sábado, 18 de outubro de 2014

O Planejamento de Hidrelétricas na Bolívia

O Planejamento de Hidrelétricas

  • A finalidade do projeto de barragens é melhorar a qualidade de vida e do bem estar do ser humano de forma sustentável. A construção de barragens pode ter muitos propósitos, como: o controle de enchentes, o abastecimento de água, a irrigação, a geração de energia, a navegação e a recreação. 
Segundo o relatório da “United Nations Environment Programme” (UNEP), no período de fevereiro de 2005 a maio de 2006, 40% das terras irrigadas no mundo dependiam das barragens, e destas terras são obtidos aproximadamente 17% da produção mundial de alimentos.
  • Das mais de 45.000 grandes barragens do mundo, aproximadamente 20% foram construídas para fornecimento de água, e abastecem cidades como Manchester, Singapura, Hong Kong. A água para uso doméstico e industrial é fornecida por 12% das grandes barragens existentes. As barragens para geração hidrelétrica produzem de 17% a 19% da eletricidade mundial.
Segundo o Plano de Aplicação da “Cumbre Mundial” sobre o desenvolvimento sustentável realizado em Johannesburgo, Sul África, pela Organização de Nações Unidas (ONU, 2002), a energia hidrelétrica é uma das tecnologias energéticas mais limpas, eficientes, accessíveis e rentáveis necessária para os países em processo de desenvolvimento.
  • Vale ressaltar que as barragens não trazem somente benefícios, pois junto com os benefícios vêm os impactos que se refletem nos ecossistemas, na saúde e na sociedade. A “World Commission on Dams” (WCD) afirma que 61% dos rios do mundo estão fragmentados por barragens, 50% das planícies de inundação foram perdidas e 33% das espécies animais de água doce estão em perigo ou extintas (Pritchard, 2000). 
No entanto, sob o ponto de vista das mudanças climáticas globais, a hidroeletricidade é tida como uma alternativa pouco poluente que contribui para a redução da emissão de gases de efeito estufa e, conseqüentemente, para a sustentabilidade ambiental do planeta (Ghilardi, 2003). Vladut (2000) também argumenta que a construção de barragens deve continuar, mas agora as novas barragens deverão ser construídas utilizando os conhecimentos sobre impactos ambientais, impactos contra a saúde e a sociedade. 
  • Desta forma é necessário redefinir o papel das barragens para poder garantir a sustentabilidade dos projetos futuros.
Segundo os dados de OLADE (“Organización Latinoamericana de Energia”), a América Latina tem um grande potencial hidrelétrico do qual só aproveita pouco menos da quarta parte e em muitos países esse potencial está quase intacto (Rios, 2006). 
  • O grande representante latino americano da hidroeletricidade é o Brasil, que deve grande parte de seu crescimento econômico ao uso da energia hidrelétrica com uma participação maior a 75% na produção de energia nacional. 
A partir do crescimento da produção da energia hidrelétrica se desenvolveu todo um pólo industrial no Estado de São Paulo que o converteu na capital industrial do Brasil e numa das cidades mais importantes de América Latina e do mundo.
  • De acordo com as características das finalidades das barragens, pode ser destacado que a construção em países como a Bolívia será fonte de desenvolvimento, mas para isso deve ser conhecido o seu potencial hidrelétrico. Neste sentido, é importante ressaltar que a Bolívia é um país com uma grande superfície, 1.098.581 km2 e uma povoação pequena. 
De acordo com os dados do “Instituto Nacional de Estadística” (INE, 2008) são pouco mais de 10 x 106 de habitantes, os maiores centros urbanos nas décadas passadas não superavam 1 x 106 de habitantes, e é por isso que não houve muito investimento na construção de barragens até os dias de hoje.
  • A grande quantidade de recursos hídricos, tanto superficiais como subterrâneos, têm sido aproveitados em uma escala muito pequena (Van Damme, 2002). Um dos mais importantes recursos nacionais é a água, elemento vital que apresenta grande contraste nas distintas regiões do país. 
Enquanto no sudeste se desenvolve uma dramática batalha para atingir este apreciado recurso, o noroeste é cenário de uma permanente luta contra o excesso de água, que causa perigosas enchentes. Este cenário é intensificado ainda mais com o fenômeno natural de “El Niño” e “La Niña”. 
  • Atualmente, a construção de barragens na Bolívia é realizada principalmente para propósitos de irrigação, e em segundo plano vem a geração de energia, abastecimento de água para usos urbanos e também, para Projetos de uso múltiplo (Montes de Oca, 2005).
Segundo um estudo realizado pela “Empresa Nacional de Electrificación” (ENDE, [1993]) e outros Organismos Internacionais (ORSTOM, IRD, CONAPHI, UNESCO) o potencial hidrelétrico bruto da Bolívia alcança os 334 GW de potência, mas ninguém sabe da localização desse documento porque desapareceu dos arquivos da empresa [ENDE] no processo de privatização. 
  • Desta forma, só se tem conhecimento do potencial hidrelétrico pelos resultados do estudo que foram publicados nos diários de memória desta empresa.
De acordo com Montes de Oca (2005), a região com maior recurso hidroelétrico é a Cordilheira Oriental dos Andes, enquanto na região Amazônica boliviana os rios dispõem de grandes vazões, mas com pequenas quedas. 
  • Dado que os recursos hídricos estão pouco explorados na Bolívia, a potência instalada nas diferentes centrais hidrelétricas alcança os 475 MW com os quais se produz o 47% da energia do Sistema Interconectado Nacional (SIE, 2007), o que supera apenas o 1% do potencial hidrelétrico (Montes de Oca, 2005). 
O serviço de eletricidade não chega a muitas áreas rurais (INE, 2008), e os resultados do único estudo feito do potencial hidrelétrico nacional só é conhecido por referências bibliográficas e alguns mapas temáticos.
  • É imprescindível conhecer o potencial energético de um país com a finalidade de definir que caminhos optar para atingir o desenvolvimento. A Bolívia necessita de uma Matriz Energética similar a implantada no Brasil, a eletricidade é uma necessidade mundial, vital para o crescimento de um país em processo de desenvolvimento. 
É por isso que conhecer o potencial hidrelétrico nacional pode ser de grande importância porque propiciaria oportunidades para fazer novos aproveitamentos hidroelétricos. Isto implicaria num incremento da oferta de energia que com um bom planejamento, se veria traduzida em novas fontes de emprego e na melhoria da qualidade de vida de todos os bolivianos.

O Planejamento de Hidrelétricas

Planejamento de Barragens:
Generalidades:
  • Segundo o relatório da “World Commission on Dams” (WCD, 2000) entre as décadas de 1930 a 1970 as barragens foram vistas como sinônimo de desenvolvimento, progresso e modernização. Os benefícios eram imediatos: energia elétrica mais barata, irrigação, controle de enchentes. Além disso, as barragens tinham benefícios secundários e terciários para justificar as enormes inversões como a geração de empregos locais, eletrificação rural, construção de rodovias e escolas.
As diretrizes para a construção de barragens adotadas no século XX, eram diferentes das empregadas atualmente. A maioria das grandes barragens que foram construídas na década de 1940 tinham seus projetos centrados na viabilidade econômica, ou seja, em saber qual seria o valor da energia a ser gerada e qual a quantidade de água disponível para a indústria e o preço. Neste sentido econômico, a pergunta era: seria útil gastar uma grande quantia de dinheiro para evitar o risco de enchentes? (Ford, 2005).
  • A partir de 1970, a construção mundial de barragens aumentou tanto que eram inauguradas duas a três barragens por dia. Essa década foi o ponto máximo da construção de barragens já que com o decorrer dos anos se foi ganhando experiência e se obteve maior informação sobre o desenvolvimento e desempenho delas. Na década de 1990, os impactos gerados pelas barragens sobre as bacias e nos ecossistemas foram o foco de artigos e publicações.
Com tudo isso a construção de barragens foi vista como uma preocupação pública grave e começou um debate global entre os custos e benefícios que elas traziam. Estima-se em 40 x 106 ou 80 x 106 o número de pessoas deslocadas por barragens, e também que 60% dos rios do mundo foram afetados ou desviados por algumas delas (WCD, 2000).
  • Atualmente, na maioria dos países se dá muita consideração ao impacto de qualquer projeto de barragem sobre as pessoas que moram dentro da área a ser inundada, na flora e fauna da bacia hidrográfica, e sobre tudo, à amplitude dos impactos ambientais (Ford, 2005).
Segundo a “International Commission of Large Dams” (ICOLD, 2006) as barragens podem ser classificadas em três tipos: 
  1. Grande barragem com altura maior que 15 m e/ou com capacidade de armazenamento igual a 3.000.000 m3; 
  2. Pequena barragem é aquela com capacidade de armazenamento até 100.000 m3 contabilizando umas 100.000 pequenas barragens no mundo; 
  3. Barragens com capacidade de armazenamento menor que 100.000 m3 , que são milhões no mundo inteiro. A capacidade de armazenamento total de todas as barragens construídas é quase de 7.000 km3 dos quais 98% são armazenados por grandes barragens.
Benefícios das barragens:
  • No mundo inteiro se tem promovido barragens para satisfazer necessidades humanas como o fornecimento de água e a geração de energia. 
Outros benefícios que trazem as barragens são o desenvolvimento regional, criação de empregos, irrigação, recreação, controle de enchentes, a venda direta de eletricidade, ou com a venda de colheitas ou de produtos eletrointensivos (WCD, 2000). 
  • Entre os benefícios estão o fornecimento de água para uso urbano, a geração de energia hidrelétrica, a recreação e a irrigação. Já nos impactos, tem-se a sedimentação nos reservatórios, a produção de gases do efeito estufa, a perda do habitat e patrimônios culturais, o protesto de pessoas reassentadas, a erosão do leito do rio, a redução do estoque de peixes e a salinidade dos solos.
A barragem de Grand Coulee (EUA) tem um reservatório de 333 km² de área capaz de armazenar 11794 x 106 m³, enquanto o reservatório da barragem Kariba (Zâmbia e Zimbabué) tem um área de 5,577 km² e um volume de 180600 x 106 m³, o reservatório de Tarbela (Paquistão) inunda uma área de 260 km² com um volume de 13900 x 106 m³, o volume do reservatório de Aslantas é de 1150 x 106 m³ inundando uma área de 49 km², a barragem de Tucurui (Brasil) tem uma área do reservatório de 2.875 km² armazenando um volume de 45,8 x 106 m³.
  • Um benefício que as barragens podem buscar com a formação do reservatório é a melhoria do ecossistema para a fauna e flora nativa, alguns reservatórios sustentam répteis totalmente ameaçados como o reservatório da barragem de Hillsborough em Trinidade e Tobago, e outras têm sido declarados de sítios “Ramsar” de importância internacional para as aves como o reservatório de Gladhouse no Reino Unido. 
Os reservatórios destas barragens fornecem refugio na estação seca para muitas espécies de aves aquáticas nas regiões semi-áridas. Eles também podem sustentar um intervalo mais restringido de espécies, geralmente as mais comuns (WCD, 2000). Um exemplo é a barragem Andévalo de Espanha, onde de acordo com Milans (2004) será criada uma ilha flutuante para nutrias e aves aquáticas, a qual terá o acesso restrito às 365 ha delimitadas pelo reservatório de Chanza e o corpo da barragem.
  • Outro caso importante, se bem muito questionado, é o Projeto das Três Gargantas (TGP) que é uma das grandes obras do mundo, não só pelo papel significativo que terá no desenvolvimento da Republica de China mais também, pelos impactos ambientais a serem provocados com a construção da barragem. 
No Sul da China tinham problemas com as inundações (muitas mortes), enquanto que no norte os problemas são a falta de água e o crescimento econômico da região. O TGP é uma peça chave de um grande plano de desenvolvimento desenhado para criar um balanço entre áreas com abundância de água e outras com déficit, melhorando em forma gigantesca o ambiente de milhões de pessoas (Jones e Freeman, 2005). 
  • Visando esse plano de desenvolvimento, a barragem de Três Gargantas foi construída por três razões principais: controle de enchentes, geração de energia e navegação. Durante 2.200 anos, desde o começo da Dinastia Han até o fim da Dinastia Qing em 1911, aconteceram 214 cheias, com uma média de uma a cada 10 anos (Rushu, 2003). No século passado, ocorreram cinco grandes enchentes. Desta forma, a construção de TGP trará benefícios diretos à população afetada com as inundações.
A produção de eletricidade do TGP é particularmente significante nos planos de desenvolvimento do governo Chinês para a região oeste do país. O projeto estabelece uma capacidade instalada de 18.200 MW, na primeira etapa, e uma produção anual de 84,68 M GWh. 
  • A hidroeletricidade produzida irá a substituir 50x106 de toneladas de carvão cru que são queimados anualmente pelas usinas termoelétricas. Isto provavelmente, diminuirá a emissão em aproximadamente de 100 x 106 t de CO2, 2 x 106 t de SO2, 100.000 t de CO e 370.000 t de NOx. e aprimorará o meio ambiente do Leste e Centro da China, especialmente na prevenção de chuva ácida e na diminuição de gases do efeito estufa (Rushu, 2003; 2004). 
O reservatório aprimorará consideravelmente a navegação a montante, elevando o nível do rio entre as cidades de Chongqing, e a cidade de Yichang que fica a jusante da barragem. Esta parte do rio se caracteriza por ter bancos de areia fazendo com que a velocidade do rio seja muito alta e limitando a navegação só numa direção de tráfego, praticamente é impossível passar por este rio durante uma boa época do ano.
  • Com a elevação das águas devido ao reservatório, a velocidade diminuirá e os bancos de areia serão inundados (Jones e Freeman, 2005). Isto permitirá que as pequenas embarcações possam viajar até os portos de Chongqing a montante da barragem. 
Os grandes navios poderão chegar até estes portos, o que incrementará a capacidade de passo de Chongqing de uma via de 10 x 106 de toneladas atuais a 50x106, e também diminuirá em 35%, o custo do transporte. O TGP irá promover o desenvolvimento da piscicultura no reservatório, tanto como o turismo quanto as atividades recreativas (Rushu, 2004).
  • Embora o governo Chinês tenha estudado o TGP por mais de 50 anos, três gerações de equipe de pesquisadores tenham avaliado os diferentes impactos que poderiam ser gerados e que sejam tomadas todas as precauções para minimizar os mesmos, milhões de pessoas serão afetadas junto com a perda de patrimônios culturais e ecossistemas. 
Espera-se que os Benefícios sejam mais altos que os Impactos a ser gerados, porque no final é o povo Chinês que vai aproveitar dos benefícios e sofrer os impactos, para posteriormente definir se o TGP foi uma boa opção ou não.


O Planejamento de Hidrelétricas