terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Cana de açúcar

A Cana de açúcar 

  • A cana-de-açúcar possui boa adaptação ao território Brasileiro, sendo por isso, cada vez maior o crescimento de seu cultivo em vários estados. Mas mesmo assim o cultivo da cana não pode ser realizado em qualquer região, pois essa cultura possui exigências ambientais e de manejo. 
Quando essas exigências não são atendidas geralmente ocorre queda na produtividade, perda na qualidade da cana e conseqüentemente no produto final, ou até mesmo quando os fatores necessários à cultura não forem os ideais, poderá ocorrer a morte da planta (GROFF, 2010).
  • As exigências da cana-de-açúcar ao ambiente estão relacionadas diretamente ao clima, temperatura, umidade, luz, solo e disposição de nutrientes. Sendo assim importante o estudo da área a qual se pretende cultivar a cana, escolhendo dessa forma uma variedade que se adapte aquele ambiente. Outro dos fatores que deve ser analisado antes do plantio é a característica genética da cana-de-açúcar, pois hoje atualmente o melhoramento genético possibilita desenvolver variedades mais produtivas e com maior resistência aos ataques de pragas e doenças (GROFF, 2010).
Entre as áreas de conhecimento da Engenharia de Produção este trabalho enquadra-se na área de Engenharia da Sustentabilidade. A qual é definida como “Planejamento da utilização eficiente dos recursos naturais nos sistemas produtivos diversos, da destinação e tratamento dos resíduos efluentes destes sistemas, bem como da implantação de sistema de gestão ambiental e responsabilidade social.” (ABEPRO, 2010).
  • Quanto as sub-áreas de conhecimento relacionadas a Engenharia da Sustentabilidade, o presente trabalho apresenta seu foco, segundo (ABEPRO, 2010), voltado para sub-área do Desenvolvimento Sustentável.
Este trabalho foi desenvolvido dentro da disciplina de Fatores de Produção Agropecuária (GROFF, 2010), no curso de Engenharia de Produção Agroindustrial da FECILCAM, durante o ano de 2010, tendo como objetivo a busca de informações referentes ao cultivo adequado da cana-de-açúcar visando à produtividade e qualidade através de uma produção limpa (MEZAROBA e MENEGUETTI, 2010).
  • O presente artigo apresenta-se dividido em sete quatro seções. Na primeira seção aborda-se brevemente o tema, seguindo na segunda seção sua teoria de base, sendo na terceira seção abordada a metodologia e na quarta as considerações finais.
Fatores Relacionados ao cultivo da Cana de Açúcar:
Fatores relacionados ao ambiente:
  • GROFF (2010) informa que o clima ideal é aquele que apresenta duas estações distintas, uma quente e úmida, para proporcionar a germinação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo, seguido de outra fria e seca, para promover a maturação e conseqüente acumulo de sacarose nos colmos.
FREITAS (2007) explica que mensalmente as temperaturas médias devem ficar entre 300C a 340C fator que favorece o acumulo de açúcar, abaixo de 200C o crescimento é muito lento. Acima de 350C também é lento, e além de 380C o crescimento é nulo. A umidade em excesso compromete a produtividade e a falta de chuva provoca a morte da planta, o ideal é que durante o crescimento da planta a umidade esteja entre 80 e 85%, fator que favorece o alongamento rápido da cana, durante o amadurecimento a umidade deve ficar entre 45 e 65% , favorecendo o acúmulo de açúcar na cana.
  • De acordo com TOWNSEND (2000) a luz está relacionada ao espaçamento, plantas muito próximas competem por luz e conseqüentemente tem problemas com a fotossíntese tendo perdas no acúmulo de nutrientes e açúcar. A luz não influência na brotação da planta, mas sem luz não há perfilhamento nem crescimento da cana.
TOWNSEND (2000) informa também que são preferíveis os solos localizados nas baixadas, planos, profundos, porosos e férteis, argilosos ou arenosos. Neste caso os solos arenosos são melhores, pois auxiliam o acumulo de açúcar pela planta. O pH entre 7 e 7,3 melhora a capacidade de absorção de nutrientes principalmente cálcio e magnésio. Solos propensos a encharcamento podem provocar o apodrecimento da planta, solos secos também podem provocar a morte da planta.
  • GROFF (2010) cita que no caso de uma topografia acidentada devem ser realizadas algumas práticas conservacionistas para diminuir o risco de erosão do solo, como o plantio em curva de nível e o terraceamento. A cobertura morta age contra as altas temperaturas e os Segundo FILHO (1994), além de carbono, hidrogênio e oxigênio, a planta necessita de uma série de outros nutrientes que estão apresentados abaixo junto com os problemas ocasionados pela falta deles:
-Macronutrientes: exigidos em maiores quantidades (kg/ha): nitrogênio: atraso no desenvolvimento vegetativo; fósforo: diminuição e afinamento do tamanho dos colmos; potássio: afinamento dos colmos; cálcio: as folhas podem morrer prematuramente; magnésio: apresenta lesões em forma de ferrugem; enxofre: estreitamento das folhas e afinamento dos colmos.
  • -Micronutrientes: exigidos em menores quantidades (g/ha): boro: ressecamento das folhas; cloro: murchamento das folhas; cobre: afinamento das folhas; ferro: a planta inteira pode tornar-se clorótica; manganês: desfiamento das folhas; molibdênio: secamento prematuro das folhas; e zinco: perfilhamento reduzido.
A correta disposição de macro ou micronutriente no solo ou no adubo faz com que haja um aumento na produtividade da cana e, conseqüentemente, na de açúcar.

Fatores Relacionados à Planta:
Genética
  • MARQUES (2009) explica que alguns cruzamentos possibilitaram aumento na fertilidade e resistência a pragas e doenças. O primeiro cruzamento efetuado para essa melhoria foi entre a Saccharum officinarum (rica em açúcar) e a Saccharum spontaneum (tolerante a pragas e doenças). 
Já existem variedades de cana-de-açúcar geneticamente modificadas sendo testadas em campo, isso possibilitará o aumento da produtividade comercial da cultura. A sacarose e o etanol provenientes da cana-de-açúcar transgênica são idênticos aos produtos obtidos da cana convencional.
  • De acordo com FREITAS (2007) os principais fatores relacionados à qualidade genética são as plantas com alto teor de sacarose, pureza e porcentagem de fibra na cana. As principais variedades de cana são as que possuem alto teor de sacarose e resistência a pragas e doenças.
Fatores Relacionados ao Manejo da Cultura:
Escolha da espécie ou variedade:
  • ESPINOZA (2010) explica que antes de escolher a variedade a ser cultivada deve-se definir a que fim vai se destinar a planta, pois existem variedades diferentes para o consumo animal, produção de etanol, açúcar, cachaça e alimentos.
As variedades a serem escolhidas devem apresentar alto índice de produtividade, elevado teor de açúcar, boa capacidade de rebrota, ausência de florescimento ou fechamento, fácil despalha, resistência a pragas e doenças, bom perfilhamento, difícil tombamento e ausência de joçal.
  • Ainda segundo o mesmo autor, devem ser escolhidas de acordo com as exigências do clima e solo onde serão cultivadas, e com o período de maturação (tardia: setembro e novembro. Média: julho a novembro ou precoce: maio e junho). A boa qualidade das mudas é o fator de produção de mais baixo custo e que maior retorno econômico proporciona ao agricultor, principalmente quando produzida por ele próprio.
Escolha da área para plantio:
  • Para TOWNSEND (2000) ao se escolher a área de plantio deve-se proceder a coleta e análise do solo, a fim de determinar a necessidade ou não de correção e adubação. Devem-se evitar áreas infestadas por cupins subterrâneos, pois prejudicam a germinação, além de ter elevados gastos com seu controle. Escolher a área conforme os fatores relacionados ao ambiente.
Correção e Fertilização da área e da cultura:

ROSSETO, et al. (2004) explica que a correção e fertilização da área da cultura são práticas utilizadas na melhoria da produtividade, elas são procedidas de uma análise química do solo. As técnicas mais utilizadas para correção e fertilização segundo ele são:
  • Calagem: Utilizada para corrigir a acidez do solo, já que solo básico aumenta a produtividade. A calagem também neutraliza o alumínio tóxico e o manganês, aumenta a disponibilidade de cálcio, fósforo e magnésio.
  • Gessagem: constitui importante fonte de cálcio e enxofre para as plantas, a um custo relativamente baixo.
  • Adubação com vinhaça: Utilizada como fertilizante para substituir a adubação química.
  • Adubação verde: utilizada com as vantagens de controle da erosão e de ervas-daninhas, reciclagem de nutrientes, elevação da CTC do solo, aumento da atividade microbiana e da retenção de água do solo e fixação do N2 atmosférico.
  • Adubação mineral: Feita para corrigir o nitrogênio, o fósforo e o potássio.
Espaçamento entre plantas e sistema de plantio:
  • TOWNSEND (2000) recomenda que a cana-de-açúcar tenha um espaçamento entre plantas de 0,9m a 1,4m. Quanto mais adensado for o plantio, menor será o diâmetro dos colmos e menor será a produtividade. São necessárias de 8 a 15 toneladas de mudas para cada hectare a ser plantado. Existem duas épocas de plantio de acordo com as diferentes regiões, uma entre janeiro a março e outra entre setembro e outubro. A cana-de-açúcar deve ser plantada em sulcos, com profundidade próxima a 30 cm e coberta com uma camada de 5 cm a 10 cm de solo.
Controle de pragas e doenças:
De acordo com MARQUES (2009) dentre as principais pragas e doenças da cana-de-açúcar estão:
  • Carvão: A doença provoca definhamento na cana-de-açúcar, reduzindo os rendimentos agrícolas e industriais;
  • Escaldadura: A escaldadura provoca baixa germinação das mudas, morte dos rebentos ou de toda a touceira e baixo rendimento em sacarose. Com os avanços da doença advêm à seca e a morte das plantas.
  • Raquitismo das soqueiras: As mudas portadoras do raquitismo exibem germinação lenta e desuniforme.
  • Podridão Abacaxi: Os toletes atacados não germinam, provocando falhas na lavoura, podendo dar prejuízo total.
  • Nematóides: diminuem cerca de 43% da produção de colmos.
  • Cupins: Os principais prejuízos ocasionados pela infestação de cupins são causados aos toletes destinados aos novos plantios. Os cupins destroem o tecido parenquimatoso e as gemas, causando falhas na lavoura.
  • Broca da cana: Os prejuízos decorrentes do ataque são a perda de peso devido ao mau desenvolvimento das plantas atacadas, morte de algumas plantas, quebra do colmo na região da galeria por agentes mecânicos e redução da quantidade de caldo e sacarose.
  • Besouro Migdolus: em sua fase larval, ataca e destrói o sistema radicular da cana-de-açúcar. As perdas provocadas por esse inseto podem chegar a completa destruição da lavoura.
  • Besouro-da-cana: Bloqueia a parte basal das plantas e rizomas, surge amarelecimento do canavial, morte das plantas e falhas nas soqueiras.
O controle de plantas invasoras pode ser feito através de capinas ou pelo uso de herbicidas. O primeiro é melhor, pois não deixa resíduos de herbicidas na planta. Da mesma forma o monitoramento do surgimento de pragas e doenças deve ser constante, adotando-se medidas de controle, quando necessário, como, por exemplo, o uso de inimigos naturais, fungicidas e pesticidas, que não causem danos ao ambiente.

Fatores que influenciam a qualidade da cana-de-açúcar:
  • ESPINOZA (2010) cita que o uso de queimadas antes da colheita pode provocar a exsudação de açúcares na região da casca. Estes açúcares podem se perder quando se realiza o processo de lavagem dos colmos na indústria utilizada para eliminar as impurezas como a terra que fica aderida ao colmo devido à exsudação. 
A queima da folhagem pode ainda ocasionar a formação de furfural e do hidroximeetilfurfural no próprio caldo da cana. A irrigação e fertirrigação feitas por gotejamento podem aumentar o rendimento e a qualidade da cana.

Colheita:
  • Segundo GROFF (2010) é ideal que a colheita seja realizada na fase em que os colmos estejam com maior acúmulo de açúcares (glicose, frutose e sacarose). Na colheita há um crescente aumento na mecanização, mas ainda predomina o corte manual com carregamento mecânico. A cana dever ser cortada rente ao solo, cortes ainda mais altos ou profundos prejudicam a rebrota. 
As folhas secas devem ser deixadas nas entrelinhas, servindo como cobertura de solo. Após, em média, quatro ou cinco cortes consecutivos, a lavoura canavieira precisa ser renovada, efetuando-se um novo plantio.

Pós Colheita:
  • FREITAS (2007) informa que após o corte, a cana é transportada por meio de caminhão ou carreta tracionada por trator. A cana deve ser armazenada em local sombreado e de temperatura amena, pois o a exposição ao sol pode favorecer a propagação de bactérias. O tempo entre a recepção da cana e seu processamento deve ser de no máximo 24 horas, após esse intervalo a perdas na qualidade da cana devido à deterioração e formação de alcoóis superiores.
O método de abordagem utilizado para o desenvolvimento desse trabalho foi o qualitativo. As pesquisas feitas acerca dos fatores relacionados ao cultivo da cana-de-açúcar classificam-se, quanto aos meios, como bibliográfica e, quanto aos fins, como descritiva e investigativa.
  • As pesquisas quanto aos meios bibliográficos referem-se às buscas de informações em livros, artigos, teses e publicações, pertinentes aos temas de plantio, cultivo e manejo da cana-de-açúcar.
As pesquisas investigativas foram realizadas na Usina Santa Terezinha na cidade de Iguatemi no Estado do Paraná, para se efetuar coleta de dados pertinentes ao assunto e posterior estudo de caso.
  • A pesquisa realizada acerca dos fatores relacionados ao cultivo da cana-de-açúcar foi realizada através de buscas em portais que possuem conteúdo aberto ao público, sendo eles o Portal de Periódicos Capes, Portal Scielo, Anais do Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), 
Anais do Simpósio de Engenharia de Produção (SIMPEP), e na biblioteca digital da USP, pelas palavras-chave: Plantio; Manejo; Colheita, e; Cultivo. Nas buscas por trabalhos não se estabeleceu um limite temporal.

Outras Considerações:
  • Verificou-se que é possível atribuir melhorias na produtividade e na qualidade da produção da cana-de-açúcar através da escolha certa da área e da variedade a ser cultivada, empregando técnicas de Engenharia da Sustentabilidade na busca de uma produção limpa que não agrida o meio ambiente.
Os tratos culturais devem seguir as exigências da planta, fazendo com que ela consiga absorver todos os nutrientes necessários desde a sua germinação até sua completa maturação, e também impedindo a proliferação de pragas e doenças que afetem o rendimento produtivo da cana.
  • A genética da cana-de-açúcar só vai realmente favorecer a produtividade e qualidade, quando forem seguidas todas as práticas adequadas de manejo associadas ao ambiente adequado a variedade da planta.
Não basta apenas produzir a cultura com qualidade. Após o corte os cuidados com a cana também são importantes, pois é nesse meio que ocorrem muitas das perdas nas propriedades físico-químicas da matéria. Portanto para uma boa produção canavieira deve haver uma conexão desde as informações iniciais sobre as características da planta até a sua chegada a indústria.

A Cana de açúcar 

  • Estudiosos têm afirmado que a humanidade não poderá contar com os combustíveis fósseis por muito tempo. Resultado da decomposição de organismos - quando as reservas atuais acabarem será preciso esperar milhões de anos até se formarem poços novos -, estes combustíveis causam grandes desequilíbrios ao meio ambiente por serem extremamente poluidores.
Diante desta problemática, os biocombustíveis estão cada vez mais em alta. Fabricados a partir de produtos agrícolas como cana-de-açúcar, mamona, milho e outros, seu índice de poluição é bem menor se comparado aos combustíveis derivados de petróleo.
  • De acordo com especialistas, esta fonte de energia é uma alternativa relativamente eficiente e proporciona ganho ambiental para todo o planeta. Também contribui para a diminuição de diversos problemas relacionados à emissão de gases e, assim, combate o efeito estufa. Porém, para um resultado satisfatório é preciso que haja uma substituição do uso dos combustíveis fósseis pelos biocombustíveis, ação que deve ser realizada gradativamente já que, conforme estudos, até 2050 o petróleo deve acabar.
Alguns fatores como o aumento na demanda de petróleo, dificuldade em suprir esta demanda, aumento do preço do petróleo e leis de proteção ao meio ambiente, estimularam a produção de biocombustíveis, em especial a produção de etanol. 
  • O setor sucroalcooleiro do Brasil tem despertado as atenções locais e do exterior. O etanol de cana-de-açúcar tornou-se referência quando o assunto é energia renovável e produtos agrícolas que obtiveram sucesso comercial. Impulsionado pelo aumento da frota de veículos “flex fuel” (bicombustíveis) e pela expectativa de aumento de exportação, considerando a meta de adição de etanol na gasolina utilizada em outros países, o setor sucroalcooleiro passou, e ainda passa, por grandes investimentos, visando aumentar a produção para suprir a demanda nacional e internacional.
Com a mistura do etanol à gasolina em outros países, o consumo deverá aumentar de tal forma que será necessário, além da ampliação das áreas de plantio, tomar medidas para elevar a produtividade, otimizando o processo de plantio, colheita da cana-de-açúcar, bem como a produção de etanol. Dessa forma, esse trabalho estuda a qualificação da mão-de-obra na implantação e eficiência da mecanização no setor agrícola sucroalcooleiro, buscando responder à seguinte questão: 
Quais são as qualificações necessárias para os trabalhadores com funções agrícolas, do setor sucroalcooleiro, que possibilitem a implantação eficiente da mecanização e tecnologias associadas, para contribuir positivamente com a ampliação e desenvolvimento desse setor? 
O cultivo de cana-de-açúcar no Brasil teve início ainda no período colonial, na primeira metade do século XVI, por volta de 1530, introduzida pelos portugueses. Nesse período, além de contribuir para o povoamento da região, principalmente litoral nordestino, o açúcar produzido tinha grande valor comercial na Europa e tornou-se uma importante fonte de renda para Portugal. 
  • O primeiro engenho foi fundado em São Vicente, São Paulo, em 1532, contudo, foi na região Nordeste que o número de engenhos mais ampliou, principalmente nos estados de Pernambuco e Bahia. Nos séculos XVI e na primeira metade do século XVII, o Brasil era grande produtor e exportador de açúcar bruto (FURTADO & SCANDIFFIO, 2007). Segundo Machado (2003), alguns fatores contribuíram para retirar do Brasil a posição de maior produtor e exportador de açúcar, dentre esses fatores estão: 
  • Na segunda metade do século XVII, os holandeses, após serem expulsos do Brasil, começaram a produção de açúcar no Caribe, tempo depois, os ingleses e franceses também começam a produzir açúcar, colocando fim no monopólio do açúcar do Brasil; 
  • No início do século XIX, devido ao bloqueio continental que impedia a Europa de receber açúcar de suas colônias, Napoleão incentivou a produção de açúcar de beterraba, deixando a Europa independente da importação de açúcar de cana de outros continentes. 
  • A revolução industrial proporcionou às novas indústrias de açúcar (de cana e beterraba) evolução tecnológica de produção e eficiência que os engenhos tradicionais não atingiam e o Brasil demorou a aderir às novas tecnologias;
Entretanto, mesmo perdendo capacidade de produção, os engenhos brasileiros proporcionaram, no período de 1500-1822, renda equivalente a quase ao dobro da renda obtida com o ouro e, se comparado ao que foi obtido com todos os outros produtos agrícolas, como café, algodão, madeira, etc., a renda com o comércio do açúcar chega a quase cinco vezes (MACHADO, 2003). 
  • Ainda segundo Machado (2003), a retomada do crescimento do setor iniciou-se a partir da primeira guerra mundial, quando as unidades produtoras da Europa foram devastadas, principalmente as que se localizavam ao norte da França, o que provocou o aumento no preço do açúcar e o surgimento de novas usinas no Brasil, principalmente em São Paulo onde os senhores do café pretendiam diversificar a produção. 
Nos últimos anos o aumento no preço do petróleo levou o mundo a buscar alternativas para a substituição do combustível fóssil, que representa uma fonte de energia não renovável. O etanol de cana-de-açúcar desponta como a principal promessa para essa substituição, pois figura-se como a solução mais barata para reduzir a emissão de gases de efeito estufa uma vez que o etanol de cana-de-açúcar produz oito vezes mais energia que a utilizada na sua produção (MACEDO, 2007b). A aposta é que a frota mundial de automóveis terá, necessariamente, que adotar a mistura gasolina e etanol nos próximos anos, seguindo o modelo pioneiro do Brasil (SALOMÃO & ONAGA, 2006). 
  • Em pouco mais de três anos, a venda de carros com motores bicombustíveis, “flex fuel”, teve grande avanço no mercado brasileiro (NASCIMENTO, 2006). Criado em 2003, os automóveis bicombustíveis avançaram rapidamente no mercado, chegando a representar 79,6% das vendas, em setembro de 2006, enquanto que os veículos movidos a gasolina tiveram queda nas vendas, representando 15,6% das vendas no mesmo período (JOSEPH JR, 2006). No ano de 2007, os automóveis e comerciais leves, do tipo “flex fuel” representaram praticamente 90% das vendas, segundo a União das Indústrias de Cana-de-açúcar (UNICA). 
A expectativa, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), é de que em 2013 cerca de 52% da frota brasileira seja de automóveis bicombustíveis. 
A competitividade das economias modernas e a globalização dos mercados levam as empresas a buscarem taxas cada vez mais elevadas de produtividade com os menores custos possíveis, o que, em geral, pode ocasionar a diminuição da oferta de vagas no mercado de trabalho e modificar o perfil requerido nessas vagas, necessitando de um menor número de pessoas com grau de qualificação mais elevado. 
  • As rápidas mudanças do mercado de trabalho exigem do trabalhador esforço constante de aprimoramento, forçando-o a se manter atualizado, dinâmico e capaz de se adaptar às bruscas, e muitas vezes profundas, mudanças do mercado de trabalho (PILATI & ABBAD, 2005). 
O setor sucroalcooleiro, após a significativa redução da intervenção estatal que teve início nos primeiros anos da década de 1990, buscou reestruturar-se através de estratégias de redução de custos e aumento da competitividade. Uma estratégia utilizada foi a fusão de empresas, inclusive com capital estrangeiro, levando ao crescimento de grupos econômicos do setor, alterando processos produtivos que interferem de forma importante no mercado de trabalho, como a terceirização de serviços agrícolas e a mecanização (MORAES, 2007). 
  • Uma das dificuldades que as empresas enfrentam é a falta de mão-de-obra capacitada. Um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em setembro de 2007, com a participação das federações da indústria de 22 estados (AC, AL, AM, BA, CE, ES, GO, MA, MG, MS, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RR, RS, SC, SE, SP e TO), com 949 pequenas empresas, 507 empresas de médio porte e 258 empresas de grande porte, apontou que a falta de mão-de-obra qualificada dificulta a competitividade da indústria. Alguns resultados desse estudo foram: 
Mais da metade das empresas industriais brasileiras tem problemas com a falta de mão-de-obra qualificada;
  • A área de produção é a mais prejudicada pela falta de mão-de-obra qualificada; 
No setor agrícola sucroalcooleiro a realidade não é diferente. As constantes inovações no campo, principalmente no que se refere ao plantio e à colheita da cana-de-açúcar, exigem pesados investimentos em tecnologia de plantio e de maquinários. Para que a tecnologia possa ser utilizada e aproveitada de forma eficaz é preciso dispor de mão-de-obra especializada. 
  • A empresa passa a exigir qualificação da sua mão-de-obra e os trabalhadores veem-se obrigados a se aperfeiçoar, ao mesmo tempo em que assistem à redução de suas vagas de trabalho, pois a mecanização e o aprimoramento tecnológico exigem trabalhadores mais qualificados, porém em menor quantidade (MATTOSO, 2000; CASTELHANO, 2005). 
Setor Sucroalcooleiro Paulista:
  • O setor sucroalcooleiro paulista produziu, na safra 2007/2008, 296 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, cerca de 60% da produção nacional, segundo dados da UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar), o que resultou na produção de 13,3 bilhões de litros de etanol (anidro e hidratado), correspondendo 59% da produção nacional, no mesmo período, que foi de aproximadamente 22,5 bilhões de litros.
Já na safra 2008/2009, a produção paulista de cana-de-açúcar alcançou 346 milhões de toneladas, resultando em 16,7 bilhões de litros de etanol, representando aproximadamente 61% da produção nacional em ambos os casos. Em relação à safra 2005/2006 o crescimento foi da ordem de 59% em São Paulo e 57% no Brasil. 
  • O estado de São Paulo possui, cadastradas no Departamento da Cana-de-açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), 196 unidades produtoras, sendo 06 unidades exclusivamente produtoras de açúcar, 62 unidades produtoras exclusivamente de álcool (destilarias) e 128 unidades que produzem açúcar e álcool (unidades mistas), segundo o levantamento de agosto de 2009 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2009). De acordo com o ranking de produção das unidades do estado de São Paulo, safra 2008/2009 (UNICA, 2009) são 169 unidades em atividade nessa safra. 
Segundo MAPA (2009), o número de unidades cadastradas no Brasil corresponde a um total de 423, sendo 248 mistas, 16 produtoras de açúcar e 159 destilarias. Estiveram envolvidos na colheita de cana-de-açúcar na safra paulista de 2006/2007, em torno de 163 mil trabalhadores, sendo que a produção de cana-de-açúcar para indústria está presente em mais de 400 municípios paulistas, aproximadamente 70,0% (IEA, 2008; CANASAT, 2009). 
  • Quando considerado o cultivo (plantio, colheita, tratos culturais, carregamento e transporte) da cana-de-açúcar, o número de empregados formais diretos é de aproximadamente 268 mil, 51,6% do total de cerca de 520 mil empregos gerados pelo setor, 
Verifica-se, ainda, que São Paulo é responsável por pouco mais da metade (53,9%) do total dos postos de trabalho envolvidos com o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil e que é de aproximadamente 500 mil empregos diretos. No total do setor, o seguimento paulista também tem presença expressiva, respondendo por 41,2% de todos os empregos gerados. 

O Meio Ambiente e a Cana-de-Açúcar:
  • Somada à importância econômica do setor sucroalcooleiro no Brasil e no estado de São Paulo, é preciso destacar a questão ambiental pelas imposições que tem trazido ao setor nos últimos anos. 
Cabe lembrar que o Tratado de Kyoto, documento assinado por 141 países em 1997 e ratificado em 1999, estabelece metas para a redução de gases poluentes que, acredita-se, estejam ligados ao aquecimento global (PNUD, 2005). A principal preocupação é com o dióxido de carbono liberado em larga escala por meio da queima de combustíveis fósseis e pelas queimadas em florestas e culturas agrícolas, como a cana-de-açúcar. 
  • A queimada da cana-de-açúcar antes da colheita é prática comum no Brasil e, segundo Paes (2007), é também utilizada em quase todos os 97 países que produzem essa cultura. A prática de despalha a fogo reduz o risco de ataques de animais peçonhentos e aumenta o rendimento do trabalho dos cortadores de cana. 
O Decreto do Governo Federal n° 2.661, de julho de 1998, prevê a extinção das queimadas para áreas mecanizáveis, até 2018. Em setembro de 2002 foi criada a Lei Estadual de Queima, nº 11.241/02 que prevê a eliminação gradual das queimadas no estado de São Paulo, para áreas mecanizáveis e áreas não mecanizáveis (com declividade acima de 12%). 
  • O Projeto Etanol Verde é um dos 21 Projetos Ambientais Estratégicos do Governo do estado de São Paulo, coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente (SMA), e que tem por objetivo estimular a produção sustentável de etanol, certificando as empresas sucro-energéticas que aderirem ao Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro Paulista (SMA, 2009), que foi assinado pelas Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura e Abastecimento, juntamente com a União da Indústria de Cana de Açúcar – UNICA. 
O Protocolo Agroambiental tem por objetivo antecipar o prazo para extinção das queimadas nas culturas de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, em relação ao previsto na Lei Estadual de Queima, nº 11.241/02. As datas previstas no Decreto Federal, na Lei Estadual e no Protocolo Agroambiental, para áreas mecanizáveis.
  • O Protocolo prevê antecipar o fim da queima da palha de cana-de-açúcar em áreas mecanizáveis, com declividade até 12%, de 2021 para 2014 e, também, prevê que em 2010 o percentual de cana sem queima seja de 70%, contra 50% de cana crua, previsto na Lei Estadual em 2011. 
O Decreto Federal não prevê a extinção das queimadas para áreas, atualmente, não mecanizáveis. As datas previstas, na Lei Estadual e no Protocolo Agroambiental, para áreas não mecanizáveis.Para áreas atualmente não mecanizáveis, com declividades maiores que 12%, o Protocolo Agroambiental antecipa de 2031, para 2017, o prazo para a eliminação total das queimadas, e o percentual de cana crua, que era de 10% em 2011, passou para 30%, já em 2010. 
  • O Protocolo também estipula que as áreas de expansão da cultura de cana-de-açúcar não devem utilizar a prática da queima. É importante ressaltar que o Protocolo Agroambiental não tem a força da Lei Estadual, configura-se como um acordo e não substitui a Lei nº 11.241/02(Lei Estadual de Queima), porém, segundo informações veiculadas na página da internet da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, em novembro de 2008, 149 agroindústrias e 23 associações de fornecedores de cana aderiram ao Protocolo, o que representava 90% da produção na época, ainda segundo dados da Secretaria Estadual. Um dos principais objetivos de colher a cana crua (sem queima prévia) é evitar a emissão de CO2 e particulados, que causam diversos problemas respiratórios, prejudicando a saúde dos trabalhadores e moradores das regiões produtoras. 
A queima da cana-de-açúcar também produz a emissão de CH4, CO, N2O e NO, além de gerar compostos orgânicos, como os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), altamente cancerígenos (GONÇALVES, 2005). As queimadas também resultam em perda da sacarose pela exsudação, danos à fauna local, com a morte de animais silvestres e danos ao solo, com a queima do pallhiço que deixa o solo descoberto permitindo assim a ação de agentes erosivos, principalmente das águas da chuva (ROSSETO, 2009). 

Perfil da Mão-de-Obra do Setor Sucroalcooleiro:
  • O trabalho na cultura de cana-de-açúcar tem características que demanda grande esforço físico, predominando a presença de trabalhadores do sexo masculino, com baixa escolaridade e com baixa média de idade. 
Com a mecanização da lavoura de cana, principalmente da colheita, a faixa etária dos trabalhadores elevou-se, encontrando-se atualmente entre 20 e 50 anos, com maior ênfase na faixa de 20 a 30 anos. Esse aumento na faixa etária foi na direção do aumento do número de trabalhadores para além da meia idade, tanto na faixa dos 20 aos 30 anos quanto na dos 40 aos 50 anos. Houve também uma redução no trabalho infantil, verificado por Oliveira, F. (2009).
  • Em 1981, as pessoas entre 10 e 15 anos e entre 15 e 20 que trabalhavam na lavoura de cana de açúcar representavam, respectivamente, 15,3% e 20,6% do total da mão-de-obra ocupada;em 2007 esse percentual equivalia a 0,8% para a faixa entre 10 e 15 anos e a 9,7% para a faixa etária entre 15 a 20 anos,

O trabalho na cultura de cana-de-açúcar tem características que demanda 
grande esforço físico, predominando a presença de trabalhadores 
do sexo masculino, com baixa escolaridade 
e com baixa média de idade.