quinta-feira, 13 de março de 2014

O Papilomavírus humano - HPV

A vacina de HPV, que atua contra o papilomavírus humano (HPV), tem atraído a atenção por dois motivos contraditórios: o governo japonês retirou sua recomendação para tomar a injeção, enquanto as autoridades de saúde pública nos Estados Unidos atribuíram a queda acentuada na prevalência do vírus entre adolescentes ao seu uso.

  • O papilomavírus humano, conhecido também como HPV, é um vírus que se instala na pele ou em mucosas e afeta tanto homens quanto mulheres. Atualmente, a infecção por HPV é a doença sexualmente transmissível (DST) mais frequente, ou seja, é a principal infecção viral transmitida pelo sexo.
Na maioria dos casos, o HPV não apresenta sintomas e é eliminado pelo organismo espontaneamente. Entretanto, entre os mais de 100 tipos diferentes de HPV existentes, 30 a 40 podem afetar as áreas genitais de ambos os sexos, provocando diversas doenças, como as verrugas genitais, os cânceres de colo do útero, vagina, vulva, ânus e pênis. Além disso, provocam tumores na parte interna da boca e na garganta (orofaringe), tanto benignos (como a papilomatose respiratória recorrente) quanto malignos, como os cânceres de orofaringe.

O que é papilomavírus humano (HPV):
  • Quatro tipos de HPV são mais frequentes e causam a grande maioria das doenças relacionadas à infecção. Os HPV tipos 16 e 18 causam a maioria dos casos de câncer de colo do útero em todo o mundo (cerca de 70%). Eles são responsáveis também por até 90% dos casos de câncer de ânus, até 60% dos cânceres de vagina e até 50% dos casos de câncer vulvar. Já os tipos 6 e 11 causam aproximadamente 90% das verrugas genitais, um dos problemas de saúde mais comuns e com taxas crescentes em todo o planeta, e cerca de 10% das lesões de baixo grau do colo do útero.
O Contagio:
  • A transmissão ocorre por contato direto com a pele infectada. O HPV é altamente contagioso, sendo possível contaminar-se com uma única exposição. Qualquer pessoa que tenha qualquer tipo de atividade sexual, incluindo o contato genital, pode contrair o HPV. Embora seja raro, o vírus pode propagar-se também por meio de contato com mão, pele, objetos, toalhas, roupas íntimas e até pelo vaso sanitário. Como muitas pessoas portadoras do HPV não apresentam nenhum sinal ou sintoma, elas não sabem que têm o vírus, mas podem transmiti-lo.
Segundo o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Edson Moreira, a camisinha tem um papel relevante na contenção de DSTs, mas não evita totalmente o contágio pelo HPV, que pode ocorrer mesmo sem penetração, porque o vírus também está na pele da região genital. Calcula--se que o uso da camisinha consiga barrar apenas entre 70% e 80% das transmissões do HPV. “Dessa forma, é muito importante que as pessoas tenham acesso a informações sobre o vírus, fatores de risco e formas de prevenção, tais como a realização dos exames periódicos de Papanicolaou e vacinas”, explica.
  • Estima-se que muitas pessoas adquirem o HPV nos primeiros dois ou três anos de vida sexual ativa. Dois terços das pessoas que tiveram contato sexual com um parceiro infectado desenvolverão uma infecção pelo HPV no período de três meses, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).Evidências recentes indicam que cerca de 50% das mulheres adquirem o HPV meses antes da primeira relação sexual, provavelmente devido ao contato mais íntimo com seu parceiro.
Manifestação:
  • O HPV pode ficar no organismo durante anos de maneira latente (forma adormecida sem manifestação). Em uma pequena porcentagem de pessoas, determinados tipos de HPV podem persistir durante um período mais longo, permitindo o desenvolvimento de alterações das células, que podem evoluir para as doenças relacionadas ao vírus.
Essas alterações nas células podem causar verrugas genitais, vários tipos de cânceres, como os de colo do útero, vagina, vulva, ânus, pênis e orofaringe, bem como a papilomatose respiratória recorrente (PRR).

O Papilomavírus humano:
  • O Papilomavírus humano (HPV) pertence à família dos Papovavírus ou Papovaviridae e é responsável por uma infecção de transmissão sexual, conhecida como condiloma acuminado, verruga genital ou também crista de galo. Há cerca de 120 tipos, sendo que 36 deles podem infectar o trato genital.
A transmissão do HPV acontece por contato direto com a pele infectada e dos HPVs genitais, por meio das relações sexuais, podendo causar lesões na vagina, no colo do útero, no pênis e ânus. Também existem estudos que demonstram a presença rara dos vírus na pele, na laringe (cordas vocais) e no esôfago.
  • Por seu papel na etiologia do câncer, e observando os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a incidência e a mortalidade dos tumores mais malignos, estima-se que o vírus possa estar ligado ao desenvolvimento de, no mínimo, 10 a 15% das neoplasias que acometem o homem.
O diagnóstico do HPV é feito pela identificação da presença de verrugas que, caso estejam presentes, devem ser retiradas. Nos casos em que as verrugas não são visíveis a olho nu, é feito o diagnóstico pelos exames de peniscopia no homem, e colposcopia na mulher; esses exames são considerados os melhores testes para o diagnóstico, já que a maioria das lesões (80%) é descoberta por meio deles. Em ambos os exames, é colhido material para análise biológica.
  • Já o diagnóstico subclínico das lesões precursoras do câncer do colo do útero, produzidas pelos Papilomavírus, é feito através do exame preventivo de Papanicolau e é confirmado por meio de exames laboratoriais de diagnóstico molecular, como o teste de captura híbrida.
Esses dados deixam clara a importância da prevenção da contaminação pelo HPV que se dá, principalmente, pela interrupção da cadeia de transmissão, ou seja, pela prevenção da infecção propriamente dita e pela eliminação das lesões causadas pelo vírus. A informação da população sobre os fatores de risco associados ao comportamento sexual, por meio de atividades educativas, é importante para o controle da transmissão. O uso do preservativo nas relações sexuais é uma das principais formas de reduzir, porém não elimina o risco de contaminação pelo HPV.
  • As vacinas são também muito eficazes na prevenção da infecção por este vírus, principalmente quando administradas no início da vida sexual, pois os adolescentes e pré-adolescentes são sexualmente imaturos e adquirem boa resposta imune. Estas vacinas não alteram o curso da doença preexistente, porém protegem a mulher das cepas às quais não foi exposta. Como a infecção é adquirida após o início da atividade sexual, a vacina é recomendada para mulheres que ainda não iniciaram essa atividade, sendo a idade recomendada os 12 anos, podendo ter início a partir dos nove anos.
Identificou-se que o início da atividade sexual tem acontecido mais cedo nas últimas décadas, fato que sugere uma importante causa para o aumento da prevalência de HPV e as lesões causadas por sua infecção. Adolescentes que são sexualmente ativas apresentam as taxas mais altas de infecções incidentes e prevalentes por HPV, variando entre 50 e 80% de infecção, a partir de dois a três anos do início da atividade sexual.
  • Na adolescência, as relações acontecem com um maior número de parceiros, o que contribui para o aumento da ocorrência das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Assim, sem a busca pela prevenção, a patologia pode ser disseminada de um adolescente para o outro, aumentando o número de pessoas contaminadas, sendo esta situação um problema de saúde pública.
Junto com a grandeza do problema da infecção por HPV, está o desconhecimento sobre o próprio vírus, os sinais e sintomas da infecção, sua relação com o câncer cervical e as formas de transmissão.
  • A falta de informações adequadas a respeito do HPV pode influenciar na formação de concepções errôneas que podem interferir de forma negativa no comportamento daquele que é portador do vírus, e das pessoas que fazem parte do seu contexto social. Muitas vezes o indivíduo só vem saber do que se trata o HPV, quando já está contaminado e procura tratamento.
Pesquisa com adolescentes mostra que eles possuem conceitos errôneos sobre o HPV, como os de que o HPV é uma doença que pode ser adquirida por transfusão sanguínea, por compartilhamento de agulhas e seringas injetáveis ou por convivência com pacientes infectados. Outras concepções equivocadas também são desenvolvidas, como a crença de que o HPV só pode ser transmitido do homem para a mulher e o mito de que o HPV é uma doença de mulheres promíscuas.
  • Informar e conscientizar os adolescentes sobre o HPV e os riscos associados, assim como sobre as formas de prevenção, possivelmente contribuirá para reduzir a contaminação por esse vírus.
Apesar de não haver evidências de que os preservativos são eficazes na prevenção do contágio pelo HPV, seu uso diminui a chance de contaminação pelo vírus, além de o sexo seguro, junto com a mudança do comportamento sexual ser importante estratégia para o controle da cadeia de transmissão de outras DSTs e do HIV.
  • O objetivo deste estudo foi identificar o nível de conhecimento entre adolescentes, estudantes de graduação em enfermagem, sobre os fatores relacionados às DST-HPVs, como sintomas, transmissão, prevenção e a fonte de aquisição desses conhecimentos, além de investigar entre esses adolescentes, se aqueles que mantêm relações sexuais praticam sexo seguro.
Em pesquisa realizada com estudantes de enfermagem, os autores observaram a importância da orientação sobre sexualidade, pois esta contribuiu para a formação profissional e também pessoal de cada estudante, minimizando tabus e esclarecendo dúvidas, uma vez que mesmo profissionais da saúde podem estar sujeitos a se contaminar e a transmitir DSTs.
  • Nesse sentido, a enfermagem é uma classe profissional que se preocupa com as ações de educação em saúde, e que pode trabalhar com jovens em diferentes setores e segmentos sociais, com o objetivo de prevenir a exposição ao risco.
Além de todas essas considerações, estudar e trabalhar em uma escola de enfermagem, que é o caso das autoras deste estudo, estimula a conhecer a realidade dos alunos em relação ao conhecimento sobre o HPV e as formas de prevenção de que se utilizam. Os resultados desta investigação científica poderão suscitar novas formas de instrumentalizá-los para isso e orientá-los no atendimento à população de risco para adquirir o HPV.

Mulheres, homens e até crianças são suscetíveis ao HPV. Estima-se que pelo menos metade das pessoas sexualmente ativas já teve contato com o vírus. A vacina tem 100% de eficácia e pode ser aplicada a partir dos 9 anos.

Considerações:
  • Os resultados do presente estudo corroboram os de outros autores, quando estes apontam para o início mais tardio da atividade sexual, como uma consequência do projeto de vida diferenciado dos adolescentes que têm por meta o estudo universitário. Assim, provavelmente o objetivo do ingresso em uma universidade pública, a priorização dos estudos, a maior preocupação com o futuro e a aquisição de responsabilidade do universitário tenham favorecido tal situação.
É importante, no entanto, observar que o número de adolescentes que iniciam atividade sexual, ainda nesta fase de suas vidas, é superior ao de algumas décadas passadas. Além disso, há o estímulo que a mídia oferece para que este início seja precoce, e nem sempre é reforçada a importância do sexo seguro, o que favorece a contaminação pelo HPV, a ocorrência das mais variadas DSTs e, posteriormente, o câncer de colo de útero. O Ministério da Saúde afirma que a atividade sexual iniciada ainda na adolescência contribui para gestações precoces e ainda repetidas nesta fase do ciclo vital.Consequentemente, a contaminação pelo HPV e suas consequências também se encontram entre essas “contribuições”.
  • As adolescentes entrevistadas para esta pesquisa mostraram que têm o conhecimento de que o uso do preservativo é sinônimo de sexo seguro, e a maior parte delas relata seu uso na atividade sexual.
Entretanto, uma parcela significativa revela que não o faz frequentemente, levando a entender que muitas relações sexuais acontecem sem proteção.
  • Adicionando essas informações às características da amostra, de adolescentes solteiras, com vida sexual e parceiros eventuais, pode-se considerar que estão expostos a um fator de risco importante para o contágio do HPV e de outras DSTs, além da possibilidade de ocorrência de gestações indesejadas.
Nesse sentido, estudos demonstram que os adolescentes, em geral, sabem que o preservativo evita doenças e gravidez, entretanto não o utilizam, fato que demonstra a existência de uma enorme falha entre o nível de conhecimento e o uso efetivo da camisinha.
  • Pesquisa realizada em dez escolas do Rio de Janeiro, com 945 estudantes de 13 a 21 anos de idade, mostrou que, embora 94% deles reconheçam a proteção que o uso do preservativo confere, apenas 34% declaram usá-lo sempre, associando a este comportamento de risco o baixo grau de conhecimento sobre DSTs.
Os adolescentes apontaram desvantagens do uso do preservativo, apresentando-se entre as principais, o desconforto e a diminuição da sensibilidade. Também foi evidenciado que estes utilizam o preservativo, somente como método anticoncepcional, não atentando para a prevenção de DST.
  • Essas afirmativas levam a identificar o déficit que existe entre conhecimento e informação transmitida, o que acaba produzindo uma lacuna no processo educacional de prevenção de DST entre os adolescentes. Esses dados ficam aparentes quando os participantes foram questionados quanto ao conhecimento que possuíam sobre o HPV, sua transmissão, sinais e sintomas e suas consequências. Percebeu-se que eles reconhecem o HPV como uma DST, porém mais da metade não conhece seus sinais e sintomas e o que pode causar, como o câncer de colo de útero.
Resultados de outros estudos semelhantes corroboram essas afirmações, como o que foi realizado com um grupo de adolescentes, indagados sobre as principais DSTs. Os autores constataram que a Aids foi muito citada, porém as outras DSTs e a problemática da contaminação pelo HPV foram pouco referidas pelos adolescentes.
  • Quanto ao câncer de colo de útero, estudos demonstraram que a zona de transformação da cérvix, na qual as células colunares podem sofrer metaplasia escamosa, está mais exposta durante a adolescência do que na vida adulta. Esta área é mais suscetível à infecção por agentes patogênicos de transmissão sexual, inclusive pelo HPV, sendo a área a partir da qual se origina a maior parte das lesões precursoras e carcinomas cervicais. A menor produção de muco cervical, que pode atuar como uma barreira protetora contra agentes infecciosos, associada à maior área de ectopia cervical em adolescentes, é fator biológico de risco para a infecção pelos agentes patogênicos, inclusive o HPV.
O que é de grande importância e deve ser levado em consideração é que as lesões precursoras do câncer do colo uterino, na população de adolescentes, envolvem fatores não apenas biológicos, mas também culturais e sociais. Em estudo realizado com adolescentes, os autores relataram que ainda se evidenciam muitos mitos, preconceitos e fantasias envolvendo a sexualidade. O baixo acesso ao conhecimento sobre as prevenções do câncer de colo uterino e sexualidade, no convívio familiar, deve ser compensado pela informação na sala de aula e em campanhas de educação em saúde.
  • No presente estudo, as adolescentes que referiram possuir conhecimento sobre o HPV revelaram que obtiveram esse conhecimento, na sua maioria, em consultas ao ginecologista e durante a graduação. Outro estudo, realizado também com universitários, mostrou que pequena porcentagem da amostra referiu ter recebido influência de familiares para a escolha do método contraceptivo. Isso reforça a afirmação de que ainda hoje existem barreiras para o diálogo entre pais e filhos, no que diz respeito às questões de sexualidade.
A desinformação das adolescentes vai ao encontro da omissão do papel da família na construção de uma sexualidade saudável. A falta de diálogo em família, até mesmo por falta de preparo dos pais para uma conversa aberta e de orientação para com os filhos, é uma situação que acaba influenciando as atitudes dos adolescentes que, muitas vezes, buscam nos amigos e em outras fontes informações que podem não ser fidedignas, baseadas em crenças e falta de conhecimento, que confundem e não ajudam no processo de prevenção e educação desses adolescentes em relação ao HPV e a outras DSTs.
  • Apesar de se observar entre estudantes universitários um início mais tardio da atividade sexual, o Ministério da Saúde brasileiro afirma que o número de adolescentes que iniciam atividade sexual, ainda nesta fase de suas vidas, é superior ao das últimas décadas, que a mídia estimula que este início seja precoce e que nem sempre é reforçada a importância do sexo seguro, o que favorece a contaminação pelo HPV e suas consequências. Família, escola e governo têm papéis complementares e fundamentais na formação dos adolescentes, no sentido de educá-los para atitudes responsáveis no exercício de sua sexualidade, protegendo-os contra danos à sua saúde física e mental e, neste caso, em especial, evitando que se contaminem com o HPV, outras DSTs e que se vejam diante de gestações não planejadas.
Outras considerações:
  • As adolescentes participantes deste estudo estavam inseridas em um curso de graduação da área da saúde, portanto esperava-se que a maioria estivesse adequadamente informada quanto aos sinais e sintomas e sobre a relação do HPV com o câncer de colo de útero, e o estudo mostra que parte delas não sabe, ao menos, o significado da sigla HPV ou o que ele pode causar e não conhece as formas de transmissão do vírus. E ainda, menos da metade das entrevistadas conhece os sinais e sintomas provocados pelo HPV. Evidencia-se, dessa forma, que deve haver um maior investimento na educação dos jovens para promoção à sua saúde e prevenção de doenças, em particular, as DSTs, com destaque para o HPV. Este estudo implica em encontrar novas formas de instrumentalizar os adolescentes para que conheçam melhor as consequências da contaminação pelo HPV e de orientá-los no atendimento à população de risco para adquirir o vírus. 
Como limitações do estudo podem ser citadas duas questões que podem ter interferido nos resultados, sendo elas: 
  1. O estudo foi realizado com alunas da área da saúde que têm maior acesso a informações sobre a temática investigada; 
  2. As adolescentes entrevistadas ainda não haviam cursado disciplina que abordasse a temática de saúde da mulher, na qual essas questões são abordadas de forma detalhada. 

O papilomavírus humano, conhecido também como HPV