A Desertização
- Desertização é um processo natural em que um ambiente transforma-se em um deserto. Trata-se de um processo lento e que possui causas naturais independentes da ação humana.
O debate gira em torno da denominação do termo. Desertificação é um fenômeno em que um determinado solo é transformado em deserto, através da ação humana ou processo natural. No processo de desertificação a vegetação se reduz ou acaba totalmente, através do desmatamento.
- Neste processo, o solo perde suas propriedades, tornando-se infértil (perda da capacidade produtiva). Apesar de reconhecer a existência de ambientes considerados instáveis (em processo de desequilíbrio ambiental) devido a técnicas inadequadas de cultivos.
O Ministério do Meio Ambiente leva em consideração quatro fatores para identificar que uma região está em processo de desertificação. São as mudanças climáticas, desmatamento, erosão e perda da produtividade agrícola. Baseado nos dados levantados, o governo federal está elaborando, junto aos estados, programas de combate a desertificação e a seca no nordeste do país.
- A desertização é um fenômeno natural, independe da ação antrópica, consiste na transformação da região em deserto através de acontecimentos naturais de grande magnitude. Desertos são espaços onde os níveis de precipitação registrados são muito baixos, em geral até 250 mm anuais em média, e onde os níveis de evaporação superam os de precipitação.
A baixa presença de vapor d’água na atmosfera cria condições para uma elevada amplitude térmica (variação de temperatura) diária. O vapor d’água é um gás estufa, por isso, nas áreas úmidas, o calor do dia é bastante retido à noite. Já nos desertos, a pobreza em vapor d’água favorece a dissipação do calor na atmosfera, tornando as noites bem mais frias que os dias.
- Como resultado disso, as paisagens desérticas costumam ter solos muito arenosos ou rochosos. A variação de temperatura induz a ocorrência da meteorização das rochas (uma forma de intemperismo físico), em que a sucessiva dilatação (que ocorre com o aquecimento durante o dia) e a contração (que ocorre com o resfriamento durante a noite) gera a fratura das rochas em blocos menores, o que garante o aspecto arenoso ou rochoso do solo.
As formas de vida são apenas aparentemente pouco diversificadas. As espécies se adaptam ao rigor do clima desértico. Os vegetais, em geral plantas xerófitas, são muito resistentes à seca e à alta salinidade. Encontram-se de forma dispersa no espaço, desenvolvem raízes profundas e armazenam água em seus caules, folhas e raízes.
- Apresentam espinhos que contribuem para a realização da fotossíntese evitando a perda de água para o meio por causa de seu formato aciculifoliado (folhas em forma de agulhas). Muitos animais mantêm hábitos noturnos e passam o dia protegidos dos intensos raios solares, escondidos na areia ou em tocas.
A maioria dos rios dos desertos tem caráter temporário. Surgem nos momentos de chuva e depois desaparecem. Como nos desertos as tempestades podem trazer grande volume de chuva concentrado em poucos minutos, caminhar pelo leito dos rios enquanto estão secos pode ser perigoso.
- É comum eles transbordarem em pouco tempo após o início das chuvas. Excetuando esses casos, os principais rios que cortam desertos têm nascentes em áreas não desérticas com chuvas regulares, como é o caso do rio Nilo.
A desertização é resultado de complexas interações entre a atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e a biosfera. Os desertos que encontramos na Terra atualmente são formados por pelo menos um dos fatores, ou uma associação deles, a seguir:
- Desertos em zonas de alta pressão subtropical: essas áreas são caracterizadas pela descida dos ventos contra-alísios, que têm uma ação ressecante. Os ventos contra-alísios, ao descerem nas altas pressões subtropicais, dispersam moléculas e dificultam a subida do vapor d’água, que é fundamental para que haja condensação e chuvas.
- Desertos em áreas à sotavento de grandes barreiras orográficas: alguns desertos do planeta se encontram impedidos por montanhas de ter um contato mais amplo com massas de ar úmidas. Dizemos que essas montanhas constituem barreiras orográficas ao fluxo da umidade. A vertente da montanha que é voltada para a origem do fluxo, e que recebe umidade, é chamada de “barlavento”. Já a vertente voltada contra a origem do fluxo, e que não recebe a umidade, é chamada de “sotavento”.
- Desertos Polares: são áreas onde a precipitação é muito baixa pois as temperaturas médias, que ficam sempre abaixo ou muito próximas de 0°C, restringem demais a evaporação que forma as chuvas. Não se encontram dunas de areia mas dunas de neve em certas áreas de desertos polares.
- Desertos costeiros: são os mais complexos. Estão presentes nas margens ocidentais da América, da África e da Oceania, sempre nas regiões próximas aos trópicos.
- Soma-se a isso o fato dessas áreas serem invariavelmente banhadas por correntes marinhas frias, que reduzem a evaporação nos oceanos e refrigeram a baixa troposfera, exercendo um efeito ressecante na atmosfera, ou seja, provocando chuvas sobre o oceano, que não chegam ao continente. A presença comum de dunas em formato de Lua Crescente voltadas para o mar são uma evidência clara do sentido dos ventos. O deserto de Atacama, que é o mais árido do planeta, é um deserto costeiro.
Muitos estudos em Geologia e Paleoclimatologia (ciência que estuda os climas antigos) apontam para a formação de desertos muito antigos no planeta, alguns já desaparecidos, muitos deles cobertos por florestas atualmente. Acredita-se que muitos desertos surgiram ao longo das glaciações que a Terra viveu. As glaciações congelam grande parte da água do planeta, tornando os climas mais secos, o que favorece a desertização.
- Desertificação é um processo regressivo da vegetação de um ambiente, gerado pela ação humana. É notavelmente mais comum em áreas de clima semiárido e em áreas que circundam desertos.
Diversas ações inapropriadas do homem sobre o solo podem provocar esse processo. Vejamos os principais:
- Monoculturas intensivas sobre ecossistemas frágeis. As monoculturas desgastam muito o solo pois exigem muitos nutrientes da Natureza, o que provoca seu empobrecimento. Em ambientes frágeis, a superexploração do solo pode ser perigosa nesse sentido.
- Desmatamento. A retirada da cobertura vegetal expõe os solos à radiação solar mais intensa e ao contato direto com as águas das chuvas. Naturalmente, esse desmatamento reduz a infiltração das águas no solo, a alimentação dos lençóis freáticos e aumenta o escoamento superficial das águas, potencializando a erosão, que empobrece o solo.
A Desertização
- As áreas afetadas sofrem diversas consequências, tanto no âmbito ecológico quanto nos âmbitos social e econômico. São consequências comuns em espaços desertificados:
Arenização dos solos; redução da retenção de recursos hídricos; impactos sobre a fauna e a flora; mimetização de espécies no ambiente transformado; impactos sociais decorrentes da falta de água, como desnutrição e desidratação; expansão da pobreza; migrações; desagregação familiar associada às migrações; perda de potencial e produtividade agropecuárias; redução das receitas agropecuárias locais; etc.
- Uma forma moderna de exploração dos espaços desertificados é o cultivo de eucaliptos. A planta já demonstrou capacidade de crescer nesse tipo de ambiente, no entanto sua presença age de forma nociva ao ambiente.
O eucalipto é uma espécie de crescimento muito rápido e de grande absorção de água do solo. Essa relação gera enorme extração de água dos solos das regiões desertificadas, o que contribui para a expansão dos areais, ampliando o espaço desertificado.
- A desertificação é um processo que ocorre principalmente em ambientes que possuem alguma fragilidade, como as regiões semiáridas e as que circundam desertos. Alguns casos chamam a atenção no Mundo.
Sahel africano: a palavra “sahel” tem origem árabe e significa “orla”. A região conhecida como Sahel corresponde à orla semiárida meridional do deserto do Saara, uma faixa relativamente fina de terras semidesérticas ao sul do Saara. É uma das regiões mais pobres do planeta, com péssimos indicadores sociais. Lá, boa parte da população combina uma agricultura itinerante rudimentar com um pastoreio nômade. As duas atividades contribuem para a desertificação. Há também a presença de monoculturas exportadoras comandadas principalmente por empresas europeias, que também contribuem para a desertificação.
- Mar de Aral: nos anos 1920, a antiga União Soviética desviou os cursos dos principais rios que alimentavam o Mar de Aral para irrigar projetos agrícolas na região semiárida do entorno do mar, processo que continuou sendo ampliado nas décadas seguintes. Com a redução dessa alimentação, o volume de água do mar foi progressivamente reduzindo-se. Hoje ele corresponde a aproximadamente 10% da área original e é uma das maiores tragédias ambientais da história. A região conta com um “cemitério de navios” encalhados e com águas e solo altamente salinizados
Portugal Meridional: as províncias do Alentejo e do Algarve sofrem forte pressão hidrográfica causada pelos baixos índices pluviométricos, pela agricultura intensiva e pela ampla infraestrutura turística. Em Alentejo, os portugueses construíram a barragem do Alqueva, criando o maior lago artificial da Europa para enfrentar a falta de chuvas e viabilizar a irrigação agrícola. Além disso, o governo restringiu o uso de água para atividades turísticas em Algarve como em piscinas e campos de golfe.
- No Brasil, os principais espaços que sofrem desertificação são municípios do Sertão nordestino e da microrregião da Campanha ocidental, no Sudeste Rio-grandense, com destaque para Alegrete.
No Nordeste, o clima semiárido associado a prática de uma agricultura de subsistência vinculada ao pastoreio de bovinos e caprinos explica a evolução da desertificação. Na campanha ocidental, é a pecuária de bovinos, uma atividade histórica com mais de dois séculos na região, que explica o processo, através da compactação dos solos provocada pelo pisoteio do gado.
- Para evitar a desertificação ou controlar seu avanço é necessário identificar e agir sobre as causas do processo. Deve-se proteger a vegetação; praticar a agropecuária de maneira apropriada, sem superexploração do solo ou uso de técnicas indevidas; e manejar os recursos hídricos de forma sustentável, evitando grandes desvios ou transposições de rios.
A desertificação é um processo reversível, sim é possível observar a retomada da expansão vegetal em ambientes que vivem a desertificação. No entanto, dependendo do grau de comprometimento, o processo pode levar séculos para se completar.
- O homem contribui para essa retomada desocupando as terras e aplicando formas de manejo que contribuam para a reversão do quadro. Esse manejo pode ser extremamente dispendioso, podendo custar bilhões de dólares.
Monoculturas em grandes propriedades, como a soja) explica a degradação dos solos na região. Processo de arenização ou desertização no Rio Grande do Sul