petróleo.
    O que seria então, quimicamente, o petróleo?
    • O petróleo é um líquido escuro e viscoso constituído por uma mistura de hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos e inorgânicos em menor quantidade. O termo petróleo (petra = pedra + oleum = óleo) é usado atualmente, mas este líquido escuro e viscoso já recebeu outros nomes, o que muitas vezes confunde o leitor: alcatrão, asfalto, azeite, bálsamo da terra, betume, breia, lama, resina, malta, múmia, nafta, óleo de rocha, óleo de Medeia, óleo mineral, óleo de S. Quirino, óleo de Sêneca, óleo de Rangum, nafta da Pérsia, piche de Trindad, Pez de Barbados, pisasfalto. Fiquemos atentos, portanto, quando estivermos lendo um texto com um destes termos para nos certificarmos do que estamos falando. 
    Verificamos, então, que o petróleo não é o que chamamos de uma substância pura, mas uma mistura constituída principalmente de hidrocarbonetos, contendo até 30 átomos de carbono, onde as séries mais representativas são:

    Compostos Formulas /Nomes/ Observações:
    Alcanos de cadeia normal:
    • CnH2n+2
    n-parafinas:
    • Presentes em maior quantidade no petróleo. 
    • Componente das gasolinas de baixa octanagem 
    Alcanos ramificados:
    • CnH2n+2 
    • Alta octanagem 
    Alcenos ramificados:
    • CnH2n
    Olefinas:
    • Ausentes ou presentes em quantidades pequenas no petróleo 
    • Formados durante o craqueamento catalítico das frações mais pesadas 
    • Possuem ampla aplicação na indústria (eteno, propeno, 1-buteno, 2-buteno) 
    Ciclanos CnH2n Naftenos:
    • Menos reativo que alcenos devido à ausência da insaturação 
    • Ciclo-pentano, ciclo-hexano, metil-ciclo-hexano e os dimetil-ciclo-pentano 
    Aromáticos Bezenóide:
    • Presentes em pequenas quantidades no petróleo 
    • Matéria-prima para a indústria 
    • Antidetonantes (aumentam a octanagem) na gasolina
    Prejudiciais à saúde:
    • Notamos, assim, que o petróleo, além de não ser uma substância pura, é uma mistura complexa de moléculas complexas. Isto seria uma característica boa ou ruim? Misturas complexas costumam ser de difícil separação, o que poderia ser uma desvantagem, caso necessitássemos utilizar todos os componentes da mistura separadamente. No caso do petróleo, isso raramente ocorre, bastando separar as frações por destilação fracionada.
    Por outro lado, a presença de diferentes componentes permite também a utilização do petróleo na produção de muitos produtos com as mais diversas finalidades. Alguns exemplos podem ser visualizados a seguir e são obtidos em indústrias petroquímicas.
    • Vejamos a gasolina, por exemplo. Ela é uma mistura de hidrocarbonetos de 5 a 12 átomos de carbon em cada molécula. O modo de se classificar a gasolina, empregado desde 1928, é denominado índice de octano ou octanagem. Isso porque o 2,2,4 trimetil pentano ou isooctano apresentou o melhor comportamento ao entrar em combustão em um motor a gasolina, chegando-se à conclusão de que hidrocarbonetos que proporcionam o melhor rendimento em um motor desse tipo são aqueles de cadeias menores, com maior número de ramificações e com ramificações mais afastadas das extremidades da cadeia.
    Mas o que provoca esse melhor rendimento:
    • Esses hidrocarbonetos resistem melhor à compressão dentro de um cilindro do motor, isso significa que estes não entram em combustão por simples compressão e sim pela centelha provocada pela vela. Por o isooctano ter grande resistência a compressão, classifica-se a gasolina pelo índice de octano ou octanagem, o que não significa dizer que o combustível é rico em octano ou isooctano, mas sim, resistente à compressão.
    Para minimizar o efeito da combustão precoce por compressão, pode-se usar substâncias antidetonantes, que evitam a explosão do combustível antes do contato com a centelha. Na gasolina brasileira, o etanol é utilizado com a função antidetonante, já que sua resistência à explosão por compressão é 5% maior que do isooctano.
    • Todos os combustíveis reagem com um comburente e essas reações são chamadas reações de combustão. As reações de combustão têm um papel fundamental na vida do homem pois são fontes de energia térmica. Esta energia térmica pode ser transformada em outros tipos de energia e também podem transformar os materiais.
    O que é exatamente combustão?

    A combustão é um processo exotérmico onde uma substância combustível reage com uma substância comburente. Para que a combustão ocorra é indispensável a presença tanto do combustível quanto do comburente, ou seja:
    • O combustível é qualquer substância que é queimada enquanto o comburente é normalmente o oxigênio que se encontra no ar na proporção de 21%. Para que a combustão ocorra existe uma série de condições necessárias, uma delas é que os reagentes atinjam a energia de ativação necessária para a produção dos produtos da reação.
    A quantidade de oxigênio disponível determina se a combustão será completa ou incompleta. Na combustão completa, onde existe um excesso de oxigênio, uma substância formada por carbono e hidrogênio (hidrocarboneto) forma como produtos o dióxido de carbono (CO2) e a água (H2O), o que caracteriza uma oxidação total. Veja a equação abaixo.
    • CxHy + O2 x CO2 + y/2 H2O
    Na combustão incompleta, o oxigênio disponível não é suficiente, ocorrendo uma oxidação parcial que, dependendo da quantidade de gás oxigênio presente, pode formar monóxido de carbono (CO), fuligem (C) e água (H2O). Veja a equação abaixo.
    CxHy + O2  - CO + C + y/2 H2O
    É necessário que o combustível tenha um bom poder calorífico, ou seja, a energia liberada por unidade de massa quando ele sofre combustão. Veja alguns combustíveis com seus respectivos poderes caloríficos.

    Combustível Energia (kcal/kg) 
    • Gás natural 4.300 
    • GLP 12.000 
    • Gasolina 11.200 
    • Hidrogênio 29.000 
    • Lenha 2.500 
    • Óleo diesel 10.700 
    • Carvão mineral 6.800 
    • Álcool etílico 6.500 
    Isso significa que usando combustíveis diferentes para conseguir uma certa quantidade de energia, quantidades diferentes de combustíveis devem ser selecionadas.

    O Carvão:
    • Diferente do carvão vegetal (formado normalmente pela carbonização da lenha, chamado também de carvão de lenha), o carvão mineral é considerado uma rocha orgânica combustível. Portanto, é um carvão fóssil originado de vegetais submetidos a uma carbonização com perda de oxigênio e hidrogênio. Nesse tipo de carvão, pode-se encontrar também material inorgânico misturado ao orgânico. 
    Quanto maior for a idade do fóssil, maior é a concentração de carbono e, portanto, melhor é a qualidade do carvão. O carvão fóssil é classificado de acordo com a porcentagem de carbono existente. Entre eles temos a turfa (com 55 a 65% de carbono), o linhito (com 65 a 75% de carbono), a hulha (com 75 a 90% de carbono) e o antracito (com teor acima de 90% de carbono). À medida que a porcentagem de carbono aumenta, diminui-se o teor de umidade, o que torna o carvão mais interessante para a combustão.
    • No carvão, encontram-se muitos compostos aromáticos, pois na medida em que se aumenta a carbonização, mais hidrogênios são liberados, aumentando a quantidade de compostos aromáticos que podem ser utilizados como matéria-prima de indústrias como as de nylon, detergentes, pesticidas e índigo sintético.
    Como o carvão é sólido e normalmente impuro não é utilizado como combustível para transportes, apesar de já ter sido utilizado em barcos e em trens no passado.
    • A queima do carvão libera material particulado, como cinzas e óxidos de enxofre e de nitrogênio, dependendo da procedência do material, o que contribui para a formação da chuva ácida, além da liberação de dióxido de carbono, o que contribui para o efeito estufa.
    Os maiores produtores de carvão mineral no mundo são Estados Unidos, China, Índia, Rússia, África do Sul e Austrália. A existência de boas jazidas e a extração relativamente simples do carvão das minas tornam a atividade economicamente interessante, porém de alto risco para os mineiros que trabalham, expostos à grande concentração de cinzas de carvão, calor, ruídos, escuridão e sob risco de incêndios e desabamentos.

    Diversos países da União Européia, incluindo França, Itália e Reino Unido, 
    estão enfrentando uma escassez crítica de recursos naturais, 
    de acordo com relatório publicado EM 0/2014.

    O Gás Natural:
    • O gás natural é considerado um combustível fóssil. Sua produção ocorreu no período pré-histórico a partir de matérias orgânicas que foram soterradas em grandes profundidades. Dessa forma, o gás ficou acumulado em rochas porosas. 
    O gás natural é formado por uma mistura de hidrocarbonetos onde se encontra em maior concentração o metano, seguido do etano e também pequenas quantidades de propano, butano, gás nitrogênio e dióxido de carbono.
    • Essa mistura gasosa é encontrada no subsolo, diferentemente dos gases GLP (gás liquefeito de petróleo) e gás de refinaria que são provenientes de processos industriais. Existem dois tipos de gás natural. O que é encontrado em reservatórios onde há pouco petróleo é denominado não-associado. Já aquele que é encontrado misturado ao petróleo ou em pequenas quantidades sobre a reserva petrolífera é chamado de gás associado.
    A extensão da utilização do gás natural sempre esteve vinculada a possibilidade de seu armazenamento e transporte. No passado, não se dispunha de tecnologia para construção de gasodutos resistentes a vazamentos e que transportassem grandes volumes a longas distâncias. Essa tecnologia evoluiu muito até os dias atuais.
    • No Brasil, especificamente na Bahia, na década de 1940, descobertas de gás atendiam a industrias localizadas no Recôncavo Baiano. Em 1988, na Bacia de Campos (RJ), começou a produção de gás natural em maior escala, o que elevou sua participação como matriz energética.
    A oferta de gás natural teve um aumento significativo em 1999, com o Gasoduto Brasil-Bolívia, atualmente denominado Rede Gás Energia. Dessa forma, o seu uso foi estimulado em termoelétricas e em veículos automotivos. O gás natural é muito utilizado como combustível industrial e doméstico ou como matéria-prima para sínteses químicas, tem alto poder calorífico e é menos poluente que o petróleo.
    • A localização das reservas e a comprovação da existência de gás em nível comercial são processos que antecedem a sua produção, pois durante este processo há uma avaliação de necessidade de infraestrutura de produção e de transporte. Assim sendo, algumas vezes a produção não é economicamente viável para comercialização, então o gás é utilizado para o consumo de energia da própria plataforma de produção de petróleo e o excedente é queimado.
    O gás, após ser extraído, é transportado para uma Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN). Na UPGN, a primeira etapa consiste na eliminação do vapor d’água; a seguir, são separados: 1) o butano e o propano, constituindo o chamado GLP; 2) o gás natural, constituído de metano e etano e 3) uma pequena porção de gasolina natural, uma mistura de hidrocarbonetos de cinco ou mais átomos de carbono. A figura abaixo representa de maneira simplificada uma UPGN. O transporte pode ser feito transformando o gás natural em GNL – gás natural liquefeito – que pode ser transportado em navios ou caminhões a -160 oC, de modo a reduzir seu volume em cerca de 600 vezes.
    • Os dutos também são muito utilizados. Estes consistem de cilindros interligados que operam em alta pressão e por onde o gás natural passa na forma de GNC – gás natural comprimido. O gás natural é de extrema importância ambiental, pois é um combustível mais limpo, ou seja, sua combustão emite uma quantidade pequena de poluentes e fuligem quando comparado com combustíveis como carvão, diesel etc.
    Combustíveis Renováveis ou Biocombustíveis:
    • É comum ouvirmos frases envolvendo o termo “matriz energética brasileira”, mas o que significa isto? Entende-se por matriz energética a quantidade de recursos para geração de energia, disponíveis em um país ou região. A matriz energética mundial (Key World Energy Statistics 2006) envolve 14% de energia renovável (de biomassa, hidráulica, solar, eólica e geotérmica).
     Quando se considera apenas os países membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) este valor representa 6% do total. Por outro lado, no Brasil, a proporção de energia renovável na matriz energética é de 45%, isto graças ao extensivo uso de energia proveniente de hidroelétricas. Na busca por “energia limpa e renovável”, os biocombustíveis destacam-se porque podem trazer benefícios socioeconômicos e para o meio ambiente. No Brasil, o uso extensivo de biocombustíveis começou na década de 1970 com o programa do álcool combustível (PROAL) e, mais recentemente, incorporou-se o uso de biodiesel. Por que o interesse pelos biocombustíveis aumentou tanto no final do século XX?
    • Para respondermos estas perguntas, precisamos entender antes o que vem a ser biocombustível e o que o torna tão diferente e interessante em relação aos combustíveis fósseis. É justamente aí que falamos de química.
    Biocombustíveis são combustíveis produzidos a partir de material de origem biológica, não fóssil, também conhecido pelo termo biomassa, que se transforma através de reações químicas. Quando queimados, liberam energia que pode ser aproveitada para realizar trabalho. Os biocombustíveis são renováveis, isto é, são provenientes de fontes que podem ser repostas em quantidade e velocidade proporcional a sua utilização, sem o risco de se esgotar. Soma-se a isto o fato de serem biodegradáveis, diminuindo o impacto ambiental decorrente de sua utilização, do seu descarte ou em relação a possíveis acidentes como os derramamentos. 
    • Eles não contribuem para o acúmulo de CO2, um dos chamados “gases do efeito estufa”, uma vez que os gases gerados na sua queima são reabsorvidos na biomassa da safra seguinte, mantendo o equilíbrio entre absorção e emissão. Além disso, a presença do oxigênio na sua composição ajuda a reduzir as emissões de CO2, quando adicionados aos combustíveis fósseis.
    A constatação de que os combustíveis fósseis são extremamente poluentes e que têm reservas finitas, leva o homem a buscar os biocombustíveis. No entanto, outros fatores fazem crescer o interesse pelos biocombustíveis, entre eles, pode-se destacar:
    • O aumento do preço da gasolina, do diesel e derivados de petróleo;
    • O aumento da demanda mundial por combustíveis;
    • A diminuição das reservas de combustíveis fósseis;
    • Problemas geopolíticos (ameaça de guerra ou crise internacional);
    • A incidência de petróleo em poços cada vez mais profundos, que requer investimentos maiores e tecnologias mais complexas. 
    Assim, a produção e a utilização dos biocombustíveis favorecem a economia auto-sustentável essencial para a autonomia de países em desenvolvimento como o Brasil.

    • Biomassa é matéria orgânica que pode ser usada como fonte de energia limpa (não poluente). Ex.: todos os organismos fotossintetizantes aquáticos ou terrestres, estrume, óleos e lixo (resíduos orgânicos) urbanos, industriais ou florestais. A tabela a seguir dá alguns exemplos:
    Exemplos de Biomassas:
    • Plantas aquáticas e terrestres, Cana-de-açúcar, algodão, amendoim, dendê, girassol, soja, milho. Óleos vegetais Buriti, Babaçu, Mamona, Dendê etc. Resíduos urbanos Aterro sanitário, Lodo (esgoto). Resíduos industriais De madeira, de alimentos, de bebidas, de papel de celulose, de beneficiamento de grãos.
    Resíduos florestais Bagaço de cana, esterco:
    • O etanol e o biodiesel destacam-se no mercado interno e externo de biocombustíveis. Mas o que são realmente estas duas formas de combustível e o que há de novo nisto? Afinal, o etanol já é produzido há muitos anos!
    Embora já se produza biocombustíveis há séculos, foi apenas após o Protocolo de Quioto que o interesse mundial pelos biocombustíveis foi alavancado em função da necessidade de se reduzir a emissão de gases poluentes que contribuem para o aquecimento global (gases do efeito estufa).Além disso, a inclusão de biocombustíveis, como o álcool e o biodiesel, na matriz energética de diversos países permitiu o aumento de suas exportações e a possibilidade de novas inserções no mercado externo. Neste contexto, o Brasil adquiriu posição de destaque, uma vez que é o segundo maior produtor mundial de etanol (o primeiro em etanol de cana-de-açúcar), sendo considerado uma das potencias emergentes no setor.
    • A utilização de biocombustíveis tem sido preconizada por alguns para a substituição completa dos combustíveis fosseis e por outros para a substituição parcial. Estima-se que a frota de automóveis movidos a biocombustível passe de 4,2 milhões em 2007 para 15 milhões de unidades em 2013 (Associação Nacional de fabricantes de Veículos automotores – ANFAVEA).
    Os Estados Unidos (o maior produtor mundial de etanol) passaram a incentivar a produção de álcool a partir do milho e de celulose de madeira e os europeus passaram a conceder crédito tributário por tonelada de biodiesel vendido. Algumas vantagens da utilização de biocombustível são as seguintes:
    • É uma alternativa economicamente viável. 
    • É uma energia de fonte renovável. 
    • Diminui a dependência do petróleo, diminuindo a necessidade da importação de petróleo de regiões politicamente instáveis; 
    • Pode ser produzido por um maior número de países quando comparado com o número dos produtores de petróleo (cerca de 120 e 15 respectivamente)5, gerando um mercado mundial para o produto; 
    • Emite menos gases poluentes e material particulado do que o diesel e gasolina; 
    • O CO2 gerado na sua queima é consumido na safra seguinte, diminuindo a presença de gases do efeito estufa; 
    • Pode ser obtido de grande diversidade de matérias–primas; 
    • As matérias-primas usadas na sua produção são de fácil localização, pois se encontram na superfície, o que permite um maior controle da produção; 
    • O plantio da matéria-prima (biomassa) pode aproveitar terras inadequadas (para a produção de alimentos, por exemplo, como as regiões de seca, no nordeste, onde algumas oleaginosas conseguem se desenvolver; 
    • Impulsiona o aprimoramento de novas tecnologias; 
    • Atrai novos investimentos em regiões isoladas, incentivando o agronegócio; 
    A produção em lavouras familiares contribui para a inclusão social, a geração de empregos com aumento da renda familiar e o desenvolvimento econômico de diversas regiões do Brasil. 
    Mas será que só há vantagens? Certamente não. Podemos mencionar algumas das preocupações e desvantagens associadas à produção de biocombustíveis:
    • A produção da matéria-prima para a produção de grandes quantidades de biocombustíveis pode levar ao esgotamento do solo, à destruição da fauna e flora regional, aumento do risco de erradicação de espécies animais e vegetais, possível aparecimento de novos parasitas e invasão das áreas de florestas tropicais pelas lavouras; 
    • A energia necessária para a irrigação, aplicação de adubos e utilização de máquinas agrícolas, transporte e armazenamento não é levada em conta no balanço de emissão de CO2; 
    • Cogita-se que poderá haver uma subida nos preços dos alimentos, ocasionada pelo aumento da demanda de matéria-prima para a produção de biocombustíveis; 
    Independente da escala de produção, o importante é que se desenvolva tecnologia adequada, que se encontrem alternativas definitivas para a dependência do petróleo e que se resolvam ou amenizem os problemas ambientais associados à produção e uso de energia. Na verdade, deseja-se tudo isso e muito mais. Para atender esta necessidade, muita química é necessária. Aqui vamos nos deter nos biocombustíveis de interesse econômico, ou seja, o álcool combustível (etanol) e o biodiesel.

    O Álcool Combustível (Etanol):

    Neste momento, é importante fazer uma distinção entre o que significa, para nós consumidores, a palavra álcool e o que significa o álcool do ponto de vista da química. Popularmente, chamamos de álcool aquele líquido incolor de odor característico que evapora com facilidade e que usamos para diversas finalidades (desinfecção, combustível, solvente etc.). Na verdade, para estas finalidades estamos falando geralmente do álcool etílico (nome comum) ou etanol (nome oficial). Mas do ponto de vista químico, álcool é o composto orgânico que contém um grupamento OH (hidroxila) ligado a um carbono primário. 
    • O metanol tem sido usado como combustível, mas devido a sua maior reatividade e toxicidade ao ser humano, seu uso tem diminuído consideravelmente em relação ao etanol. Assim, abordaremos aqui apenas a utilização de etanol.
    O etanol possui diversas aplicações, mas aqui nos deteremos nos aspectos que consideram sua importância como um dos combustíveis que move o mundo. No Brasil, o álcool combustível pode ser usado sob duas formas:
    • O álcool anidro, aquele usado como aditivo para a gasolina; 
    • O álcool hidratado, aquele usado diretamente como combustível para os carros a álcool ou bicombustíveis (“flex fuel”). 
    Mas qual é a diferença entre estes dois tipos de álcool combustível? Por que se adiciona o álcool na gasolina?
    • A química nos ajuda a explicar tudo isto e as respostas para estas perguntas dizem respeito às propriedades químicas do álcool, da água e da gasolina. Vamos ver uma de cada vez:
    A diferença entre o álcool hidratado e o anidro é que o primeiro possui cerca de 7% de água, enquanto o segundo possui no máximo 0,7% na sua composição;  Na gasolina brasileira, o etanol é utilizado com a função antidetonante, já que sua resistência à explosão por compressão é 5% maior que a do isooctano. A adição de álcool à gasolina vem sendo feita no Brasil desde 1938. 

    Produção Exportação:
    • 1970 3,6 milhões de toneladas Insignificante
    • 2005 30,4 milhões de toneladas 2,1 bilhões de litros
    • 2006 17,7 bilhões de litros (hidratado e anidro) 3,3 bilhões de litros
    • 2010 NI 7 bilhões de litros
    • 2015 37 milhões 3,5 bilhões de litros
    • NI: não informado
    Álcoois como metanol e etanol podem ser obtidos tanto de fontes fósseis (gás natural) quanto de fontes renováveis (biomassa), mas o processo mais utilizado para a produção comercial de etanol é o da fermentação. Neste processo, um carboidrato é convertido em álcool pela ação de microorganismos (leveduras) através de uma sequencia de reações enzimáticas. Mas antes da levedura poder ser utilizada, várias etapas são necessárias. A este conjunto de etapas chamamos de processo fermentativo. As matérias-primas para a produção de álcool podem ser várias: cana-de-açúcar, milho, mandioca, beterraba.
    • Aquelas matérias-primas que contêm sacarose são as mais econômicas quando comparadas com aquelas que contêm amido ou celulose, uma vez que estas últimas requerem pré-tratamentos que encarecem o processo de produção do álcool. 
    A produção a partir de celulose também tem sido investigada, mas devido a sua estrutura e à presença de outros compostos que dificultam seu tratamento, o processo ainda apresenta um custo elevado. Novas tecnologias vêm sendo investigadas, em particular nos países em desenvolvimento, para superar estas dificuldades e muitos conhecimentos de química são necessários neste setor.
    • Então sacarose, amido e celulose são matérias-primas para a produção de etanol? Popularmente, podemos dizer que sim, mas é importante conhecer a diferença entre matéria-prima e substrato (ou reagente): a matéria-prima é o material (geralmente bruto) que contém o componente (substrato) que se converterá no produto de interesse. Logo, seria mais apropriado dizer que cana-de-açúcar, milho e lascas de madeira são as matérias-primas, enquanto os carboidratos (sacarose, amido e celulose) presentes nestes materiais são os substratos que serão convertidos em álcool. Alguns precisarão ser previamente modificados quimicamente. 
    A escolha da matéria–prima dependerá do clima e de das estratégias política e econômica de cada país. Matérias-primas e substratos utilizados na produção de álcool combustível em diferentes locais.
    • O etanol é gerado pelas leveduras no seu interior, a partir da glicose ou da frutose, assim algumas reações devem ocorrer inicialmente para transformar sacarose, amido e celulose em glicose ou frutose.
    Quando a sacarose é utilizada, a própria levedura é capaz de quebrá-la, formando glicose e frutose. A reação é catalisada por uma enzima chamada invertase
    • O amido é um polímero de glicose. Será que pelo fato de ser um polímero (possuir muitas unidades glicose ligadas entre si) vai gerar mais etanol? Vejamos como a química pode nos ajudar a responder esta pergunta. Pelo fato de possuir uma cadeia muito grande, o amido é insolúvel em água, apesar de possuir muitas hidroxilas (grupamento hidrofílico, que confere afinidade pela água).
    Se colocássemos o amido diretamente no fermentador, nas condições do processo (com outros componentes necessários ao crescimento da levedura), teria-se um material muito viscoso (uma espécie de cola) onde a levedura não poderia agir. Assim, para obtenção de etanol utilizando matérias primas amiláceas, estas devem ser tratadas previamente para quebrar (hidrolisar) o amido e tornar as moléculas de glicose mais acessíveis à ação do micro-organismo durante a fermentação. Neste processo, são utilizadas enzimas denominadas amiláceas. Para a utilização de celulose, que também é um polissacarídeo de glicose, o pré-tratamento envolve etapas bem mais complexas. Isto se deve à presença de outras moléculas de difícil degradação no interior das fibras de celulose.
    • Uma vez com o substrato pronto, a levedura converte a glicose em piruvato por um conjunto de reações em cadeia, denominado como via glicolítica. A via glicolítica converte glicose em piruvato através de reações de diferentes tipos (fosforilação, isomerização, desidrogenação, quebra etc.). Depois, o piruvato é convertido a etanol em duas etapas Veja, então, quanta química há neste processo e como a natureza pode realizar tantas reações de forma tão integrada.
    Este processo é viável economicamente graças à presença de enzimas específicas. As enzimas são catalisadores biológicos que podem aumentar a velocidade das reações em até 1012 vezes, de forma que é muito mais rápido deixar a levedura trabalhar para nós do que tentar realizar cada uma das reações separadamente ao longo do processo. Porém, para que o processo funcione bem, devemos entender a “(bio)química” da levedura e descobrir do que ela precisa para fazer estas reações. 
    • No caso específico deste processo, muitos cientistas já determinaram os requerimentos básicos (a fonte de carbono, nitrogênio, enxofre, fósforo etc.) para que a levedura produza etanol, mas para outros processos, ainda há muito para ser descoberto. Quem sabe você, leitor, um dia, não contribuirá para esclarecer os mecanismos envolvidos nesse processo?
    E como fica a questão ambiental?
    • A queima do etanol é pouco poluente, resultando predominantemente em calor, sem a fuligem tipicamente observada como decorrência da queima de combustíveis derivados do petróleo. Por outro lado, a queima da palha da cana-de-açúcar é um problema. Na época do Pró-álcool, as plantações de cana-de-açúcar substituíram grande parte da Mata Atlântica, especialmente na região nordeste, promovendo uma mudança significativa no ambiente, com elevação das temperaturas e da erodibilidade dos solos. 
    Este fato chamou a atenção dos profissionais da área que orientaram os usineiros a adotar procedimentos de proteção das regiões que restam e de recuperação de áreas degradadas. O Pró-álcool foi um programa de substituição dos derivados de petróleo, desenvolvido para minimizar sua dependência. Durante sua vigência, as vendas de veículos a álcool chegaram a atingir 80% das vendas no país, em 1985. No entanto, problemas de abastecimento de álcool no mercado e a elevação de seu preço em relação à gasolina foram alguns dos fatores limitantes da continuidade de sua ampla utilização.
    • A dependência do agricultor por muitos insumos (agrotóxicos e adubos) obtidos do mercado internacional, o extensivo uso da água e a possibilidade de esgotamento do solo pela prática da monocultura são outros pontos desfavoráveis para a produção indiscriminada de etanol a partir da cana. 
    Com a introdução, no mercado, dos carros bicombustíveis, a demanda por etanol aumentou novamente e as preocupações relacionadas com expansão da área de plantio da cana-de-açúcar ou do eucalipto (produção a partir de celulose) estão novamente em pauta.

    O Biodiesel:
    Podemos iniciar com a pergunta: o que é biodiesel, ou melhor dizendo, qual é a diferença entre o biodiesel e o diesel? 
    • Quimicamente, o diesel é uma parafina obtida do processamento do petróleo, enquanto o biodiesel é um éster obtido, em geral, da reação de um álcool com um (tri)éster presente ou obtido de biomassa.
    Tecnicamente, o biodiesel é definido como “combustível formado de ésteres mono alcila de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou gordura animal, denominados B100 (quando se tem 100% biodiesel) e seguindo as exigências da agência de padronização de materiais dos Estados Unidos da América (ASTM), no caso a norma ASTM D 67517. Veja quanta química há nisso!
    • O biodiesel é um substituto, atóxico, do óleo diesel (de fonte mineral), podendo ser usado tal qual (B100) ou em misturas com diesel em motores de caminhões, tratores, ônibus e outros veículos (motores à combustão interna de ciclo diesel), além de motores utilizados para geração de energia elétrica (estacionários). 
    A mistura diesel-biodiesel recebe o código de B2, B5, B25 etc., de acordo com o teor de biodiesel adicionado ao diesel: 2%, 5%, 25% e assim sucessivamente. A mistura até B20 pode ser usada em motores diesel sem necessidade de modificação técnica.

    Combustíveis: A química que move o mundo