domingo, 21 de dezembro de 2014

Situação atual e perspectivas das Terras raras

As reservas brasileiras de terras raras representam
menos de 1% do total mundial. 

  • Somam 40 mil toneladas (medidas e indicadas) de terras raras contidas e estão localizadas nos estados de Minas Gerais (Poços de Caldas e São Gonçalo do Sapucaí, Cordislândia, Silvianópolis, Pouso Alegre, dentre outros) e do Rio de Janeiro (São Francisco do Itabapoana).
As terras-raras compreendem um grupo de 17 elementos químicos metálicos de ampla distribuição na crosta terrestre, mas a baixas concentrações. As maiores reservas encontram-se na China, na Comunidade dos Estados Independentes (CEI), nos Estados Unidos da América (EUA), na Índia e na Austrália. 
  • A aplicação desses elementos está voltada à produção de catalisadores, ímãs permanentes, ligas metálicas, polidores, fosforescentes e corantes e cerâmicas. Além dos escassos recursos minerais que lhe servem de matéria-prima, a sintetização de cada elemento requer alta tecnologia, o que onera substancialmente a cadeia de produção.
Além de proprietária de grandes reservas minerais, a China é o principal produtor dos elementos de terras-raras e controla cerca de 95% da oferta mundial. Entre os maiores consumidores dos compostos e metais estão a própria China, o Japão, os EUA, a Alemanha, a França e a Áustria. Em 2010, o consumo chinês foi de setenta mil toneladas.
  • De 1886 a meados da segunda década do século XX, o Brasil foi o maior exportador de monazita, um mineral portador de terras-raras. As reservas de monazita litorâneas foram exploradas até meados dos anos 1990. Por conter elementos radioativos, o aproveitamento da monazita para a obtenção de terras raras foi descartado. As reservas atuais localizam-se nos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro e totalizam cerca de 31 mil toneladas de metais contidos.
Sabe-se, também, que o país dispõe de reservas minerais significativas, ainda não exploradas, localizadas nos municípios de Presidente Figueiredo (AM) e de Catalão (GO).
  • A produção atual de óxidos de terras-raras no Brasil é de cerca de 550 toneladas, das quais a maior parte é de lantânio. As principais indústrias nacionais consumidoras diretas de produtos de terras-raras são as fabricantes de catalisadores, vidros e cerâmicas; e as consumidoras indiretas, as fabricantes de motores e turbinas eólicas. 
A demanda brasileira de terras-raras é incipiente, correspondendo a cerca de 1% da demanda mundial. O consumo de produtos de terras-raras na forma de compostos químicos e manufaturados foi de 1.315 toneladas, em 2010.
  • As importações brasileiras de terras-raras, em 2010, somaram US$ 14,1 371 milhões, e as exportações US$ 1,4 milhão.
Hoje existem diversos projetos de exploração em desenvolvimento, a maioria deles concentrada na China, EUA, CEI e Canadá. O aporte desses novos projetos deverá gerar uma sobre oferta já a partir de 2015, o que pode aumentar ainda mais a volatilidade dos preços desses elementos, que já é muito alta.
  • Neste artigo, a segunda e a terceira seção abordam a natureza, aplicações e principais ocorrências dos elementos de terras-raras. A quarta, quinta e sexta seções ocupam-se do mercado mundial desses elementos. As duas últimas seções discorrem sobre a ocorrência e a produção das terras-raras no Brasil e as perspectivas para o estabelecimento de uma cadeia produtiva nacional baseada nesses metais.
Definições:
  • Os elementos de terras-raras ou metais de terras-raras (abreviadas como TR) formam um conjunto de 17 elementos químicos que inclui o escândio (símbolo químico Sc), o ítrio (Y) e os 15 elementos da série dos lantanídeos [do lantânio (La) ao lutécio (Lu)]. O cério (Ce) é o mais abundante dos elementos de TR e o 25º elemento mais abundante na crosta terrestre. Por sua instabilidade isotópica, o promécio (Pm) é o mais raro dos elementos de TR.
Os elementos de TR são conhecidos desde 1787, quando o mineralogista sueco Carl Axel Arrhenius descobriu o mineral gadolinita, um silicato de cério e ítrio, na localidade de Ytterby, na Suécia. Entretanto, somente em 1913, com o uso da espectrografia de raios X, pelo físico inglês Henry Moseley, foi possível determinar o número exato de lantanídeos que completaria o conjunto de elementos de TR.
  • Ainda que abundantes, os minerais portadores de elementos de TR são difíceis de extrair, o que encarece sua produção. As técnicas de separação modernas incluem a troca catiônica, a cristalização fracionada e a extração líquido-líquido. 
Nas etapas de exploração e transformação são obtidos, sucessivamente, os seguintes produtos contendo elementos de TR: 
  • (I) mineral portador;
  • (II) Concentrados químicos;
  • (III) óxidos em elevados graus de pureza; e
  • (IV) Metais e ligas metálicas
Aplicações:
  • As aplicações mais comuns das TR são as seguintes: ímãs permanentes, circuitos eletroeletrônicos, catalisadores de gases de escapamento, equipamentos de laser, telefones celulares, corantes em vidros e cerâmicas, lentes de alta refração e ligas metálicas. Fontes de elementos de TR As principais fontes de elementos de TR são:
Minerais contendo ítrio e lantanídeos pesados (do térbio ao lutécio):
  • Gadolinita: silicato de ítrio, lantânio, neodímio, berilo e ferro;
  • Xenotímio: fosfato de ítrio;
  • Samarskita: óxido de nióbio-tântalo, ítrio e itérbio;
  • Euxenita: óxido de nióbio-tântalo, ítrio, cério e tório; e
  • Fergusonite: óxido de nióbio-tântalo, ítrio, cério e lantânio.
Principal depósito contendo ítrio e lantanídeos pesados:
  • Ontário (Canadá) – ítrio como subproduto de minérios de urânio.
Minerais contendo lantanídeos leves (do lantânio ao gadolínio):
  • Bastnasita: combinação de fluoretos e carbonatos de cério, lantânio e ítrio;
  • Monazita: fosfato de TR e tório;
  • Loparita: óxido de titânio e cério; e
  • Allanita: silicato de ferro, manganês, cério e ítrio.
Principais depósitos contendo lantanídeos leves:
  • Califórnia (EUA) e vários locais na China – bastnasita; 
  • África do Sul – monazita em pegmatito; e 
  • Península de Kola (Rússia) – loparita. 
Ocorrem, também, retidos na forma iônica em argilas lateríticas (mistura de óxidos e silicatos), como nos depósitos de ítrio e lantanídeos pesados no sul da China, ao teor de 65% de óxido de ítrio.
  • De forma secundária, os minerais de TR podem concentrar-se em depósitos arenosos aluviais ou marinhos, denominados pláceres, como as areias monazíticas na Austrália, no Brasil e na Índia. A monazita tornou--se uma fonte menos importante de TR em razão de seu conteúdo de tório radioativo. 
China:
  • Os elementos de TR contidos na bastnasita são obtidos nas províncias da Mongólia Interior, de Gansu e de Sichuan. Na primeira província, o mineral é obtido como subproduto da extração do ferro, o que garante custos relativamente baixos em relação aos demais produtores. 
Nas duas outras, a bastnasita é obtida diretamente por mineração. As reservas na Mongólia Interior atingem trezentos milhões de toneladas, a um teor de 1,5% de óxidos e fator de recuperação de 25% a 50%. Em Sichuan, as reservas chegam a 17 milhões de toneladas, a um teor de 3% de óxidos de TR e fator de recuperação de 50%. . O mineral extraído em Sichuan tem composição semelhante.
  • A extração de elementos de TR ocorre também nas províncias de Guangdong, de Hunan, de Jiangxi e de Jiangsu, a partir de argilas lateríticas. Nessas argilas, o conteúdo de cério é baixo, mas o de elementos pesados de TR e de ítrio é particularmente elevado.
Austrália:
Mount Weld
  • As reservas de Mount Weld foram estimadas em 12,2 milhões de toneladas de minério de monazita, a um teor de 9,7% de óxidos. A fina granulação do minério torna difícil seu tratamento. 
Nolans:
  • As reservas do projeto Nolans são estimadas em 30,3 milhões de toneladas, a um teor de 2,8% de óxidos. 
Outros projetos:
  • Estima-se que o projeto Dubbo Zirconia tenha uma reserva de 73,2 milhões de toneladas de minério, a um teor de 0,75% de óxidos. Além deste, o país conta com o Projeto Cummins Range, que se encontra no estágio de perfurações
Oferta mundial de TR:
  • Desde a descoberta, em 1886, das areias monazíticas em Cumuruxatiba, na Bahia, até 1915, o Brasil foi o maior produtor isolado de minério de TR. 
Entre 1915 e 1960, o país dividiu essa liderança com a Índia. Durante os anos 1950, a África do Sul atingiu a posição de produtor mundial depois da descoberta de veios pegmatíticos ricos em monazita. Dos anos 1960 aos anos 1980, a mina de Mountain Pass, na Califórnia, tornou-se a maior produtora de minérios de TR.
  • Atualmente, a produção mundial de óxidos de TR, de cerca de 134 mil toneladas, é composta por 97% de participação chinesa. Além disso, praticamente toda a oferta de TR pesadas é suprida pela China, com cerca de 97% em 2010. 
As preocupações com o suprimento intensificaram-se em virtude dos recentes movimentos do principal produtor de TR. Nos últimos dois anos, a China vem anunciando algumas restrições ao comércio de TR, que incluem tributos mais altos sobre os minérios, restrições rigorosas às exportações e pressões para o processamento do minério no próprio país. 
  • Essas medidas foram complementadas pela repressão ao contrabando de substâncias minerais. Em setembro de 2009, a China anunciou planos de redução da quota de exportação em 35 mil toneladas entre 2010 e 2015, sob a alegação de conservar suas reservas e proteger o meio ambiente. Em outubro de 2010, o jornal China Daily publicou que o país reduziria as quotas de exportação de TR em cerca de 30% para proteger suas reservas da sobre-exploração. 
Já no fim de 2010, foi anunciado que a primeira rodada de quotas de exportação de 2011 seria de aproximadamente 14,5 mil toneladas, o que representava uma queda de 35% da primeira quota de 2010. Além das medidas restritivas internas, a China realizou aquisições de mineradoras e de áreas em países africanos com o propósito de garantir o suprimento de minerais de TR.
  • Em consequência do aumento da demanda e das restrições da oferta exportada iniciadas pela China, novas pesquisas de fontes de TR estão em curso na África do Sul, na Austrália, no Brasil, no Canadá, na Groenlândia e nos EUA. As minas nesses países foram fechadas quando houve a acelerada queda de preços, nos anos 1990, provocada pela abundante oferta chinesa. 
Conforme já comentado, está em processo de reabertura a mina de Mountain Pass, na Califórnia. Outros depósitos importantes em desenvolvimento incluem os projetos Nolans e Mount Weld, na Austrália, e o projeto Hoidas Lake, no Canadá. Este projeto tem potencial para suprir cerca de 10% do consumo anual de TR nos EUA.
  • Cogita-se, ainda, como mencionado anteriormente, a reativação das minas no complexo intrusivo alcalino de Thor Lake, no Canadá, outras no Vietnã, nos EUA (Nebrasca) e em Kvanefjeld, Groenlândia. 
Além disso, a mineradora australiana Lynas está concluindo uma refinaria de processamento de TR no porto de Kuantan, na Malásia, onde será processado o minério de baixa radioatividade da mina de Mount Weld. 
  • A empresa espera suprir cerca de um terço da demanda mundial de TR, ex-China.Uma fonte significativa de óxidos de TR encontra-se no lixo eletrônico e de outros equipamentos que contêm componentes produzidos com TR. 
Os recentes avanços na tecnologia de reciclagem estão viabilizando a extração dessas substâncias. No Japão, estima-se que existam trezentas mil toneladas de TR armazenadas em produtos eletrônicos fora de uso.
  • Há também quantidades significativas de óxidos de TR em rejeitos acumulados em cinquenta anos de extração de minérios de urânio e de loparita. 
Apesar de disporem de reservas expressivas, tanto os EUA quanto a Austrália interromperam a produção nos anos relacionados na Tabela 4 em razão dos baixos preços.
  • Conforme explicitado, embora a China domine a oferta mundial de TR, diversos projetos se encontram em desenvolvimento em outros países. O período de maturação de um projeto novo, até o início da produção, é de seis a dez anos.

Situação atual e perspectivas das Terras raras

  • Nos últimos tempos, ele só veste preto, que considera a cor do poder. Conserva barba e cabelos brancos, está sempre de óculos escuros, se diz místico e já foi chamado pelo The New York Times como ?o geólogo que fala com o cosmo?. 
É frequentemente citado como um dos 20 brasileiros mais ricos, mas garante que a imprensa exagera quando o chama de bilionário. ?Isso é balela, sou um batalhador?, afirma o empreendedor baiano João Carlos Cavalcanti, o JC, conhecido no mundo da geologia como o ?farejador de minérios? depois de ter descoberto minas gigantes de fosfato, ferro e níquel ao lado de sócios como Daniel Dantas, Eike Batista e os Ermírio de Moraes, donos do grupo Votorantim.
  • A seguir apresenta-se um sumário sobre os principais países produtores de TR, contemplando sua estrutura de oferta e projetos potenciais.
China:
  • Desde 2003, a produção na China está estruturada em dois grupos. O grupo do norte compreende as províncias da Mongólia Interior, de Gansu e de Sichuan, cuja produção baseia-se em minérios portadores de bastnasita.
Esse grupo responde por cerca de 70% da produção chinesa total de TR. O grupo do sul compreende as províncias de Guangdong, de Hunan, de Jiangxi e de Jiangsu. Sua produção é baseada em argilas enriquecidas em elementos pesados de TR.
  • As exportações de TR foram rigidamente controladas pela China, como já comentado. As cotas de exportação estão reduzindo-se gradualmente desde 2005, mas a redução nos últimos dois anos foi mais acentuada.
Sabe-se que a China formou grandes estoques depois da queda acentuada nos preços, no fim dos anos 1990. Além disso, em 2006, o país criou uma taxa de exportação cujo efeito foi o aumento em 31% dos preços das matérias primas de TR e a consequente perda de competitividade dos produtores de ímãs fora da China, que ainda perdura.
  • Essa evidência mostra que tais políticas obtiveram êxito no estímulo ao crescimento da produção de alto valor agregado. Há uma grande preocupação de que a China possa, em breve, restringir mais severamente ou mesmo sustar a exportação de alguns elementos de TR a fim de garantir o suprimento de sua própria demanda crescente nos setores de produção de energia eólica, bicicletas elétricas e motores híbridos. De fato, tal é a expectativa de crescimento da demanda por TR na China, que o país pode tornar-se um importador líquido desses produtos.
Recentemente, o país indicou que poderia aprofundar esse processo. Assim, torna-se necessário o desenvolvimento de minas fora da China. Há, de fato, preocupação com o fato de o país reduzir cotas e tarifas de exportação para forçar uma redução dos preços mundiais e inibir produtores iniciais. 
  • Em razão das implicações comercialmente danosas, a China deve ser encorajada a manter a consistência de sua estratégia de longo prazo para as TR. Entretanto, em razão da grande participação das empresas chinesas em produtores estrangeiros, de seus próprios limites de produção e dos níveis de demanda interna, parece improvável que a China decida reduzir cotas e tarifas de exportação.
Com sua capacidade produtiva cada vez maior e seu interesse em aplicações de tecnologias limpas, a demanda interna por TR na China vem aumentando. A crescente produção de ímãs, motores e baterias para exportação agregarão valor à cadeia de suprimento de TR. 
  • As empresas fora da China devem escolher entre manter a confiança na cadeia de suprimento chinesa e desenvolver cadeias de suprimento não chinesas. Essa opção é mais atraente em razão das preocupações sobre direitos de propriedade intelectual, restrições ambientais e gestão de risco de suprimento.
Austrália:
Na Austrália, há três projetos potencialmente produtores para 2014:
  • Mount Weld, Nolans e Dubbo Zirconia. Os dois últimos, entretanto, com menores chances de realização.
Projeto Mount Weld:
  • Este projeto encontra-se bem adiantado, com as aprovações necessárias e a construção em andamento. Envolve tanto uma mina quanto uma planta de beneficiamento que produzirá um concentrado de 40% de óxidos de TR. Esse concentrado será transportado por mil km até o porto de Fremantle e remetido à Malásia, onde será refinado. 
A planta na Malásia oferece as vantagens da abundância de água, energia elétrica e mão de obra a baixo custo e da proximidade com as indústrias químicas. O projeto deveria começar no fim de 2009, mas foi suspenso por dificuldades de financiamento. Parte do capital provinha da empresa chinesa China Nonferrous Metal Mining, o que foi bloqueado pelo órgão regulador australiano. 

Projeto Nolans:
  • Neste projeto, os estudos de pré-viabilidade já foram realizados e a produção da planta-piloto já iniciou. O projeto beneficia-se da ocorrência conjunta de fosfato, cloreto de cálcio e urânio. Apesar de contar com investimentos da empresa East China Exploration, ainda busca outros parceiros para a obtenção dos financiamentos necessários ao início da produção. 
Além disso, permanecem algumas questões críticas como: definir as reservas de minério; desenvolver um processo de extração; concluir um estudo de viabilidade; obter as aprovações para a produção; e obter apoio de clientes potenciais. 

Projeto Dubbo Zirconia:
  • Este projeto dispõe de uma planta-piloto e já processou setenta toneladas de minério, do que resultou a produção de mais de 1.300 kg de zircônio e trezentos kg de nióbio. A produção de ítrio e demais elementos de TR ainda será acrescentada. Espera-se que a produção anual de mil toneladas de TR comece em 2012.
Canadá:
Há dois projetos no Canadá que poderão iniciar a produção entre 2012 e 2014: Hoidas Lake e Thor Lake. 
  • O projeto de Hoidas Lake encontra-se em um estágio exploratório avançado, com alguns testes de produção já realizados. Mas persistem questões críticas a serem solucionadas, como o dimensionamento da reserva de minério, o desenvolvimento de um processo de extração, a finalização do projeto de viabilidade, a obtenção de aprovações para a produção e o apoio de possíveis clientes.Estima-se que a produção anual fique entre três e cinco mil toneladas de óxidos de TR. 
O projeto Thor Lake já desenvolveu um avançado trabalho de exploração e o estudo de pré-viabilidade foi iniciado. Os obstáculos a serem vencidos são semelhantes àqueles enfrentados pelo projeto Hoidas Lake. Espera-se, no projeto Thor Lake, uma produção anual de cinco a dez mil toneladas de óxidos de TR, a partir de 2014.

Estados Unidos:
  • Nos EUA, a única mina cuja produção ainda não foi iniciada é a de Mountain Pass, visto que os demais projetos potenciais se encontram em estágios iniciais.
O projeto Mountain Pass consiste da reabertura da antiga mina de elementos de TR situada na Califórnia, que já foi a maior do mundo. 
  • O volume das reservas já está provado e são conhecidos os métodos de produção e beneficiamento de cada elemento de TR. O projeto hoje dispõe de todas as licenças de produção e ambientais. O objetivo de produção diária é de duas mil toneladas de minério a partir de 2012. 
A planta de separação já foi reiniciada para processar as pilhas de estoque de concentrado de bastnasita e a mineração de material novo reiniciou em 2011. Em 2009, a produção de óxidos de TR foi de 2,15 mil toneladas; em 2010 e 2011, de três mil toneladas; e, em 2012, espera-se produção de vinte mil toneladas de óxidos. 
  • A empresa controladora do empreendimento, Molycorp, pretende integrar gradualmente a produção até a produção de ímãs de neodímio.
Outros países:
  • Nos demais países, os projetos encontram-se em estágio inicial. Kvanefjeld, na Groenlândia, poderá atingir a produção de vinte mil toneladas anuais de óxidos de TR em 2014, apesar das etapas de planejamento e avaliação a serem vencidas.
No Brasil:
INB, CNEM e CMBB: a radioatividade associada às terras-raras:
  • A baixa concentração dos elementos de terras-raras nos diversos minerais em que estão disponíveis dificulta a mineração. 
A separação dos elementos por processos químicos complexos pode causar graves danos ao meio ambiente. O pequeno mercado mundial e doméstico desestimula investimentos de empresários, incomodados ainda pela burocracia estatal. 
  • Mas um dos maiores problemas que envolvem as terras-raras é a sua constante associação a elementos radioativos, como tório e urânio, que, além de competirem pela atenção do minerador, ainda trazem encargos adicionais e regras especiais de manuseio, depósito e licenciamento ­ambiental.
Esse é o caso da monazita explorada no Brasil até recentemente. De acordo com Tadeu Carneiro, diretor-geral da CBMM, o mineral retirado das areias monazíticas das praias do Norte Fluminense tem 8.000 ppm (partículas por milhão) de tório, elemento radioativo, de índice muito alto, que dificulta a operação.
“Se não houver cuidado e boas técnicas, os resíduos são altamente contaminantes e poluentes, tanto na parte química como na radioativa”, afirma Fernando Lins, do Cetem. Alguns países, como os Estados Unidos, inclusive abandonaram a exploração da monazita por conta dos elementos radioativos.
No Brasil, se houver radioatividade na mineração, a burocracia é outro problema, principalmente para o setor privado. Para obter uma licença de lavra, o minerador deve recorrer ao órgão estadual de meio ambiente; com radioatividade, porém, ela deve ser dada pelo Ibama. 
  • E ainda é preciso passar por fiscalização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Além da lavra, o tratamento químico ao qual a monazita é submetida para separação das terras-raras também exige licença da Cnen.
Com tanto material radioativo, que passou a ser considerado estratégico na década de 60, a exploração da monazita brasileira é feita, desde então, exclusivamente pela empresa estatal Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), com supervisão, fiscalização e pesquisa científica da Cnen. Como o principal foco da INB é a ­produção de urânio, a empresa, que chegou a produzir terras-raras, não as tem como prioridade e suspendeu a produção em 2006. 
  • Segundo Alair Veras, engenheiro da INB, o empresário brasileiro privado não está acostumado ao licenciamento pela Cnen. “É preciso, por exemplo, um plano de transporte do material. Aí, aparecem dificuldades e a Cnen não é ágil. 
O tório não tem aplicação e a estocagem é um problema por ser altamente radioativo, principalmente quando separado. O custo de manter esse produto estocado ad eternum é muito alto. A Cnen é responsável por definir um local para depósitos radioativos. Mas tem muita dificuldade. É algo muito político”, comentou.
  • Mais preocupante, afirma Veras, é que hoje, ciente das dificuldades, o empresário muitas vezes esconde que há material radioativo em sua mineração, “porque, se falar, vai ter um problemão e não vai conseguir trabalhar”, aumentando os riscos ambientais da exploração. 
Por conta disso, o senador Luiz Henrique, relator da subcomissão do Senado que discute o setor de terras-raras, questionou sobre a possibilidade de quebra do monopólio estatal sobre minerais com elementos radioativos, definido na década de 50, no início da corrida nuclear, como parte de uma política nacional de segurança nacional.
  • “Quebrar monopólio é uma decisão política. Há interesses envolvidos, inclusive militares, o que pode dificultar. Talvez isso tenha que ser discutido para que a gente possa dar condições ao empresário privado de competir no mercado. 
Não vejo a quebra do monopólio como algo ruim”, afirma Alair Veras, citando que, em outros países, como os Estados Unidos, o setor público e o privado atuam conjuntamente na exploração de elementos ­radioativos.

Passivo ambiental:
  • Em um novo cenário, José Farias de Oliveira, professor do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe-UFRJ, sugere que haja participação da INB no aproveitamento dos elementos radioativos presentes em minerais de terras-raras como parte do esforço de evitar a contaminação do meio ­ambiente.
Com efeito, a manipulação das areias monazíticas do ­litoral brasileiro demonstrou ser uma operação de alto custo. Por conta da radioatividade, até hoje há ações na Justiça de antigos trabalhadores da extinta Nuclemon, bem como ações para a recuperação ambiental das antigas fábricas e lavras, onde ainda há problemas como radiação e degradação química do terreno e dos recursos hídricos. 
  • Segundo Jorge Luiz Brito Cunha Reis, coordenador-geral substituto de Transporte, Mineração e Obras Civis do Ibama, a exploração de monazita em Poços de Caldas (MG) na década de 80 deixou um passivo ambiental altíssimo. Segundo ele, a INB tem um pré-projeto de R$ 500 milhões para recuperar áreas na cidade mineira. O projeto completo deve ficar em R$ 1 bilhão.
Reis revelou aos senadores que o Ibama aprovou o pré-projeto. Porém, o orçamento da INB em 2012, de R$ 850 milhões, teve 65% do valor contingenciado. “Ou seja, não vai dar para a INB fazer. Ainda assim, quando executado, será R$ 1 bilhão, sem retorno, para recuperar a área, que tem água ácida”, disse. 
  • Na Austrália, a radioatividade também foi um fator que incomodou o projeto de exploração de terras-raras pela Lynas Corporation. O minério encontrado naquele país também tem radionuclídeos — urânio e tório — acima do que é permitido para tratamento pelas leis locais.
“Então, optaram por ir para a Malásia, onde a legislação é mais flexível. Tanto a classe política quanto a sociedade malaias foram contrárias à planta. Mas conseguiram o licenciamento, com a condição de que, caso ocorra qualquer acidente, todos os rejeitos devem ser levados para a Austrália”, narrou Edson Ribeiro, diretor da Vale.

Situação atual e perspectivas das Terras raras